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Arquiteto chinês transforma enchentes em solução com conceito das ‘cidades-esponja’

Inspirado pela própria infância, Kongjian Yu defende que água não é inimiga e propõe projetos que devolvem espaço aos rios para combater desastres climáticos.

Na China, um arquiteto vem ganhando destaque mundial ao mostrar que a solução para as enchentes pode estar justamente em conviver melhor com a água. Kongjian Yu, considerado um dos maiores urbanistas do país, transformou o trauma de quase ter se afogado na infância em um conceito que hoje inspira mais de 250 cidades: as chamadas “cidades-esponja”.

Ele explica que a ideia não é nova. Trata-se de uma adaptação de práticas ancestrais de milhares de anos, usadas em vilas rurais, onde a vegetação e as estruturas de contenção desaceleram o fluxo da água. A diferença é que Yu levou esse conhecimento para grandes projetos urbanos, propondo a substituição da chamada “infraestrutura cinza” — muros, concreto e canais — por soluções que devolvem espaço ao rio.

“A água não é inimiga”, resume o urbanista. Em vez de represas e barragens, ele defende parques e áreas verdes que absorvem o excesso de chuva, como uma esponja.”

O que são as “cidades-esponja”

As “cidades-esponja” funcionam em diferentes escalas. Nas vilas históricas, diques de mais de 700 anos mostram como pequenas intervenções já reduzem a força do rio. Em áreas agrícolas, Yu defende que 20% das fazendas sejam destinadas à água, evitando que o escoamento cause alagamentos nas cidades. Em metrópoles como Xangai, parques inteiros foram planejados para se transformar em reservatórios temporários quando chove demais.

O urbanista também levou o conceito ao Brasil. Em visita ao Rio de Janeiro, sugeriu mudanças na Avenida Francisco Bicalho, no centro da cidade, com a proposta de dobrar o espaço destinado à água e, assim, reduzir enchentes. “Você transfere a avenida para a rua de trás, resolve o problema e ainda aumenta o valor das propriedades”, disse.

Apesar da imagem de inovação, Yu reforça que se trata de recuperar uma sabedoria antiga. Ele se inspira na experiência como agricultor até os 17 anos e na lógica simples da natureza: a vaca come a grama, o esterco aduba o arroz, a vegetação filtra nutrientes e a água retorna limpa ao rio. “É um jeito sábio de usar a água”, explica.

A filosofia por trás de seus projetos dialoga com a própria cultura chinesa, em especial com o conceito do chi — o sopro vital que deve sempre fluir. Para Yu, tentar aprisionar a água adoece as cidades modernas. Ao contrário, tratada como um ser vivo, ela devolve equilíbrio e vida às comunidades.

Hoje, a China apresenta essas iniciativas como vitrine no combate às mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que enfrenta críticas por ser o país que mais emite carbono no mundo. Entre contradições, os parques projetados por Yu já recebem milhões de visitantes e viraram exemplo global de como aliar urbanismo e sustentabilidade.

Para o arquiteto, a mensagem é simples: “Abrace a água. Deixe a água flutuar”.

Fonte: Fantástico | G1

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