spot_img
HomeEIXOS TEMÁTICOSMobilidadeTarifa Zero no DF: o Vai de Graça e o caminho para...

Tarifa Zero no DF: o Vai de Graça e o caminho para uma mobilidade inclusiva

Embora parcial, a gratuidade no transporte público no DF rapidamente conquistou um alto grau de notoriedade e adesão, sugerindo que a política capturou a atenção de diversos segmentos sociais

O debate sobre tarifa zero ganhou evidência nacional na imprensa e no meio político nas últimas semanas. A razão: o presidente Lula encomendou um estudo a integrantes dos ministérios da Fazenda e das Cidades para analisar a viabilidade de implantação da tarifa zero em âmbito nacional.

Aqueles mais familiarizados com o tema sabem que essa é uma política em expansão no Brasil. Hoje, são 138 municipalidades que adotam a gratuidade no transporte público de forma integral, abrangendo quase 8 milhões de habitantes. Além disso, cidades como São Paulo, Maceió e Distrito Federal adotam programas parciais de tarifa zero. No DF, a política começou a ser adotada no primeiro dia do mês de março de 2025 por meio do programa Vai de Graça, que estabeleceu a gratuidade no sistema de transporte coletivo (ônibus e metrô) aos domingos e feriados.

A política, embora parcial, rapidamente conquistou um alto grau de notoriedade e adesão. É o que revela o mais novo relatório do grupo de pesquisa Observatório de Políticas Públicas do Distrito Federal (ObservaDF), da Universidade de Brasília (UnB). O estudo, intitulado Mobilidade urbana e desigualdades de acesso à cidade no Distrito Federal, aponta que 62,9% da população do DF conhece o Vai de Graça. Esse alto índice sugere que a política capturou a atenção de diversos segmentos sociais, extrapolando a bolha dos usuários habituais do transporte público.

Quase metade dos entrevistados que conhecem a iniciativa utilizou o transporte coletivo após a implantação do programa. A análise por grupos de renda revela o impacto social da medida: os moradores das áreas de baixa e média-baixa renda foram os que mais se beneficiaram, confirmando o viés de inclusão da política. Isso indica que a gratuidade está, de fato, alcançando aqueles que têm maior dependência e menor capacidade financeira para arcar com os custos de deslocamento. A aprovação é quase unânime: a avaliação média de satisfação com o Vai de Graça atinge a impressionante nota de 8,2 (em uma escala de 0 a 10), mostrando que a experiência do usuário tem sido positiva.

Para entender esse cenário, um dado importante é o gasto com o transporte. Entre os que utilizam o ônibus como principal modal de deslocamento, o gasto médio é de R$ 13 por dia com a passagem. Se considerarmos os dias úteis do mês, os gastos seriam de cerca de R$ 260 mensal — valor considerável, que pesa no bolso de famílias de menor poder aquisitivo.

O principal achado do relatório, contudo, reside na exploração do potencial de uma tarifa zero universal (aplicada todos os dias da semana). Os dados são notáveis: quase 42% dos entrevistados que utilizam carro e moto próprios como principais meios de locomoção afirmaram que estariam dispostos a migrar para o transporte coletivo na hipótese da gratuidade total. Outros 3,1% disseram que talvez fariam a migração. Ou seja, mais de 45% dos motoristas e motociclistas de Brasília considerariam trocar a comodidade do veículo particular pela gratuidade e, presume-se, pela melhoria do transporte coletivo. Um movimento de massa dessa magnitude teria o poder de aliviar significativamente o trânsito da capital, reduzir a poluição e diminuir os gastos públicos com a manutenção viária e o tratamento de doenças respiratórias.

Para tornar a gratuidade total uma realidade sustentável, o estudo sugere vincular a cobrança de estacionamento em áreas públicas, sobretudo nas regiões mais valorizadas e centrais, ao financiamento do sistema. Essa medida encontra sustentação no seguinte dado: os moradores das áreas mais ricas são os que demonstram maior predisposição a pagar por estacionamentos em áreas públicas: 63% dos moradores dessas localidades estão dispostos a pagar por vagas públicas de estacionamento. Aliado a outras fontes de arrecadação, esse recurso seria direcionado a um fundo que poderia subsidiar um programa de tarifa zero integral no DF.

Em síntese, o estudo revela o caráter inclusivo do Programa Vai de Graça e seu potencial de expansão. Informações como essas ajudam a compreender as razões pelas quais o governo federal se atentou para o tema da tarifa zero. Dado o cenário caótico do trânsito em nossas cidades, a gratuidade no transporte público se apresenta como alternativa concreta para uma mudança de paradigma na mobilidade urbana brasileira, ampliando o acesso à cidade e promovendo mais justiça socioambiental.

Fonte: Correio Braziliense

Artigos relacionados
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img

Mais vistos

- Advertisment -spot_img
- Advertisment -spot_img

Mais vistos