Brasil terá alguns bons números sobre transporte público sustentável para mostrar na COP30, mas eles já podiam ser muito melhores
A cidade de São Paulo lidera com folga a corrida pela descarbonização das frotas municipais de transporte coletivo e puxa o crescimento dos ônibus elétricos no Brasil. No ano em que o país sediará a COP30, isso é bom e ruim.
Bom, porque reafirma a histórica liderança da maior cidade brasileira com o transporte elétrico sustentável, inaugurada em 1949 quando lançou a primeira linha de trólebus da América Latina.
Ruim, porque a concentração dessa liderança num único município, ainda que o maior deles, mostra que a eletromobilidade no transporte público segue sendo uma preocupação distante para a maioria das grandes cidades brasileiras.
Segundo dados da ABVE Data, o mercado emplacou 306 ônibus elétricos no primeiro semestre do ano. Foi o melhor desempenho da série histórica, com um aumento de 141% sobre o mesmo período de 2024 (127).
Desses 306 emplacamentos, nada menos do que 275 ocorreram na cidade de São Paulo, ou 90% do total. Abrindo um pouco mais o foco, chega-se a 295 no estado de São Paulo, no período – 96% do total.
O crescimento do mercado de ônibus elétricos no Brasil, portanto, é um fenômeno eminentemente paulistano e paulista.
A cidade de São Paulo registrou em julho 841 ônibus elétricos em circulação. Ainda muito distantes dos 2.400 prometidos na última campanha eleitoral, mas suficientes para liderar com folga o ranking brasileiro e tirar do México o terceiro lugar entre os países da América Latina com mais ônibus elétricos.
Em julho, segundo a última atualização do site e-Bus Radar, o Brasil tinha 1.143 ônibus elétricos em circulação, incluindo 327 trólebus. O Chile segue na liderança com 2.761, seguido da Colômbia com 1.541. O México agora está em quarto lugar, com 849.
A proeminência de São Paulo tem, como vimos, raízes históricas, mas deve-se também a motivos institucionais e políticos.
A sustentabilidade do transporte público é um tema apoiado por quase todos os prefeitos paulistanos desde 2009, quando Gilberto Kassab lançou a Política Municipal de Mudança do Clima. Hoje, está no topo da agenda do atual prefeito Ricardo Nunes.
A primeira lição a tirar da experiência de São Paulo é: quando o prefeito e as autoridades municipais efetivamente se engajam na agenda ambiental, a eletromobilidade tem uma chance de sair do papel e virar política pública.
O fato é que já existem condições propícias para ela acontecer em todas as regiões do país. O que está faltando?
O Brasil já tem hoje uma sólida indústria de ônibus elétricos e respectivos componentes, capaz de dar conta da demanda nacional por transporte público sustentável. Essa indústria produz veículos com tecnologia Made in Brazil e conta com fornecedores instalados em território nacional, inclusive de baterias elétricas.
O governo federal também conseguiu estruturar programas financeiros mais atraentes para os operadores de transporte, como o PAC Cidades, via financiamento pelo BNDES.
Mas os números do primeiro semestre contam uma história diferente.
Municípios que emplacaram ônibus elétricos no 1º semestre de 2025:
- São Paulo (SP): 275
- São Bernardo do Campo (SP): 11
- Resende (RJ): 4
- Ribeirão Preto (SP): 4
- Salvador (BA): 3
- Goiânia (GO): 3
- Campinas (SP): 2
- Taboão da Serra (SP): 2
- Cariacica (ES): 1
- Barueri (SP): 1
FONTE: ABVE DATA
Por que cidades e capitais importantes estão fora dessa lista? Estariam pouco interessadas em eletrificar suas frotas de ônibus a diesel, a despeito do inegável apelo popular e eleitoral do tema?
Acredito que responder as essas perguntas deveria ser uma das prioridades do Ministério das Cidades, Ministério do Desenvolvimento, BNDES e outras instâncias do governo federal.
Teremos alguns bons números para mostrar na COP30, é verdade, mas eles poderiam ser muito melhores.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.
