O Instituto de Engenharia e a Associação Brasileira do Veículo Elétrico lançaram a Carta da Eletromobilidade (íntegra abaixo).
O documento conjunto defende uma Política Nacional de Eletromobilidade como condição necessária a um novo a ciclo de desenvolvimento econômica e social do Brasil.
A Carta da Eletromobilidade será encaminhada aos principais candidatos a presidente da República, governos estaduais e Congresso Nacional.
O documento é o resultado do 1º Debate Conjunto Instituto de Engenharia/ABVE, realizado no final de julho em São Paulo, sob tema: Eletromobilidade – O Brasil está Preparado para a Grande Mudança?
O 1º Debate IE/ABVE foi realizado na sede do Instituto de Engenharia, em São Paulo, e transmitido ao vivo pelas redes sociais nos dias 28 e 29 de julho.
Reuniu um time de especialistas em transporte renovável, energia e mobilidade sustentável, além de representantes de lideranças políticas e empresariais.
FRONTEIRA
A Carta avalia que a eletromobilidade “é a grande fronteira tecnológica da indústria global do século 21” – e que o Brasil não pode se desconectar dessa megatendência.
Diz um trecho:
“A eletrificação do transporte público, de passageiros e de carga é vital para renovar tecnologicamente a indústria brasileira, recuperar a competitividade de sua engenharia automotiva, reinserir o parque produtivo nacional nas cadeias produtivas globais e criar os empregos de qualidade das futuras gerações”.
“O Brasil está perdendo seu reconhecido protagonismo internacional no transporte e mobilidade sustentável, conquistado ao longo de 30 anos em razão da produção e uso de biocombustíveis, mas tem todas as condições de retomar essa liderança”.
APOIOS
O documento é assinado pelo presidente do Instituto de Engenharia, Paulo Ferreira, e pelo presidente em exercício da ABVE, Antonio Calcagnotto.
A Carta da Eletromobilidade e o 1º Debate IE/ABVE sobre o tema são iniciativas patrocinadas e apoiadas por importantes empresas e entidades representativas.
Patrocinadores:
- Labelo PUCRGS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul;
- PCN do Brasil;
- Vibra Energia;
- Visaway;
- WEG S.A.
Apoiadores:
- ABIFER – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária;
- AEAMESP– Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô de São Paulo;
- ALAF – Asociación Latinoamericana de Ferrocarriles
- ANTP – Associação Nacional do Transporte Público;
- IBMS – Instituto Brasileiro de Mobilidade Sustentável;
- Instituto Mauá de Tecnologia;
- Projeto 34.
CARTA DA ELETROMOBILIDADE
Instituto de Engenharia
Associação Brasileira do Veículo Elétrico
São Paulo, 19 de agosto de 2022
O INSTITUTO DE ENGENHARIA e a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO VEÍCULO ELÉTRICO – ABVE realizaram na sede do Instituto, na Avenida Dr. Dante Pazzanese, 120, Vila Mariana, São Paulo, nos dias 28 e 29 de julho de 2022, o 1º DEBATE CONJUNTO: ELETROMOBILIDADE: O BRASIL ESTÁ PREPARADO PARA A GRANDE MUDANÇA?
Como resultado do evento, as entidades organizadoras e apoiadoras consolidaram esta Carta da Eletromobilidade para apresentação à sociedade brasileira e aos líderes políticos que concorrem às eleições de 2022.
É um conjunto de propostas para sintonizar a economia brasileira a essa megatendência global, que a seguir transcrevemos:
NECESSIDADE INSTITUCIONAL DA ELETROMOBILIDADE
Os compromissos do Brasil, no marco da COP 26, que visam a redução das emissões globais de CO² em 50% até 2030, têm um caráter amplo e incluem diversos setores da economia.
Nesse sentido, a eletromobilidade se apresenta como um elemento de enorme contribuição para atingir as metas assumidas, considerando os efeitos benéficos de uma mudança de paradigma no transporte público, de cargas urbanas e do aumento de veículos eletrificados de passageiros.
Alinhada com o incentivo à adoção de projetos ESG, há em todo o mundo uma busca por energias limpas e renováveis e a substituição das frotas de veículos movidos a combustíveis fósseis por tração elétrica.
Neste momento, em que outros países se preparam para a grande mudança, o Brasil precisa agir e adequar as entidades operadoras dos transportes e o seu parque industrial à introdução de veículos eletrificados, tanto para suprir o mercado interno quanto para não se isolar em relação aos demais países, o que limitaria a capacidade exportadora brasileira, inclusive para mercados próximos.
CENÁRIO MUNDIAL – A ELETROMOBILIDADE JÁ É UMA REALIDADE
Em 2021, houve um crescimento de 109% nas vendas globais de veículos eletrificados, em relação ao ano anterior, e hoje nada menos do que 16 milhões de automóveis e comerciais leves elétricos e híbridos plug-in já circulam no mundo, além de 600 mil ônibus elétricos.
Os maiores mercados por ordem de número total de veículos em circulação, são: China, Europa e os EUA. Todavia, destaca-se a Noruega, com 86% de elétricos plug-in dentre todos os veículos novos registrados em 2021.
Catástrofes globais recentes, como a Covid-19 e, agora, a guerra na Ucrânia, com seus efeitos imediatos sobre a economia e os preços dos combustíveis fósseis, ressaltam dramaticamente a urgência de instalar a eletromobilidade no topo da agenda nacional.
Alguns países tinham estabelecido metas temporais para a adoção da eletromobilidade, em conformidade com seus compromissos nacionais de corte das emissões de gases do efeito estufa (COP 21/Paris 2015 e COP 26/Glasgow 2021), como por exemplo:
2025: Noruega;
2030: Eslovênia, Holanda, Irlanda, Islândia, Singapura, Suécia;
2035: Cabo Verde, Dinamarca, Reino Unido, Califórnia (EUA), Québec (Canadá);
2040: Canadá, França, Espanha;
2050: Costa Rica.
Fonte: ICCT/Junho 2021
Essas metas, no entanto, estão sendo atualizadas – e antecipadas, em vários casos – por uma recente resolução da União Europeia, de 28 de junho de 2022, que fixou um prazo máximo até 2035 para todos os países membros interromperem a venda de veículos novos movidos a combustíveis fósseis em seus mercados.
CENÁRIO BRASILEIRO
No Brasil, a eletromobilidade também avança, embora num ritmo inferior ao de outros países. Esse é o desafio: acelerar a transição rumo ao transporte limpo e sustentável.
Em julho de 2022, a frota brasileira de eletrificados leves atingiu a marca histórica de 100 mil veículos em circulação, sendo que somente este ano o mercado nacional deverá registrar quase a metade desse total.
O crescimento dos eletrificados no Brasil, portanto, segue uma curva ascendente sólida e irreversível, em contraste com a estagnação ou retração do conjunto das vendas domésticas nos últimos três anos.
Cabe destacar que o Brasil já conta com uma cadeia produtiva robusta e consolidada, para veículos pesados, incluindo a fabricação do powertrain elétrico, chassis, componentes e subsistemas isolados, além da montagem da carroceria e integração elétrica dos subsistemas e, recentemente, produção de baterias de tração.
Há também soluções para infraestrutura, com eletropostos residenciais de recarga lenta e os de rodovia com recarga ultrarrápida, além de sistemas de armazenamento de energia.
Apesar de o volume dobrar de tamanho a cada dois anos, o Brasil está muito distante de seu potencial, correndo o risco de ver a sua indústria se isolar tecnologicamente das grandes tendências globais e perder mercados e competitividade internacional.
As entidades e lideranças signatárias têm consciência de tudo aquilo que compõe a chamada Matriz Energética Sustentável, apoiam os fundamentos das regras ESG e defendem um projeto de transição para a eletromobilidade que leve em conta o real posicionamento e o rumo que o país quer seguir quanto às fontes energéticas já disponíveis hoje e as que estão em desenvolvimento.
AMÉRICA LATINA
Por falta de políticas de Estado que garantam a transição do transporte público e de carga da propulsão a diesel para a propulsão elétrica, o Brasil está perdendo o mercado latino-americano de ônibus e caminhões, que liderou por décadas.
Esse mercado está sendo ocupado por fornecedores de outros países que oferecem produtos com tração eletrificada.
Chile, Colômbia e México – tradicionais mercados de exportação da indústria brasileira de ônibus – estão hoje à frente do Brasil em eletrificação do transporte público. E todos os ônibus elétricos comprados por esses países, sem exceção, são importados da China.
PROTAGONISMO
A eletrificação do transporte público, de passageiros e de carga é vital para renovar tecnologicamente a indústria brasileira, recuperar a competitividade de sua engenharia automotiva, reinserir o parque produtivo nacional nas cadeias produtivas globais e criar os empregos de qualidade das futuras gerações.
O Brasil está perdendo seu reconhecido protagonismo internacional no transporte e mobilidade sustentável, conquistado ao longo de 30 anos em razão da produção e uso de biocombustíveis, mas tem todas as condições de retomar essa liderança:
- Tem mais de 80% de sua matriz de geração de eletricidade renovável;
- Alto potencial de crescimento das fontes de energia eólica e solar;
- Tecnologia consolidada em biocombustíveis;
- Indústria de veículos e componentes já instalada;
- Consumidores e empresas sensíveis e amigáveis às novas tecnologias;
- Potencial para substituir a frota de ônibus e carga, principais poluidores, por veículos com tração elétrica.
Diante disso, o Brasil pode e deve inclusive se tornar um exportador dessas soluções.
Mais do que uma oportunidade, o desenvolvimento de veículos elétricos leves e pesados no Brasil será uma necessidade.
O setor automotivo brasileiro está entre os dez maiores produtores de veículos no ranking mundial, gera milhares de empregos no país e exerce um importante papel na economia nacional.
O Brasil deve sempre mirar o mercado externo, e para isso precisará também dos elétricos para garantir a sua competitividade.
O QUE FALTA?
O Brasil necessita instituir, urgentemente, um Marco Regulatório da Mobilidade que contemple Planos Nacionais de inserção da Eletromobilidade em todos os modos de transporte, em nível de Governo Federal, Estadual, Metropolitano e Municipal, com vistas à racionalização, planejamento e economia da atividade para inserir a veículos elétricos numa estratégia de desenvolvimento do país.
Esse Plano deve incluir um conjunto de metas para assegurar a inevitável transição dos combustíveis fósseis para os renováveis no transporte, a exemplo de outros países.
Uma política abrangente requer que os órgãos regulatórios dos sistemas de energia elétrica acompanhem esta evolução e criem as condições para que as empresas do setor aumentem sua capacidade de geração e distribuição.
Ao tempo, é preciso que haja uma regulamentação clara para a geração da energia solar e eólica (inclusive com geração eólica offshore, hoje sob responsabilidade do Ibama), bem como incentivar a utilização de técnicas de armazenamento de energia pelas empresas/produtores independentes.
Também é necessário promover a produção nacional de baterias para atender a expansão da eletromobilidade, considerando-se que o Brasil dispõe de reservas de lítio e outros minerais estratégicos necessários à fabricação do produto.
É importante, ainda, criar as condições para que empresas de reciclagem de baterias se instalem e consolidem esse mercado no país.
Por fim, tendo a propulsão elétrica como foco, se faz necessária a coordenação de tais políticas com os Estados e Municípios, num modelo de Governança Metropolitana na qual onde os principais atores interajam de forma alinhada, visando contribuir com o plano nacional de metas.
O BRASIL ESTÁ PREPARADO PARA ESSA GRANDE MUDANÇA?
A eletromobilidade – a transição da economia do petróleo para a economia da neutralidade de carbono – é a grande fronteira tecnológica da indústria global do século 21.
O 1º Debate sobre Eletromobilidade promovido pelo Instituto de Engenharia e a Associação Brasileira do Veículo Elétrico em julho de 2022 convidou um time de lideranças e especialistas altamente qualificados e de olhos postos no futuro para abordar esse imenso desafio.
As entidades organizadoras e apoiadoras encaminham esta Carta da Eletromobilidade para apresentação à sociedade brasileira e aos líderes políticos que concorrem às eleições de 2022.
Atenciosamente,
PAULO FERREIRA ANTONIO CALCAGNOTTO
Presidente do Instituto de Engenharia Presidente em exercício da ABVE
Fonte: ABVE