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O que Belém fará com a mobilidade ativa que a COP29 ignorou?

A COP29 em Baku terminou com um sentimento familiar para ativistas da mobilidade: o de que a bicicleta e a caminhada continuam sendo vistas como acessórios pitorescos nas negociações climáticas, e não como a ferramenta de redução de emissões mais barata e rápida que o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática) insiste que são. Relatórios mostraram, mais uma vez, que a maioria dos países não inclui metas ambiciosas de mobilidade ativa em suas NDCs (planos climáticos).

Agora, a bola está com o Brasil. A COP30, em Belém, tem a chance de ser o ponto de virada, mas o risco de se tornar a maior vitrine da hipocrisia climática urbana é imenso.
Em Baku, a sociedade civil clamou: o transporte é responsável por cerca de um quarto das emissões globais de CO2, e a solução não está apenas em trocar carros a gasolina por carros elétricos (mantendo o congestionamento e a injustiça social). A solução radical é mudar o modal, incentivando a mobilidade ativa e o transporte público.

O que se viu? Uma declaração genérica sobre transportes, onde a mobilidade ativa foi, na melhor das hipóteses, um rodapé. A bicicleta é rápida, acessível e gera emissão zero, mas não tem o lobby da indústria automobilística.

O Brasil e Belém herdam essa frustração. O uso da bicicleta na COP30 se manifesta em dois planos:

O Ativismo Heroico: Teremos o COP30 Bike Ride: ciclistas pedalando milhares de quilômetros da COP anterior (ou de outros continentes) até Belém, carregando a bandeira da sustentabilidade. Isso é bonito. É midiático. É um excelente símbolo para fotos. O ativismo de longa distância serve mais para a narrativa de conscientização global do que para a transformação da cidade-sede. A COP30 precisa fazer mais do que aplaudir heróis: ela precisa de políticas concretas.

O Desafio da Infraestrutura e a “Green Zone” Vazia: O governo federal e a prefeitura de Belém têm falado em promover a mobilidade ativa na área da conferência, a chamada “Blue Zone” e a “Green Zone”, com a promessa de bicicletas e patinetes compartilhados e ciclovias temporárias.

É fácil criar uma “ilha de sustentabilidade” cosmética para delegados, enquanto a vasta maioria da população de Belém continua lutando contra o calor, a falta de infraestrutura e a insegurança para pedalar, como se ouviu no evento em setembro, durante o Bicicultura 2025, em Niterói.

Se a cidade-sede da COP não conseguir implementar uma rede cicloviária segura, conectada e permanente – que sirva, de fato, aos moradores da periferia que já usam a bicicleta por necessidade – o discurso de “soluções climáticas” do Brasil será furado. A bicicleta se tornará, ironicamente, o símbolo da desconexão entre a retórica verde e a realidade urbana.

Para que a COP30 não repita o erro da COP29, é preciso um compromisso, O Brasil, como anfitrião, deve liderar um movimento para que a próxima rodada de NDCs inclua metas quantificáveis de ciclomobilidade, não basta “incentivar”; é preciso se comprometer a dobrar a malha cicloviária nas capitais até 2030, por exemplo. Ter um financiamento dedicado, ou seja, destinar uma porcentagem clara do investimento em transporte para a infraestrutura de mobilidade ativa, retirando o foco exclusivo de estradas e veículos e prioridade de justiça social, focar a expansão cicloviária nas rotas usadas pela população de baixa renda, que é a mais impactada pela crise climática e pela ineficiência do transporte.

Se Belém for apenas o palco para bicicletas de aluguel usadas por diplomatas na “Green Zone” e ignorar a bicicleta do trabalhador que pedala sob sol escaldante, a COP30 terá falhado, provando que, para os líderes mundiais, a bicicleta é uma fantasia climática, e não a revolução do transporte que precisamos.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Portal CSC 

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