Estudo afirma que apenas a combinação entre a eletromobilidade e cidades compactas será capaz de brecar futuro catastrófico
Dados alarmantes sobre as mudanças climáticas são divulgados quase diariamente. Ainda assim, grandes empresas e governos parecem não ter pressa para resolver problemas relacionados à sustentabilidade, o que traz à lembrança um dos filmes mais comentados de 2021, Não olhe para cima.
Com direção de Adam McKay e a participação de grandes nomes, como Leonardo Di Caprio e Merryl Streep, a história reporta uma descoberta que previa um choque entre um grande cometa e a Terra, o que acabaria com a vida no planeta. Com um final inesperado e uma mensagem forte, o filme mostra como a descrença na ciência poderia dar um final trágico à humanidade.
A vida imita a arte?
O estudo O Cenário de Cidades Compactas Eletrificadas, realizado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IPTD) e pela Universidade da Califórnia, mostra que apenas a combinação entre a mobilidade eletrificada e a implementação de cidades compactas seria capaz de limitar o aquecimento global a menos de 2 °C.
Como referência, dados da Organização das Nações Unidas (ONU), apontam que, com um aumento de 2°C até o fim do milênio, o mar do Ártico poderá sofrer degelo, aumentando em até 0,77 metro o nível dos oceanos, ciclones tropicais podem ter intensidade ainda mais forte, entre outros tantos danos ao meio ambiente.
De acordo com o documento do IDPT, para cumprir os termos do Acordo de Paris e evitar essas mudanças climáticas catastróficas, as emissões anuais de dióxido de carbono equivalente do transporte precisam ser reduzidas em cerca de 80% nos próximos 30 anos.
Bifurcação para o futuro
Se o futuro está intimamente ligado à tecnologia, seja pela eletrificação do transporte, uso de 5G ou criptomoedas, por outro lado, de certa forma, traz uma volta ao passado com a necessidade da substituição modal, que se inicia pelas caminhadas aos destinos.
Para tanto, seria importante o desenvolvimento de cidades compactas, termo usado para cidades com densidade demográfica equilibrada, bom gerenciamento do uso e ocupação do solo e com possibilidade de diferentes formas de transporte, como desincentivo ao uso de automóveis.
“As nossas cidades foram planejadas para o uso do carro. E, por isso, é muito comum as pessoas acharem que a solução para o problema dos transportes e das emissões seria a eletrificação de carros particulares. Mas isso não resolverá o problema”, afirma Clarisse Cunha Linke, diretora executiva do ITDP Brasil.
Já Jacob Mason, um dos autores do relatório, complementa que o mundo precisa aplicar a mesma energia e dedicação para construir cidades compactas. “Caminhar, pedalar e usar transporte público são igualmente importantes se quisermos manter as mudanças climáticas abaixo de níveis catastróficos”, afirma o estudioso.
Cenário ambicioso
Para complementar, o relatório afirma que o modelo de eletrificação agregado à substituição modal é bastante ambicioso. Isso porque exigirá um grande esforço global, comparável, em cada país, à construção do sistema de rodovias interestaduais dos EUA na década de 1950, ou da rede ferroviária de alta velocidade da China em anos mais recentes.
Veja abaixo o que representaria um futuro com a combinação de eletrificação e substituição modal em cidades compactas:
• Redução das mortes no trânsito;
• Expansão do acesso a oportunidades para todos;
• Aumento do transporte a pé e em bicicleta, o que melhora a saúde física e mental da população e reduz os gastos com saúde pública;
• Redução acentuada da poluição atmosférica e sonora local;
• Redução considerável das emissões de carbono, o que é condizente com os termos do Acordo de Paris.
Políticas-chave necessárias:
• Incentivos para veículos elétricos do lado da oferta e da demanda, tais como isenções para veículos com emissão zero e descontos fiscais, visando à paridade do preço de compra;
• Metas ambiciosas de economia de combustível e normas para as emissões de escape de dióxido de carbono;
• Reuso e reciclagem de baterias;
• Infraestrutura pública de recarga;
• Expansão e descarbonização da rede elétrica;
• Fortes incentivos para um desenvolvimento compacto, de uso misto e voltado ao transporte público;
• Precificação de estacionamento com base no mercado;
• Realocação de orçamentos de transporte para beneficiar pedestres, ciclistas e pessoas que utilizam o transporte público;
• Reformulação das vias públicas, substituindo o espaço dedicado aos carros por faixas de ônibus, ciclovias fisicamente protegidas e calçadas;
• Promoção do transporte em bicicleta, especialmente bicicletas elétricas compartilhadas;
• Criação de áreas de baixa emissão, especialmente nos centros das cidades, para incentivar simultaneamente a substituição modal e a eletrificação dos veículos.
Fonte: Mobilidade Estadão