A aplicação do conceito de cidades inteligentes integra a participação feminina a partir do debate sobre políticas públicas e o desenvolvimento de novas ferramentas até o diálogo com diferentes atores comunitários.
Inteligência Artificial, análise de dados, ESG, Internet of Things, são muitos os termos que vêm à nossa cabeça quando pensamos em cidades inteligentes. O conhecimento aplicado no desenvolvimento de cidades inteligentes ultrapassa o uso das tecnologias da informação e comunicação e também pode ser associado com o desenvolvimento de novas formas de coexistir enquanto indivíduo e sociedade.
Neste mês de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher. A data é símbolo da luta diária das mulheres na garantia de direitos e na quebra de preconceitos e imposições sociais. A aplicação do conceito de cidades inteligentes integra a participação feminina a partir do debate sobre políticas públicas e o desenvolvimento de novas ferramentas até o diálogo com diferentes atores comunitários.
Para entender como as cidades inteligentes fazem parte da maior presença feminina nos ambientes de decisão e nos espaços urbanos, o Portal Connected Smart Cities conversa com a cientista política, pesquisadora em gênero e política pela PUC/SP e cofundadora do Delibera Brasil, Thaís Zschieschang, e a coordenadora da Transformação Urbana e assessora do projeto de cooperação técnica Brasil-Alemanha “Apoio à Agenda Nacional de Desenvolvimento Urbano Sustentável (ANDUS)” da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), Sarah Habersack.
As mulheres nas cidades
A sociedade contemporânea compele as mulheres de diversas formas. De acordo com Sarah Habersack, as tecnologias retratam as imposições feitas às mulheres. “Temos que entender que essas estruturas de poder que existem em nossas cidades também se refletem no uso da infraestrutura digital, no uso das redes, na discriminação das mulheres”, afirma Habersack.
E complementa, “Achar que as tecnologias por serem máquinas e não serem humanos sejam menos preconceituosos é problemática, porque vários estudos já mostraram que há uma discriminação no algoritmos e também na inteligência artificial”.
A Coordenadora da Transformação Urbana e assessora do projeto de cooperação técnica Brasil-Alemanha aponta que há muito espaço para as mulheres crescerem no segmento de cidades inteligentes.
“É um setor ainda dominado por homens, já é um grande passo se falar sobre planejamento urbano em geral, incluindo a perspectiva de gênero, mas falar sobre as cidades inteligentes incluindo o aspecto de gênero é ainda mais complicado, porque em si é um tema muito novo e fica mais difícil para a maioria das pessoas e incluir ainda essas novas temáticas.”
Para Sarah, além da participação feminina nas tomadas de decisão e desenvolvimento de ferramentas, é preciso criar uma nova ideia entre os gestores públicos e privados. “A consciência sobre a perspectiva de gênero está crescendo mais e mais, as empresas estão mais e mais conscientes que eles não podem continuar com essa perspectiva estreita, que a inclusão de diversidades vai se tornar ao poucos um critério de sucesso, um critério de distinção para cidades como para empresas”, argumenta Habersack.
A contribuição das mulheres às cidades inteligentes
Nessa mesma linha da presença feminina no debate em torno das cidades inteligentes, a cofundadora do Delibera Brasil, Thaís Zschieschang, indica como empresas e instituições públicas podem incentivar a presença das mulheres na criação de um novo espaço urbano. “A participação ativa de mulheres em governos e empresas para que a gente tenha de fato uma cidade pensada não só para, mas por mulheres. Nós conhecemos os principais desafios, a priorização das agendas e como deixar as soluções que nós precisamos desenvolver mais ricas com esse potencial inovador da diversidade”.
Zschieschang argumenta que para esta cocriação é preciso uma revisão do papel das mulheres e entender o que as mulheres acrescentam à discussão. “A contribuição exclusivamente feminina é uma perspectiva do que é ser mulher em uma cidade inteligente e como a cidade deve ser para que a mulher seja beneficiada nesse processo e possa usufruir dela”, aponta Thais.
As mulheres são parte da sociedade, é preciso que a outra metade composta por homens se associe a construção de uma sociedade mais igualitária. Segundo Thais, existem formas para incentivar esse processo de participação conjunta. “Há o papel do governo de regular, criar uma produção cultural nova e fomentar o enfrentamento às desigualdades. Tem o papel das empresas de fazerem seja na escolha de lideranças, seja na contratação, seja na igualdade de salários e processos administrativos”.
Para a cofundadora do Delibera Brasil, a melhor maneira de desenvolver as cidades inteligentes é colocar as mulheres no papel ativo de transformação, em todas as etapas do processo. “A melhor coisa que a gente faz é trazer pessoas para dentro das empresas e startups e espaços de governo público representando as mais diversas categorias de mulheres, pois a mulher traz a perspectiva de si, traz o princípio inovativo da diversidade e com isso maiores soluções para a consistência do dinamismo social”.