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TRANSPORTE COMPARTILHADO SOB DEMANDA SERVE EM QUALQUER LUGAR?

Gustavo Balieiro
Gustavo Balieiro
Mestre em transportes pela UFMG, com mais de 15 anos na área tendo atuado em transportes em duas copas do mundo e duas olimpíadas, sendo as duas últimas posições em eventos como consultor do COI e CONMEBOL. Sócio de uma consultoria tradicional de transportes (PLANUM) e sócio de uma startup de inovação de mobilidade (Bus2). Atualmente trata mais de 1 bilhão de registros por mês entre dados de planejamento, AVL, SBE e outros, independente de formato e fornecedores.

Evolução do transporte responsível à demanda e seu lugar.

O conceito de transporte sob demanda, internacionalmente conhecido como DRT (Demand Responsive Transport) não é novo no transporte, e possui sua primeira documentação de experimento realizado em 1916, na cidade de Atlanta nos Estados Unidos (Coutinho et al., 2020). A primeira publicação sobre o tema, no entanto, aconteceu pela primeira vez em 1968, apresentando os benefícios e conceitos para o transporte de passageiros (Cole, 1968). 

Na década de 1970, o DRT evoluiu para sistemas de chamadas por telefone para os diversos modos, incluindo ônibus e táxi (Higgins, 1979; Oxley, 1980). A forma de operacionalização, por meio de agendamentos ou por atendimento imediato dependia da capacidade operacional do veículo. Táxis, por exemplo, podiam fazer o atendimento porta a porta sob demanda, enquanto ônibus ou shuttles dependiam de agendamento para criação e alocação das rotas. Nesse cenário, uma das modalidades mais populares de DRT foram os “paratransit”, que consistiam em atendimento agendado, em que uma central fazia o despacho para rotas pré-definidas ou para rotas criadas com base na origem e destino dos passageiros (Kirby, 1976). Inicialmente, tal modalidade se popularizou pelo termo, com o propósito de atendimento de passageiros com necessidades de acessibilidade. 

Em 2012, muito antes da popularização da tecnologia que estamos habituados hoje, foi publicado um artigo por Davison et al. que apresentava os nichos nos quais o DRT está inserido. Importantes conclusões sobre as razões pelas quais os DRT falharam em sua implantação foram apontadas. Por exemplo, uma característica recorrente apresentada para a falha do sistema refere-se aos contextos e condições em que o sistema é inserido. As condições de implantação, os aspectos geográficos, tecnologia inadequada e a falta do reconhecimento dos padrões de demanda foram os principais pontos discutidos pelos autores.

Apesar do interesse, necessidade e crescimento do tema, existe pouco material e publicações, principalmente nos aspectos referentes a seus dados e implantação. Mesmo com diversos sistemas implementados nos últimos anos em todo o mundo, com registro inclusive, no Brasil, os custos desse sistema e sua forma de implantação constituem um entrave e muitas vezes não são vistos como investimento, mas como custo extra (Pettersson, 2019).

O DRT que está se popularizando deve ser encarado como um transporte compartilhado sob demanda (TcsD), onde o serviço ainda pode ser subdivido em rotas fixas com alocação dinâmica (como um sistema de fretamento), ou seu sistema mais popular de rotas, horários dinâmicos e alocação do passageiro na sua forma mais complexa.

Mesmo para este modelo de TCSD é importante entender as nuances e complexidades de implantação. É preciso estabelecer qual será o tipo de coleta dos passageiros: se porta a porta, esquina a esquina ou até mesmo em pontos virtuais. Quais parâmetros de referência serão utilizados no sistema, tais como tempo máximo de espera, fator de desvio, prioridade entre agrupamento de passageiros ou utilização de veículos vazios. Em resumo, inúmeros parâmetros e critérios precisam ser levados em consideração além do modelo do serviço em si. 

O modelo do serviço é outra complexidade a ser considerada, pois irá influenciar na forma de operar, conforme critérios e parâmetros utilizados. No modelo de serviço “alimentação”, o serviço funciona para alimentar uma rede estruturante no modelo first & last mile. Já o modelo “concorrente” oferece um serviço que praticamente compete com os sistemas por aplicativo, em que o perfil do usuário é pouco aderente ao transporte coletivo. Finalmente, o modelo “complementar” oferece um serviço que pode substituir parte de uma rede ineficiente.

Em um exemplo hipotético, 6 veículos que atendem com pouca frequência a uma região sem demanda, podem ser substituídos por 4 veículos que irão atender as mesmas regiões com um nível de serviço melhor num atendimento sob demanda. 

Na prática, a tecnologia é um nicho que deve ser usado em seu máximo potencial. Uma analogia muito simples, que já foi feita no mercado, é comparar o DRT com um micro-ondas. Você não vai utilizá-lo em qualquer situação a qualquer custo, mas em todos os lugares ele possui sua situação de valor. 

Antes de qualquer solução é preciso encontrar as dúvidas corretas. Apenas dessa forma será possível encontrar a melhor opção possível. E como fazer isso? Essa é uma pergunta para outra hora… 

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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