Por que a inclusão digital e a formação em IA são essenciais para reduzir desigualdades e impulsionar o futuro do país.
Nos municípios brasileiros, diferentes realidades revelam contradições sobre o uso das tecnologias emergentes no cotidiano. Em algumas cidades, é comum ver crianças navegando na internet antes mesmo de serem alfabetizadas. Segundo levantamento do Cetic.br, mais de 80% das crianças entre 6 e 8 anos são usuárias de internet no Brasil. Em outras regiões, a falta de conectividade ou de um smartphone impede adultos de realizar tarefas básicas, como enviar ou receber um Pix. Esses contrastes evidenciam as profundas desigualdades que precisam ser enfrentadas por gestores públicos, em todas as esferas governamentais, para que o desenvolvimento econômico e social avance de forma equilibrada e a igualdade de oportunidades chegue a todos.
A expansão da conectividade pelo território nacional trouxe um novo desafio: como preparar a população para participar de forma ativa e qualificada da economia digital? A inteligência artificial, que até pouco tempo era restrita a ambientes corporativos ou acadêmicos, já está nas salas de aula, nos serviços públicos, nas ferramentas de trabalho e até mesmo nas interações cotidianas de milhões de pessoas. Seu avanço é rápido e irreversível, redesenhando relações sociais, profissionais e culturais — de aplicativos que corrigem textos automaticamente a plataformas que personalizam o ensino conforme o ritmo de cada aluno. Diante desse cenário, a educação surge como o elo decisivo entre aessa e tecnologia e saber usá-la de forma crítica, ética e produtiva e consciente.
Na era da IA, a inclusão digital – que pode ser definida como o acesso a dispositivos, à conectividade e à capacidade plena de utilizá-los – precisa ser defendida como um direito fundamental, tão essencial quanto o acesso à eletricidade ou aos serviços de saneamento básico. Em uma sociedade mediada por tecnologias, estar conectado e saber usar essas ferramentas com autonomia e análise crítica é condição para o pleno exercício da cidadania. Negar esse acesso significa ampliar desigualdades, restringir a participação social e limitar o potencial produtivo de milhões de brasileiros. Nesse contexto, o investimento em educação voltada para a economia digital é elemento central da política de desenvolvimento do país.
O uso da inteligência artificial na educação opera em diferentes camadas. Em um primeiro nível, a ferramenta funciona como meio para a aprendizagem de disciplinas tradicionais: matemática, história e ciências, por exemplo. Em um segundo nível, a própria tecnologia se torna objeto de estudo: letramento digital, segurança da informação, uso ético e compreensão crítica dos algoritmos. Por fim, em um terceiro nível, a formação em IA é caminho para a geração de empregos qualificados, com profissionais e pesquisadores preparados para atuar nos setores mais dinâmicos da nova economia. Essa abordagem multifacetada é essencial para que a educação não seja reduzida a uma única estratégia ou público, mas se consolide como pilar transversal de uma formação completa. Por exemplo, uma mesma escola pode usar IA para reforçar o aprendizado e, ao mesmo tempo, introduzir conceitos de programação e nuvem para alunos do ensino médio.
A experiência da China oferece aprendizados valiosos. Desde cedo, o país asiático introduz conceitos de IA em sala de aula, promovendo o uso ativo e consciente da tecnologia. Reportagem da Forbes mostra que escolas chinesas já adotam plataformas inteligentes que auxiliam tanto professores, quanto alunos na personalização do aprendizado. Até mesmo crianças de seis anos começam a interagir com IA, como parte de uma estratégia nacional que busca posicionar a China como líder global em tecnologia até 2049, formando desde cedo uma geração fluente em competências digitais.Trata-se de política de Estado, contínua, estruturada e de amplo alcance.
No Brasil, um exemplo que merece destaque é o do estado do Piauí, que implementou uma estratégia pioneira de educação digital em parceria com organizações da sociedade civil e instituições de pesquisa. Segundo o NIC.br, a rede estadual de ensino tem investido em plataformas de aprendizado digital e na capacitação de professores para o uso pedagógico da tecnologia, alcançando cerca de 90 mil alunos em 540 escolas. O Piauí tem se tornado referência em alfabetização mediada por tecnologias, mostrando que é possível inovar mesmo em contextos de restrições orçamentárias. No entanto, a diferença entre os dois exemplos evidencia uma realidade: enquanto a China opera uma estratégia nacional, o caso do Piauí é promissor, mas isolado. Para que a inclusão digital seja efetiva, precisamos transformar boas iniciativas em políticas de Estado.
É nesse contexto que o conceito de Nação Digital ganha relevância. A transformação digital não é apenas uma agenda tecnológica – é uma agenda de país, com impacto direto na educação, no trabalho, na produtividade e na participação social.
No Brasil, o lançamento do Comitê Interministerial para a Transformação Digital (CIT Digital), neste ano, é um passo importante para superar a fragmentação histórica das políticas públicas. Sua missão é articular diferentes esferas governamentais e setores da sociedade para consolidar uma governança integrada, capaz de alinhar diretrizes, orçamentos e iniciativas. Na educação, isso significa colocar no centro do debate as necessidades das escolas, dos professores e dos estudantes. Ao fortalecer essa articulação, o Brasil avança na inclusão digital, com a educação como sua aliada fundamental.
Educação e IA não são agendas separadas. Pelo contrário, são pilares de uma mesma construção: a soberania digital plena. Preparar crianças e jovens de todas as regiões para interagir com a IA, compreendê-la e usá-la de forma construtiva é investir no capital humano que sustentará o desenvolvimento do país nas próximas décadas.
Para avançar, o país precisa integrar iniciativas de conectividade para escolas (como o Novo PAC), o Plano Nacional de Educação Digital do MEC, a capacitação de educadores, o uso pedagógico da IA, o desenvolvimento de competências digitais e a implementação de plataformas de aprendizagem. Esses esforços devem ser contínuos, coordenados e orientados pela equidade. A inteligência artificial tem potencial para ser um grande instrumento de progresso coletivo, desde que seja acessível a todos.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.

Vice-Presidente de Relações Públicas da Huawei na América Latina e Caribe, com contribuição significativa na construção de parcerias que alavancam a transformação digital no Brasil. O executivo já atuou como gestor de Rede e Data Center da Prodam – SP, passando por multinacionais como Cabletron, Enterasys e CISCO, onde foi responsável pela área de Diretorias Regionais de Vendas.






