O Selo CSC Ecossistemas de Inovação 2025, realizado pela Necta em parceria com a Exxas, consolidou-se como referência inédita ao avaliar mais de 60 municípios brasileiros em práticas de governança da inovação. Mais do que um ranking, o Selo trouxe à tona sinais de avanço, mas também lacunas estruturais que ajudam a entender por que o Brasil ainda não converte plenamente seu potencial em competitividade global.
O retrato em negativo: transparência baixa, mensuração raríssima
Dois indicadores ajudam a explicar a fragmentação: transparência e mensuração. Menos da metade dos municípios possui sistemas de gestão abertos (43%) e o eixo Transparência segue com média nacional de apenas 41% . Já a mensuração de impacto econômico é quase inexistente — apenas 3% dos municípios praticam .
Por outro lado, os dados mostram que “governança importa”: ecossistemas que formalizaram conselhos ou comitês apresentaram desempenho superior em todos os eixos .
Leitura executiva: sem métricas e dados abertos, o ecossistema opera mais por reputação (eventos e visibilidade) do que por resultados, o que fragiliza a capacidade de atrair compromissos de longo prazo de empresas e financiadores.
Corporate pull não é destino — é governança
A amostra mostra alta mobilização (86% de participação em eventos cocriados) , mas isso não se converte automaticamente em atração de grandes empresas. O padrão observado é outro: municípios com parques e centros de inovação e com políticas formais e planos estratégicos estão mais presentes nas categorias Prata, Ouro e Diamante .
O Startup Ecosystem Report 2025 reforça essa leitura: São Paulo segue entre os cinco maiores hubs globais em Fintech e lidera a América Latina ; Campinas despontou como um dos ecossistemas que mais cresceram no mundo (+208,9%) . Esses exemplos apontam que corporate engagement floresce onde há especialização, escala e governança clara.
O “fetiche da startup” e a economia real esquecida
O dado é revelador: 79% dos municípios têm incubadoras ou aceleradoras, mas a conversão em impacto econômico mensurável permanece mínima (3%) . Isso mostra que muitos ecossistemas ainda operam no fetiche da geração de startups, mas sem conexão robusta com cadeias produtivas locais e PMEs.
Aqui, o instrumento do Contrato Público de Solução Inovadora (CPSI), previsto no marco legal das startups, deveria ser explorado como canal para difusão tecnológica e modernização de setores tradicionais .
Financiamento: de incentivos fiscais a fundos reais
Embora conceitos como Fundos Municipais de Inovação já estejam no vocabulário , a prática corrente segue baseada em incentivos fiscais, pouco eficazes para escalar projetos inovadores. O IBID 2025 mostra que crédito e apoio financeiro ainda são concentrados em níveis estadual/federal, com assimetrias regionais significativas .
Agenda executiva: estruturar fundos municipais/regionais conectados a BNDES e FINEP, em modelos de coinvestimento e “blended finance”, criando capital paciente para inovação territorial.
Medir para decidir: o que “3%” está nos dizendo
Com apenas 3% dos municípios medindo impacto, gestores locais têm dificuldades em justificar recursos para inovação. O dado é inequívoco: sem scorecards territoriais, a inovação seguirá vista como custo, não como investimento .
Profissionalização da gestão: inspiração dentro e fora
O IBID 2025 revela amplitudes enormes entre os estados: em Capital Humano, a diferença entre São Paulo e Alagoas é de 0,723 pontos; em Conhecimento & Tecnologia, a amplitude é de 0,945 . Esses gaps refletem a necessidade de gestão profissionalizada e economicamente sustentável.
No nível municipal, o Selo aponta Curitiba como único município Diamante em 2025, com governança institucionalizada, políticas consolidadas, hubs ativos e participação internacional . Globalmente, a profissionalização também é chave: ecossistemas resilientes são aqueles que combinam funding estruturado, teses setoriais claras e governança independente.
Cultura e modelo mental: fragmentação como sintoma
A fragmentação observada não é apenas fruto da cultura, mas da ausência de arranjos institucionais claros. Onde há governança formal, transparência e integração de hélices, a cultura colaborativa emerge como consequência, não como pré-requisito .
Três movimentos para virar o jogo
- Do evento ao contrato: institucionalizar CPSIs em áreas estratégicas (saúde, educação, mobilidade).
- Do incentivo ao fundo: criar fundos municipais/regionais de inovação com governança independente e coinvestimento federal.
- Da agenda genérica à tese setorial: priorizar 2–3 teses ligadas às vocações locais (agro, saúde, clima), ancoradas em centros/parques de inovação.
Conclusão
O Selo expõe com clareza: governança é o motor da inovação territorial. O Brasil já tem cidades que sinalizam maturidade, mas ainda carece de métricas, financiamento estruturado e profissionalização da gestão para consolidar esse movimento.
Se inovação é o motor, governança é o combustível. Sem ela, continuaremos acumulando potenciais sem convertê-los em protagonismo. Acesse o estudo completo!
Referências:
- Relatório Final – Selo CSC Ecossistemas de Inovação 2025 (Necta & Exxas). ● IBID 2025 – Índice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (INPI). ● Startup Ecosystem Report 2025 (StartupBlink).

Co-fundador e CEO da Exxas Smart City Bureau e da Habitat 4.0 e mentor da Locomotiva Aceleradora. Atuou como Secretário de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação de Tubarão/SC 2017/2023 e Vice Presidente de Desenvolvimento Regional do Fórum Inova Cidades entre 2021/2023.