Qual é o caminho da infraestrutura e do ecossistema para veículos elétricos no Brasil? O Portal do Trânsito foi atrás da resposta.
No Brasil e no mundo, a pauta sobre veículos elétricos está cada vez mais em destaque. Seja em eventos de mobilidade, reuniões sobre o tema e publicações afins. No entanto, é importante compreender qual é o caminho da infraestrutura e do ecossistema para veículos aqui no país.
Neste cenário, o Portal do Trânsito ouviu com exclusividade o vice-presidente de Infraestrutura da Associação Brasileira do Veículo Elétrico – ABVE, Paulo Maisonnave, também Head da Enel X Way Brasil.
Maisonnave é mestre em administração, com foco em inovação no setor elétrico brasileiro, e engenheiro elétrico pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), com especialização em regulação e gestão de projetos elétricos pela Fundação Getúlio Vargas-RJ, IESE Business School (Espanha), SDA Bocconi (Itália) e Centro Robert Schuman de Estudos Avançados (Itália).
Boa leitura!
Portal do Trânsito – De modo geral, qual é o cenário da infraestrutura para veículos elétricos que temos no Brasil?
Paulo Maisonnave – O País tem criado sua infraestrutura de recarga com apoio do setor público e iniciativas privadas para atendimento da demanda inicial de veículos elétricos, seja nas cidades ou nas estradas.
O Brasil tem um grande potencial e uma série de vantagens para a criação de uma infraestrutura robusta e adequada à demanda de carros elétricos. Conta com uma matriz elétrica majoritariamente renovável. Além disso, um sistema de transmissão nacional interconectado por todo país e uma rede de distribuição capaz de absorver a demanda por energia para os veículos.
As grandes cidades contam com locais apropriados para estacionamentos de veículos, sejam nas residências ou em locais de interesse. Isso facilita a instalação de pontos de recarga de conveniência ou de oportunidade. Estes carregadores são mais lentos, no entanto, cumprem com a necessidade de recarga dentro das cidades em tempo e custo requerido pelos clientes.
Sendo um país continental, com extensa malha rodoviária, a instalação de pontos de recarga rápidos nas estradas se faz necessária. Até para acompanhar o crescimento de veículos elétricos que necessitam realizar viagens de longo alcance.
Portal do Trânsito – E em se tratando de ecossistema, como estamos?
Paulo Maisonnave – O conceito de criação de ecossistema é muito importante para o consumidor, dando a ele uma experiência de qualidade de serviço em todos os momentos de sua jornada – ou seja, em casa, no trabalho ou em viagens. Para isso, as tecnologias devem convergir para um sistema comum onde equipamentos conectados e inteligentes permitam um processo fluido de prestação de serviços de recarga. Pense na evolução da tecnologia dos celulares no Brasil, que atualmente permite a conexão de todos os operadores de telefonia, de forma fácil e transparente. Este é o modelo que vislumbramos.
Portal do Trânsito – De que modo as organizações dos setores público e privado podem se articular para fomentar a infraestrutura e o ecossistema para veículos elétricos no Brasil?
Paulo Maisonnave – Os setores público e privado devem trabalhar juntos para entender a oferta e demanda de uma nova tecnologia com crescimento exponencial e uma capacidade de disrupção no setor de mobilidade. Em se tratando de algo novo, é necessária uma coordenação entre os entes, de forma constante e eficiente. O objetivo é atender a infraestrutura e demandas dos clientes, assim como adequar e adaptar temas regulatórios para facilitar o uso dos novos serviços.
Portal do Trânsito – Nesse contexto, quais estratégias podem ajudar a compreender qual deve ser a oferta dos produtos e serviços ao consumidor de veículos elétricos?
Paulo Maisonnave – Os stakeholders devem conhecer as experiências internacionais assim como adaptar à realidade local do País, considerando todos os aspectos específicos do nosso mercado.
A regulação setorial deve entender o nível de inovação do setor e propor Sandboxes para avaliação de novos produtos e serviços à população. Também, do ponto de vista regulatório, é importante regulamentar sem restringir, possibilitando que os novos entrantes tragam soluções eficientes do ponto de vista técnico-econômico.
Portal do Trânsito – Quais são os desafios para viabilizar melhorias no método de monetização e receita, tecnologias, regulação e normas para a cadeia produtiva de veículos elétricos?
Paulo Maisonnave – Com o rápido avanço das tecnologias financeiras bem como de comunicação, não há restrições técnicas para viabilizar modelos de cobrança dos pontos de recarga. Já existem vários players do setor praticando seus modelos de monetização. O mais importante, em minha opinião, é como o cliente de mobilidade elétrica percebe o valor do serviço prestado e está disposto a pagá-lo. Por isso, é importante pensar na qualidade do serviço e da criação de ecossistema durante toda sua jornada. Além disso, da criação de um processo simples e rápido de utilização dos carregadores e atender as demandas deste novo consumidor.
Portal do Trânsito – Quanto às recargas, quais são as tendências para que tenhamos uma infraestrutura de recarga inteligente, integrada e sustentável para os modais da mobilidade elétrica?
Paulo Maisonnave – O mercado irá tender à universalização dos serviços com integração de diferentes plataformas conectadas e inteligentes. Uma das soluções vistas com grande demanda, por exemplo, é a formação de hubs de recarga que receberão frotas, motoristas de aplicativo, táxis e clientes eventuais em um ambiente propício, seguro e conveniente para efetuarem seus carregamentos.
Com relação aos equipamentos, veremos o incremento da velocidade de carregamento. Além disso, aumento da autonomia dos veículos e novos pontos de recarga sendo criados por todo o País.
Portal do Trânsito – Por fim, qual é o futuro da infraestrutura e do ecossistema para veículos elétricos no Brasil?
Paulo Maisonnave – O Brasil demandará grandes investimentos em infraestrutura nos próximos anos, considerando que a frota elétrica crescerá exponencialmente em todos os setores da economia. O caminho para criação de uma infraestrutura robusta assim como conectada é o trabalho conjunto entre todos os agentes do setor. Dessa forma, evitaremos sobreposição de investimentos ou a criação de pontos que não atendam às expectativas de qualidade dos clientes.
Fonte: Portal do Trânsito e Mobilidade