Se eu não fosse ateu convicto, diria que planejar cidades sempre foi um ato de fé. Fé na previsibilidade, no controle, na permanência. Mas talvez não seja fé, e sim uma ilusão de certezas. Por décadas, o urbanismo se pautou por planos rígidos, cronogramas fixos e metas lineares, como se o futuro fosse um destino único e estático. No entanto, o mundo mudou, e com ele, as cidades. Hoje, elas operam em um ambiente de incerteza, interdependência e mudanças constantes. Ainda assim, insistimos em tratar o futuro como algo único, linear e previsível. O conforto da previsibilidade é, no fundo, uma armadilha. E uma ilusão.
O urbanismo tradicional, com sua obsessão pelo conhecido, ainda congela o futuro em masterplans estáticos. Quando finalmente se materializam, esses planos já nascem velhos, descompassados da cidade viva. Em Lugares Futuros, defendo que não basta planejar. É preciso explorar os futuros em sua pluralidade. Não como videntes, mas como exploradores atentos a cada sinal, bifurcação ou novo caminho.
Do prever ao explorar
Prever é tentar congelar um amanhã único. Explorar é reconhecer que há mais de um futuro possível, e preparar o lugar para prosperar em vários deles. É aqui que entra o Sense of Futures: pensar um lugar não apenas pelo que ele é, mas pelo que pode vir a ser. Para isso, é preciso mais do que dados. É preciso leitura estratégica e sensível do presente. E é aqui que o nosso método Urbanscanner© atua, mapeando drivers de mudança nas dimensões urbana, perceptiva, cultural, ambiental, social, tecnológica, econômica e política.
Da exploração à prototipagem de futuros
Mas entender o mapa não basta: é preciso testar caminhos. Prototipar futuros significa simular cenários, criar intervenções temporárias, testar ideias sem o peso da irreversibilidade. Essa abordagem reduz riscos, acelera aprendizados e cultiva uma cultura urbana mais aberta à experimentação. Mais que método, é um ato político. Dá voz às comunidades como coautoras dos futuros, não apenas beneficiárias passivas.
No centro dessa abordagem está o conceito de Lugares à Prova de Futuro: lugares que não apenas resistem ao tempo, mas o incorporam como parceiro. Essa construção nasce da sobreposição de três camadas fundamentais:
- Place Branding: fortalece a identidade e a percepção.
- Placemaking Estratégico: ativa experiências que tornam o lugar vivo e desejável.
- Futurismo Estratégico para Lugares (Place Strategic Foresight©): explora sinais, antecipa cenários e constrói preparação.
- Juntas, essas dimensões não produzem apenas resiliência, mas antifragilidade, a capacidade de crescer com as mudanças justamente por tê-las antecipado e ensaiado.
A bússola e o GPS
Se o planejamento foi a bússola do século XX, a exploração de futuros é o GPS do século XXI. Recalcula rotas, reage a desvios, antecipa obstáculos. Cidades que não exploram futuros ficam presas ao passado ou paralisadas pela inércia.
E, assim, deixo três perguntas:
- Que futuros estamos dispostos a experimentar?
- Quais passados precisam ser lembrados ou reparados?
- Que cultura urbana queremos: a que congela o amanhã ou a que vive seu potencial plural?
Planejar não basta. É hora de explorar.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.

Fundador da N/Lugares Futuros. Especialista em place branding, placemaking e futuro das cidades. Autor, professor e keynote speaker, presente nas principais redes e institutos internacionais que discutem e promovem lugares e futuros.






