Quanto investimento é necessário para desenvolver uma cidade inteligente?
No dia a dia, são inúmeras as atividades que nós como sociedade realizamos com o apoio da tecnologia. Da mobilidade à comunicação, uma coisa é fato: a inovação se tornou uma aliada constante, principalmente para o povo brasileiro.
De acordo com o State of Mobile 2022 da plataforma AppAnnie, o Brasil é o país em que a população passa mais tempo no celular, atingindo a média de cinco horas por dia. O motivo? Comunicação externa e o uso das facilidades que as plataformas proporcionam. Com esse histórico fica difícil não se questionar como a tecnologia pode contribuir cada vez mais para uma melhor qualidade de vida.
Dentro dessa realidade, os governos estão mirando as vantagens que as Smart Cities podem trazer para uma sociedade tão dinâmica. As “cidades inteligentes”, em uma tradução ao pé da letra, unem a necessidade de ser eficiente, sustentável e conectada, prezando acima de tudo por uma abordagem mais humana. Mas quanto investimento é necessário para desenvolver uma cidade neste modelo? A resposta não está no quanto, mas sim no como.
De acordo com o relatório Cities in Motion, elaborado pelo IESE Business School, existem nove indicadores de inteligência urbana. São eles: capital humano, coesão social, governança, meio ambiente, mobilidade, planejamento urbano, reconhecimento internacional, tecnologia e economia.
Destaques, o capital humano, a economia e a tecnologia podem ser tidos como os principais pontos estratégicos que merecem atenção, já que, ouso dizer, a inovação e o apoio a economia, a população e ao empreendedorismo local são o coração das Smart Cities e, por isso, merecem grande parte dos investimentos. Com o desenvolvimento desses três pilares, os demais avançam.
Um exemplo de Smart City que investiu estrategicamente nesses três elementos é Joinville. A cidade catarinense desde 2015, quando iniciou sua relação com o modelo de Human Smart Cities, vem desenvolvendo iniciativas que visam a qualidade de vida como resultado final, mas que além do mais partem de projetos criados por atores locais. Ou seja, há total apoio à economia e ao empreendedorismo regional, principalmente na área tecnológica.
O município segue um modelo colaborativo, que de forma orgânica une setor público, privado – que contempla empresas e startups –, universidades e comunidade, ou seja, todos os componentes sociais têm oportunidade de sugerir novos projetos de mudança para sua própria cidade, principalmente através das facilidades tecnológicas, e ainda podem colaborar entre si.
Atuando dessa forma, Joinville se tornou um centro de testes de novas tecnologias para Smart Cities, principalmente por parte das startups e empresas que atuam na cidade como patrocinadores, parceiros e exploradores, e que estão ligadas aos pólos de inovação da Ágora Tech Park e da Perini Business Park. Através da oportunidade, projetos ligados às verticais, como mobilidade, energia, saúde, logística, gestão pública e segurança, por exemplo, são colocados em prática e se surtem bons resultados, são aplicados de forma permanente de maneira ampla em todo o país.
Por causa desse modelo de gestão, Joinville foi a cidade escolhida, por exemplo, pela equipe do Waze para realizar sua ação inaugural do Waze Carpool no Brasil. O projeto estimula as caronas compartilhadas, visando reduzir os problemas de mobilidade causados pelo excesso de carros nas cidades e até mesmo pela baixa oferta de transportes públicos.
O fato é que a cidade é um exemplo de que não é necessário grandes investimentos financeiros quando há expertise para trabalhar com os elementos já presentes. Estimular o comércio local, influenciar empreendedores, dar abertura para startups e suas soluções inteligentes para os problemas detectados, esses são apenas exemplos de ações simples, mas que integradas podem fortalecer todos os chamados indicadores do que nós conhecemos e entendemos como uma Smart City.
Se há tecnologia e inovação, há solução para problemas relacionados ao meio-ambiente, à mobilidade e ao planejamento urbano. Se há uma preocupação com a população, sua integração e participação, há coesão social. Se todos os fatores caminham de forma otimista, há sucesso e reconhecimento internacional para a cidade, fruto de um governo eficaz.
Desenvolver uma cidade inteligente é mais do que investir capital ou fazer acordos tecnológicos bilionários. Não trata-se apenas do ambiente urbano e tecnologia, trata-se de pessoas, e elas, sim, com suas ideias e soluções diferentes, são a chave para o desenvolvimento de uma cidade para uma sociedade dinâmica, ou seja, uma Smart City.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Douglas Tokuno é Head de Parcerias para América Latina e EMEA do Waze. O executivo entrou para o time do Waze em 2017 para liderar a chegada desse serviço ao país. Antes disso, Douglas fazia parte da equipe de Produtos e Estratégia do YouTube no Google. Em paralelo à sua atuação na empresa, o executivo foi mentor de negócios na Startup Farm e no Google Campus por dois anos. O executivo é formado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Administração pela FEA-USP.