Entre as pautas do dia tratadas no segundo dia do CSC 2025 foram abordadas o papel da comunicação pública estratégica, das ferramentas digitais e das políticas de segurança viária baseadas em dados como caminhos para tornar as cidades mais inclusivas, conectadas e seguras
Nesta quarta-feira (24/09), o segundo dia do Cidade CSC 2025, apresentou uma programação intensa, reunindo especialistas, gestores públicos, jornalistas e lideranças do setor privado para debater os caminhos para cidades mais inteligentes, humanas e sustentáveis. Realizado no Expo Center Norte, em São Paulo, o Cidade CSC acontece até amanhã (25/09).
Com palcos simultâneos que abrangem diferentes eixos temáticos, ao longo do dia, os debates incluíram temas urgentes como comunicação pública de alta performance, inovação tecnológica na gestão pública, segurança viária, inteligência artificial e proteção de dados.
Para abrir as discussões do dia, a pauta foi a comunicação pública durante o painel Comunicação Pública em Alta Performance. A mesa reuniu a jornalista Natuza Nery, a prefeita de Cruz Alta (RS), Paula Librelotto, e a CEO da Necta e idealizadora do evento, Paula Faria, para discutir como prefeitos e gestores podem utilizar as redes sociais e os canais digitais como ferramentas de transparência, engajamento e aproximação com a população.
“Quando o assunto é comunicação política, a pergunta central costuma ser: qual a melhor forma de se comunicar com uma audiência quando se ocupa um cargo público, como o de um prefeito ou prefeita, cuja missão é servir à sociedade? À primeira vista, pode parecer simples, mas não é. O verdadeiro desafio está em se comunicar com relevância, o que é, talvez, a maior dificuldade enfrentada por quem está na vida pública”, provocou Natuza, logo no início do painel.
Ela defendeu que a essência da comunicação política deve ir além das modas digitais. “Entrar nas ondas das trends virais ou fazer dancinhas pode gerar engajamento momentâneo, mas dificilmente se traduz em voto na urna ou aprovação política real”, afirmou.
A prefeita Paula, reeleita em Cruz Alta com quase 90% dos votos, compartilhou sua experiência prática de comunicação com os moradores da cidade. “Uso redes sociais, jornais e rádios locais para trazer informação e tranquilidade para a população. Eu mesma faço a gestão das minhas redes e tenho muito cuidado para usá-las com responsabilidade. A minha aprovação nas urnas veio em razão do trabalho desenvolvido pela minha gestão e pelo fato de estar presente na comunidade”, relatou.
Ela também alertou para a armadilha que é separar o perfil pessoal e institucional.“Não há como descolar a imagem da prefeita Paula das redes pessoais para as institucionais. Porém, a rede social deve ser usada como um instrumento de comunicação com a população e não de promoção pessoal. Neste sentido, é necessário a maturidade quando o tempo de gestão acabar entregar o institucional fortalecido, com os canais digitais oficiais de informações confiáveis”.
Já a Paula, da Necta, destacou que nas redes sociais é preciso levar uma comunicação clara e acessível. O cidadão não se importa se o prefeito é de esquerda ou direita, se ele entregar o serviço, ele vota novamente”, pontuou. Para ela, dois pontos são fundamentais na comunicação entre gestores e a população: “Trazer a sua essência verdadeira para a comunicação, se expressar como se é de fato. E também saber navegar por pautas que extrapolam as caixas partidárias, uma vez que, por vezes, os prefeitos podem se sentir presos em projetar uma imagem nas redes que reflita apenas o pensamento do partido”.
Transparência
Para finalizar, Natuza defendeu que a transparência deve ser um pilar da comunicação política. “A Lei de Acesso à Informação, por exemplo, deveria ser vista como aliada e não como ameaça. Quando usada de forma proativa, transforma-se em pauta positiva”. Ela reforçou ainda que errar faz parte da gestão pública, mas que o importante é a disposição para corrigir de forma verdadeira.
Um exemplo recente disso foi a recente ‘PEC da Blindagem’. “Muitos deputados que votaram a favor da proposta enfrentaram grande pressão nas redes sociais. Alguns, diante da reação popular, voltaram atrás e admitiram que erraram. Apesar do desgaste gerado no curto prazo, no longo prazo, a correção com transparência tende a fortalecer a imagem política”, disse a jornalista.
Transformação digital é caminho para cidades mais ágeis e conectadas
No eixo CSC GovTech, que é focado na modernização da gestão pública e a promoção de governos mais simples, eficientes e centrados no cidadão, o painel Inovação que funciona: Experiências práticas de transformação digital, reuniu gestores e especialistas para discutir como a tecnologia vem transformando a administração pública em municípios brasileiros.
“Uma cidade inteligente é a que facilita a vida do cidadão. Se tem um aplicativo de serviços, precisa ser simples, acessível e pensado para todos”, afirmou a secretária de Gestão, Inovação e Tecnologia de Jaguariúna, Karina Rodrigues.
Em Jaguariúna, a aposta tem sido no uso de dados para melhorar a gestão. “A cidade é um case de sucesso. Implementamos a identidade única do cidadão, um cartão que registra todas as atividades do morador com a cidade, seja na escola, no posto de saúde ou em outros serviços”, disse a secretária. Ela destacou ainda o programa Jaguariúna Sem Papel, implementado em abril deste ano. “O projeto está promovendo a digitalização total da produção de documentos e da tramitação de processos administrativos, exceto dos processos de licitação”.
Em Osasco, a transformação digital ganhou escala com a aprovação do programa Osasco + Digital, instituído em 2024. Para o diretor de Sistemas Institucionais da Prefeitura de Osasco, Carlos Oliveira, a continuidade das iniciativas entre diferentes gestões tem sido decisiva.
“A colaboração do poder executivo permitiu que a tecnologia não ficasse isolada a cada mudança de mandato. Isso contribuiu para a evolução da cidade na transformação digital”, explicou. Ele ressaltou que um dos maiores desafios foi a integração de dados e serviços municipais: “Criamos o Selo de Transformação Digital e a Rede de Embaixadores Digitais, que engajam secretarias e servidores na digitalização, promovendo letramento interno e externo”, comentou.
Já a experiência trazida pelo setor privado mostrou como a tecnologia pode ser aplicada de forma inclusiva. Representando a Betha Sistemas, que atende mais de 800 municípios no país, o diretor comercial da empresa, Luciano Torres, apresentou o caso de Criciúma (SC).
“A transformação digital na cidade foi feita de dentro para fora, organizando os sistemas internos antes de lançar serviços digitais para a população. Hoje, Criciúma é a segunda cidade mais inteligente de Santa Catarina”, contou. Ele citou como exemplo o atendimento via WhatsApp, que permite até emitir guias de IPTU com mensagens de voz: “É uma forma de promover inclusão digital, usando a ferramenta mais popular entre os cidadãos”.
O painel reforçou que a transformação digital não é apenas uma questão de inovação tecnológica, mas de gestão pública eficiente e centrada no cidadão, capaz de simplificar processos, ampliar o acesso e gerar confiança na administração municipal.
Segurança viária exige integração de dados e políticas públicas
Já no palco ‘Parque da Mobilidade Urbana (PMU)’ o assunto girou em torno da urgência de acelerar a implementação de políticas de segurança viária no Brasil, baseadas em dados e evidências, no painel Transformando a Mobilidade Urbana em um Ambiente Livre de Acidentes.
A diretora de Segurança Viária do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (DETRAN SP), Roberta Mantovani destacou o lançamento da consulta pública do primeiro plano estadual de segurança viária, que é alinhado ao PNATRANS (Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito). “É uma política de Estado construída de forma colaborativa, a partir de dados e evidências. O objetivo é estabelecer metas, indicadores e responsabilidades que permitam coordenar ações mais potentes para um sistema seguro”, afirmou.
Ela também ressaltou o avanço do Infosiga, novo portal de dados lançado pelo órgão: “A plataforma garante transparência e acesso irrestrito às informações, permitindo que todos acompanhem a realidade das rodovias estaduais e dos 645 municípios paulistas”.
O custo dos sinistros de trânsito em São Paulo chegou a R$ 12 bilhões em 2024, número que, segundo os especialistas, reforça a necessidade de integração de políticas. Para o CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária, Paulo Guimarães, a chave está em transformar conhecimento técnico em engajamento social. “No Observatório atuamos em três pilares: a pesquisa, que gera dados; a tradução da informação para a sociedade, com diferentes linguagens para conquistar engajamento; e a construção de projetos baseados em evidências para apoiar a construção de políticas públicas”, explicou.
Já o diretor de Operações do Instituto Cordial, Luis Fernando Villaça Meyer, chamou atenção para a morosidade na transformação dos dados em ação: “Hoje é preciso dois anos de coleta de informações para subsidiar uma política pública de segurança viária. Isso não é aceitável diante do número de mortes anuais”, afirmou.
Ele destacou resultados de cooperação técnica com o governo paulista, como a análise das “frentes seguras” para motocicletas nos semáforos: “Após uma análise com grupo de comparação, o estudo revelou uma redução de 20% nos sinistros graves onde a medida foi implementada, o que levou à meta de ampliação do programa para mais de 300 locais”, comentou.
No painel, os especialistas concordaram que o caminho para um trânsito mais seguro depende de dados e evidências acessíveis, engajamento social e ações rápidas e integradas entre governos, instituições e sociedade civil.
Ranking Connected Smart Cities
O anúncio das 10 cidades mais inteligentes do Brasil segundo o 11ª edição do Ranking Connected Smart Cities movimentou o primeiro dia do evento em São Paulo. Divulgado em 23 de setembro, o levantamento — considerado a principal referência nacional para medir o grau de evolução das cidades brasileiras — analisa 75 indicadores em 13 áreas temáticas, como mobilidade, meio ambiente, tecnologia e governança.
A revelação dos destaques marca um dos momentos mais aguardados do Connected Smart Cities 2025, que segue até 25 de setembro no Expo Center Norte, reunindo gestores públicos, especialistas e empresas que impulsionam a agenda da inovação urbana no país.
A cidade de Vitória (ES) conquistou a liderança do 11o Ranking Connected Smart Cities, superando Florianópolis (SC), primeira colocada em 2024. A localidade também é líder entre as cidades da região Sudeste. Em 2025, Florianópolis passou a ocupar a segunda posição e Niterói (RJ) a terceira posição no cômputo geral.
Completando as cinco cidades mais inteligentes e conectadas do Brasil, as cidades de São Paulo (SP) e Curitiba (PR), ocupam o 4º e 5º lugar respectivamente. O ranking segue com a cidade de Recife (PE), Barueri (SP), Santos (SP), Salvador (BA) e o Rio de Janeiro (RJ).
Serviço
Evento: Cidade CSC 2025 – Evento Nacional
Data: 23 a 25 de setembro de 2025
Horário: 23/09 das 18h às 20h | 24 e 25/09 das 9h às 18h
Local: Expo Center Norte – Rua José Bernardo Pinto, 333 – Vila Guilherme – São Paulo/SP
Realização: Necta
Mais informações e inscrições: www.cidadecsc.com.br
