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NEGÓCIOS DE IMPACTO COLABORAM PARA A CONSTRUÇÃO DE CIDADES INTELIGENTES

Daniel Annenberg
Daniel Annenberg
Daniel Annenberg é formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP).  Foi um dos idealizadores do Poupatempo, e seu superintendente por quase 10 anos; ex-diretor-presidente do Detran-SP, ex-Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia e atualmente é Vereador pela cidade de São Paulo.

Cidades mais inteligentes e humanas estimulam o desenvolvimento de negócios de impacto nos seus territórios, pois tem clareza que eles são muito importantes para a modernização destas cidades.

Você certamente já ouviu falar na sigla ESG (em inglês, Environmental, Social and Governance), conceito em voga que reúne práticas de boa governança social e ambiental. A adoção do ESG representa uma verdadeira mudança de paradigma, já que práticas tradicionalmente associadas à sustentabilidade passaram a ser consideradas como parte da estratégia financeira de empresas, sobretudo nos negócios de impacto. No horizonte de um futuro sustentável, despontam cada vez mais iniciativas que buscam solucionar problemas urbanos e melhorar a qualidade de vida das pessoas, gerando transformações sociais, ambientais e econômicas. Por isso, incentivar o empreendedorismo de impacto é cada vez mais essencial quando se fala em construir cidades inteligentes.   

Conciliar um modelo de negócio sustentável, capaz de gerar receitas próprias, com a missão de gerar impacto social ou ambiental positivo na sociedade são as características principais dos negócios de impacto. Como o objetivo principal, ou exclusivo, não é gerar lucro, os negócios de impacto se diferenciam dos negócios privados como os conhecemos. Por outro lado, eles também não se encaixam na definição clássica de terceiro setor (embora possam assumir a forma jurídica de organizações não governamentais), já que utilizam mecanismos de mercado para garantir a própria sustentabilidade econômica. Por causa desse caráter híbrido, o setor dos negócios de impacto vem sendo chamado de setor 2.5 (dois e meio). A importância deste setor fica ainda mais evidente neste contexto de pandemia em que estamos vivendo.



Esses negócios também medem periodicamente o impacto que geram e levam em conta os interesses de investidores, clientes e a comunidade. Essas duas características estão conectadas à importância da transparência e do contínuo diálogo com todas as pessoas que são afetadas pelo negócio, garantindo que haja responsabilidade social na sua condução. 

A consolidação do conceito de negócios de impacto é um passo importante para estimular o desenvolvimento de iniciativas deste tipo, já que auxilia no processo de criação de um ambiente favorável. Outro passo fundamental, já dado por diversos países, é a criação de políticas públicas para fomentar o crescimento desse ecossistema. Portugal, por exemplo, criou a iniciativa “Portugal Inovação Social”, que “visa promover a inovação social e dinamizar o mercado de investimento social em Portugal”. Aqui no Brasil, em âmbito federal, temos a Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO).

Cidades mais inteligentes e humanas estimulam o desenvolvimento de negócios de impacto nos seus territórios por avaliar que eles colaboram com a concretização de objetivos de interesse público, essencialmente o de tornar o espaço urbano (ou rural) menos desigual e mais inclusivo e sustentável. Os governos municipais podem assumir um papel estratégico no desenvolvimento econômico em nível local, especialmente no que se refere à potencialização e ao apoio à criatividade, à visão empreendedora e aos propósitos de impacto social que já existem nas periferias das cidades. Esse fomento também contribui com a redução de desigualdades e com a inclusão produtiva e econômica.

A cidade de São Paulo tem enorme potencial criativo e empreendedor. Nos últimos anos, surgiram e se desenvolveram diversos negócios de impacto no município. São empreendimentos e iniciativas com o objetivo de gerar valor econômico e social, ou seja, que unem um modelo de negócio sustentável com a geração de transformações sociais positivas. Os negócios de impacto são importantes porque são capazes de gerar dinamismo econômico e inclusão produtiva e econômica das populações em situação de vulnerabilidade social. 

Em 2020, lançamos uma consulta pública para a elaboração do PL 437/20, projeto de lei do meu primeiro mandato como vereador, que tem como objetivo criar a Política Municipal de Fomento a Investimentos e Negócios de Impacto. O PL 437/20, construído em conjunto com a sociedade, foi aprovado em primeira votação e agora aguarda segunda votação na Câmara Municipal de São Paulo. O objetivo do projeto de lei é apoiar empreendedores sociais, sobretudo aqueles cujos negócios estejam relacionados à redução de desigualdades e ao desenvolvimento sustentável. O potencial econômico e social dos negócios de impacto devem ser reconhecidos, apoiados e aproveitados, já que colaboram para a construção de uma cidade mais humana e inteligente e com foco na qualidade de vida, nas necessidades sociais e na proteção aos direitos humanos de cidadãs e cidadãos que a habitam.

O projeto foi elaborado para apoiar o desenvolvimento de todo o ecossistema de impacto social de São Paulo, mas dá ênfase a estratégias que conferem maior atenção ao desenvolvimento de empreendedores, organizações intermediárias e negócios sociais das periferias da cidade, tendo em vista o objetivo de apoiar a construção de uma cidade inteligente e humana que utiliza tecnologia e inovação como habilitadores para a redução de desigualdades. É importante incentivar a participação e o protagonismo da população periférica na criação e gestão de negócios que propõem soluções para problemas sociais experimentados no cotidiano. 

Não por acaso, o fomento aos negócios de impacto social se alinha a uma série de objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas, como, por exemplo, promover o crescimento econômico inclusivo e sustentável; fomentar a inovação; reduzir a desigualdade e tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. É fácil perceber que os negócios de impacto social podem nos auxiliar a concretizar esses objetivos de desenvolvimento que pressupõem não deixar ninguém para trás. A atual crise nos mostra que, mais do que nunca, precisamos construir, para nossas cidades, futuros inteligentes, inclusivos e humanistas.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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