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Ciclovias ganham força enquanto Brasil revela déficit histórico de infraestrutura cicloviária

Dados do Censo 2022 mostram que apenas 1,9% dos brasileiros vivem em ruas com ciclovias: iniciativas como o Cidade CSC 2025 mostram como redes de ruas completas podem reverter esse cenário.

As ciclovias, concebidas como infraestruturas exclusivas para bicicletas e livres de veículos motorizados, surgiram como resposta à necessidade de garantir circulação segura, tranquila e confortável para ciclistas. Embora hoje concentrem debates sobre mobilidade urbana, sua história remonta a mais de um século: a primeira pista foi construída na Holanda em 1890, inaugurando uma revolução urbana que logo cruzaria fronteiras. Apenas cinco anos depois, em 1895, Nova Iorque inaugurava aquela que é considerada a ciclovia mais antiga ainda existente. No início, a motivação era simples, conforto e usabilidade, mas rapidamente o tema passou a refletir tensões maiores dentro das cidades.

No período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, países como a Alemanha viveram um forte avanço na construção de ciclovias, mas guiado por uma lógica controversa: retirar as bicicletas do caminho dos carros. O objetivo era “limpar” as vias principais para favorecer a indústria automobilística em ascensão. A segregação de ciclistas gerou resistência, movimentos organizados e debates que ecoam até hoje. No pós-guerra, a bicicleta perdeu relevância em diversos países europeus, com o declínio das ciclovias e o avanço dos estacionamentos e vias dedicadas aos automóveis. O oposto ocorreu nos países nórdicos, pioneiros em compreender o valor da bicicleta dentro de sistemas urbanos mais humanos e sustentáveis.

Leia mais: Você já sentiu diferença na forma de se comportar ao trocar o carro pela bicicleta? 

A partir dos anos 1990, um novo ciclo começou. Cidades como Bogotá, Dublin, Copenhague e Amsterdã, assim como iniciativas continentais, como a EuroVelo e a East Coast Greenway, impulsionaram o renascimento global da bicicleta. Inserida no movimento ambiental internacional, a ciclomobilidade passou a ser vista como ferramenta essencial para reduzir emissões, melhorar a qualidade de vida e cumprir compromissos como o Protocolo de Quioto. Nesse contexto, a segregação das ciclovias deixa de proteger os carros para proteger as pessoas.

A mudança de percepção também transformou o papel social da bicicleta. Antes associada ao lazer, agora é reconhecida como um dos meios mais sustentáveis para deslocamentos curtos, mais saudável, mais acessível e menos poluente. A União Europeia passou a incluí-la em políticas de redução da dependência de combustíveis fósseis, mobilidade limpa e gestão inteligente de transportes urbanos. Porém, especialistas ressaltam que infraestrutura cicloviária não é o único caminho: cidades ideais deveriam permitir o uso pleno da bicicleta em toda a malha viária. O maior obstáculo continua sendo a ocupação desproporcional do espaço urbano pelo automóvel, que absorve até 40% do território quando se somam vias, estacionamentos e acessos.

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No Brasil, a realidade ainda está distante desse cenário ideal. Segundo o Censo 2022 do IBGE, mais da metade dos municípios brasileiros (54,1%) não possui qualquer via sinalizada para bicicletas. Apenas 1,9% da população vive em ruas com algum tipo de ciclovia, um dado que evidencia o quão exceção é a infraestrutura para ciclistas no país. A desigualdade regional é significativa: Santa Catarina lidera com 5,2% dos moradores vivendo em ruas com ciclofaixas, seguido por Distrito Federal (4,1%), Ceará (3,2%), Amapá (3,1%) e Rio de Janeiro (2,5%). Na outra ponta, Maranhão e Amazonas registram apenas 0,5%, enquanto Tocantins tem 0,6%, e Alagoas, Minas Gerais e Goiás marcam 0,9%.

Santa Catarina se destaca também pelas cidades com maior presença de ciclovias no entorno das residências. Joinville lidera o ranking nacional, com 11,2% da população vivendo em ruas sinalizadas. Em seguida aparecem Jaraguá do Sul (9,8%), Itajaí e Balneário Camboriú (7,2%). Florianópolis e Blumenau fecham o grupo das cinco maiores taxas estaduais, consolidando a região norte do litoral catarinense como referência em infraestrutura cicloviária. No estado de São Paulo, apenas 2,4% dos moradores têm acesso a ciclovias na rua onde vivem. Enquanto municípios como Santo Bento de Sapucaí (8,6%) e Santos (8,5%) figuram entre os melhores colocados, 261 cidades paulistas não registram nenhuma ciclovia.

Leia mais: Pedalar é coisa séria: por que a bicicleta ainda não é vista como um meio de transporte essencial nas cidades brasileiras? 

Diante desse cenário, cresce o movimento por cidades mais humanas, acessíveis e voltadas para mobilidade ativa. Um exemplo recente é o Cidade CSC 2025, que apresentou no Parque da Mobilidade Urbana iniciativas focadas na transformação dos espaços urbanos. O evento contou com o Simulador Ruas Completas, uma experiência imersiva que convida o público a repensar a organização das cidades para incluir pedestres, ciclistas e motoristas de forma segura e integrada. No palco principal, o debate destacou estudos de caso de São Paulo e apresentou o projeto Rede de Ruas Completas São Paulo, voltado à criação de vias mais seguras, acessíveis e confortáveis para todos os usuários. Hoje, a rede reúne 20 cidades brasileiras e impacta diretamente cerca de 8 milhões de pessoas, reforçando que o futuro da mobilidade urbana depende de escolhas que priorizem a vida, o meio ambiente e a convivência democrática no espaço público.

O Cidade CSC 2026 já tem data marcada: dias 28, 29 e 30 de setembro, no Expo Center Norte, reunindo lideranças, especialistas e cidadãos de todo o país. Um ponto de encontro que conecta cidades de Norte a Sul em direção a um Brasil mais inteligente, humano e sustentável.

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