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Transformação digital nas empresas impulsiona agenda de inovação e reforça base para cidades mais inteligentes

Jamile Sabatini Marques
Jamile Sabatini Marques
Jamile Sabatini Marques é diretora de Inovação e Fomento e diretora do Think Tank - Centro de Inteligência de Inovação, Políticas Públicas e Inovação da Associação Brasileira das Empresas de Software – ABES e já atuou em alguns programas de fomento à inovação. É pós-doutora em Desenvolvimento Baseado no Conhecimento pela UFSC e pelo Instituto de Estudos Avançados da USP. É Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina, onde defendeu a sua tese sobre a importância de se fomentar a Inovação para gerar desenvolvimento econômico baseado no Conhecimento.

Como a Inteligência Artificial está transformando negócios e serviços públicos brasileiros

Por Jamile Sabatini Marques

A digitalização dos negócios brasileiros é uma realidade em curso. O mais recente estudo da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES), desenvolvido em parceria com a International Data Corporation (IDC) e intitulado Transformação Digital no Brasil – Perspectivas 2025, revela que 95,2% das empresas ouvidas já utilizam ou planejam utilizar inteligência artificial (IA) nos próximos 12 meses. Trata-se de um sinal claro de que a tecnologia deixou de ser apenas suporte operacional e passou a ocupar posição central na estratégia corporativa.

Realizado entre janeiro e abril de 2025, o levantamento ouviu 106 executivos de grandes empresas nos setores de agronegócio, saúde, finanças e educação. A maioria das companhias já destina de 5% a 6% da receita para investimentos em tecnologia da informação (TI), e 75% delas afirmam que pretendem aumentar esse percentual nos próximos anos. A IA aparece como protagonista nessa transformação, voltada principalmente à melhoria da experiência do cliente, segurança de dados e uso estratégico de informações para decisões de negócio.

Além disso, o estudo também destaca que parte relevante dessas organizações está reduzindo investimentos em dispositivos físicos como PCs e tablets, priorizando soluções em nuvem e ambientes virtualizados, que oferecem escalabilidade, flexibilidade e maior poder de processamento — elementos indispensáveis à era da IA generativa. Esse movimento aponta para uma mudança de mentalidade: mais do que modernizar a infraestrutura, estamos nos preparando para um futuro dinâmico, orientado por dados e automação.

Mas a consolidação dessa transformação enfrenta entraves expressivos. A pesquisa da ABES também revela desafios que exigem ação coordenada: a escassez de mão de obra qualificada e a falta de diretrizes regulatórias claras limitam o ritmo da adoção tecnológica no Brasil. Para que a transformação seja sustentável e acessível, é necessário investir em capacitação profissional e infraestrutura, promovendo um ambiente que favoreça tanto as empresas quanto o setor público — e, sobretudo, garantindo que a inovação chegue aos diferentes territórios e particularidades regionais do país.

Os avanços no setor privado são parte de um movimento mais amplo de inovação. Eles moldam a infraestrutura, a cultura e as expectativas que pressionam — e viabilizam — mudanças também no setor público, especialmente nas cidades.

É dentro desse contexto que se amplia o debate sobre a construção de cidades conectadas. A adoção de tecnologias emergentes pelo setor privado ajuda a consolidar a base técnica e cultural necessária para que governos também avancem na transformação digital de serviços públicos. Ambientes virtualizados, inteligência artificial aplicada à análise de grandes volumes de dados, cibersegurança, interoperabilidade de sistemas e infraestrutura em nuvem são, hoje, requisitos básicos para a criação de cidades mais eficientes, sustentáveis e inteligentes.

Contudo, essa transição só será viável de forma ampla se forem fortalecidos os mecanismos institucionais que permitam a transposição efetiva dessas tecnologias do ambiente corporativo para o âmbito público, com atenção às especificidades operacionais, regulatórias e sociais envolvidas.

Para que a tecnologia promova, de fato, cidades mais inteligentes, é fundamental que venha acompanhada de novos modelos de governança digital. A digitalização é um passo essencial, mas é ao usar os dados de forma estratégica que conseguimos evoluir para políticas públicas mais transparentes, integradas e cidadãs. A interoperabilidade entre plataformas, o uso ético de algoritmos e a coordenação entre diferentes esferas de governo são eixos dessa transformação. Mais do que conectividade, trata-se de construir uma gestão pública orientada por dados — colaborativa, responsiva e inclusiva.

Leia mais: Agentes de IA: a nova fase promissora dos sistemas para gestão pública

Cidades verdadeiramente inteligentes nascem da combinação entre inovação tecnológica e o engajamento ativo de quem vive nelas. A transformação digital deve ampliar os canais pelos quais a população pode colaborar, fiscalizar, propor e cocriar soluções urbanas. Plataformas digitais participativas, sistemas de escuta ativa, dados abertos e algoritmos explicáveis são ferramentas que transformam o cidadão de usuário passivo em agente ativo do desenvolvimento urbano. Mais do que eficiência operacional, é preciso garantir que a transformação digital gere engajamento e aprendizado contínuo com a sociedade.

Quando empresas investem em IA para ganhar eficiência e previsibilidade, elas desenvolvem soluções que podem — e devem — ser adaptadas a demandas urbanas: sistemas de mobilidade que respondem em tempo real ao trânsito, plataformas que integram dados de saúde pública, algoritmos que antecipam demandas por energia ou segurança. O setor privado, ao liderar essa agenda, fortalece sua própria competitividade e impulsiona a construção de um ecossistema digital que beneficia toda a sociedade.

Para que essa transformação gere valor social duradouro, a ABES acredita que a inovação deve estar a serviço da sociedade. Foi com essa visão que criou a Vertical de Negócios de Cidades Inteligentes, com a missão de fomentar oportunidades de negócios para suas associadas e apoiar a transformação digital dos municípios brasileiros. A iniciativa atua promovendo o diálogo entre diferentes setores e impulsionando soluções colaborativas destinadas à melhoria dos serviços urbanos e à qualificação da gestão pública. 

Dessa maneira, a digitalização empresarial é uma peça-chave na evolução das cidades brasileiras. À medida que as empresas avançam em inteligência artificial, contribuem para uma base técnica robusta capaz de alimentar plataformas públicas, criar cidades mais responsivas e colocar o cidadão no centro das decisões. O Brasil já dá sinais de maturidade digital. O próximo passo é garantir que essa transformação chegue a todos os territórios — físicos e digitais. 

Esse salto exige uma estratégia nacional articulada, unindo governo, setor privado, universidades e sociedade civil em torno de uma visão comum: a de que inovação tecnológica só se realiza plenamente quando promove inclusão, eficiência e bem-estar coletivo. Nesse cenário, a inteligência artificial se firma como uma referência para o desenvolvimento de soluções que tornam as cidades mais inteligentes, conectadas e voltadas às pessoas.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

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