Constituir modelos de negócio que contribuam para o desenvolvimento da mobilidade elétrica com viabilidade técnico-econômica em nível nacional. Foi com essa proposta que o CPQD passou a integrar o projeto Trilha Verde, em Fernando de Noronha, lançado oficialmente no último dia 21. O objetivo da iniciativa é levar mais sustentabilidade ao arquipélago administrado pelo estado de Pernambuco.
O Trilha Verde teve início em 2019, com a abertura da chamada de P&D Estratégico sobre Mobilidade Elétrica Eficiente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Selecionado pelo órgão regulador para compor a iniciativa, encabeçada pela Neoenergia – concessionária de energia de Fernando de Noronha e do estado de Pernambuco -, coube ao CPQD estruturar todas as etapas do projeto, bem como buscar os parceiros para sua realização.
“Devido à multidisciplinaridade do projeto, buscamos outros ICTs e também parceiros industriais para complementar expertises”, explica Luiz Rolim, consultor especialista em sistemas de energia e telecomunicações do CPQD. Integram a parceria a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação de Pernambuco (IATI) e as empresas WEG, Renault, eiON e InCharge.
Na fase inicial, o projeto irá analisar a performance de veículos elétricos e de recursos energéticos na ilha. Para isso, serão inseridos 14 carros elétricos e uma rede de eletropostos com 12 pontos de recarga interligados por uma plataforma de monitoramento, dois deles com suporte V2G (vehicle-to-grid) – em que o veículo, além de recarregar, também pode devolver a energia excedente. “Vamos definir os trajetos dos carros e os tipos de testes, que vão durar no mínimo um ano, para analisar toda a sazonalidade do clima e do fluxo turístico na região, coletando dados, avaliando e traçando os perfis para uso dos veículos. Tudo isso vai alimentar nossas análises estratégicas, que têm um foco não apenas tecnológico, mas também econômico, ambiental e social”, detalha Rolim.
De acordo com o especialista do CPQD, as particularidades geográficas e o fato de ser uma área de preservação ambiental impuseram um grande desafio para a implementação do projeto. “Fernando de Noronha está a cerca de 400 quilômetros do continente, não dispõe de recursos naturais para geração de energia, e isso deixa tudo muito mais complexo”, observa. Ele acrescenta que apenas 10% da energia da ilha vem de fontes renováveis, de algumas usinas solares que foram instaladas no passado; a principal fonte energética ainda é o diesel, que é extremamente poluente.
Para contornar esse desafio, o Trilhas Verdes pressupõe um sistema de armazenamento com duas plantas solares de 50 kW para obter o melhor aproveitamento da energia sustentável. A primeira deve estar operacional no começo de abril, conectada à rede elétrica, e a segunda está programada para julho ou agosto. Essa produção e a utilização dos recursos dessa usina serão monitoradas durante o período de um ano, para que a mobilidade elétrica avance no mesmo ritmo de desenvolvimento dos recursos energéticos renováveis.
Será possível acompanhar, por exemplo, a operação dos eletropostos para saber o momento em que estão sendo utilizados e quanto de energia está sendo carregada pelos veículos em teste. Em paralelo, será implantado um sistema de orquestração energética para otimização dos recursos renováveis, acompanhado de um esforço para criar parcerias com empreendedores da região. “Há uma atividade empresarial bastante forte na ilha; então, nada melhor do que estimular as empresas locais a abraçar a mobilidade elétrica, incentivando o uso dos carros elétricos e fomentando novas modalidades de negócios”, conclui Rolim.