No Brasil, um dos maiores produtores de petróleo, a cadeia de óleo e gás é relevante para a economia; encerrá-la sem alternativas pode gerar impactos sociais e regionais
No debate climático, é comum afirmar que precisamos “deixar o petróleo no solo”. A urgência em frear as mudanças climáticas e evitar pontos de não retorno justifica o fim da exploração de fósseis. No entanto, enquanto a demanda continuar alta, a pressão por extração continuará. Por isso, a transição energética deve ser entendida como transformação da demanda por energia, não só como restrição da oferta.
O World Energy Outlook 2024, da Agência Internacional de Energia, mostra esse desafio: mesmo com o aumento de quase 50% da capacidade instalada de renováveis, dois terços da demanda foram atendidos por fósseis em 2023. Como resultado, as emissões energéticas globais bateram recorde. Ou seja, não basta restringir a oferta se seguimos consumindo petróleo intensamente.
Esse dilema é crítico nos setores mais intensivos em petróleo: indústria, petroquímica e transportes. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), esses setores responderam por mais de 50% das emissões energéticas em 2023 — cerca de 223 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Para uma transição energética justa e eficaz, é preciso reduzir a demanda por petróleo com foco em transporte coletivo, combustíveis renováveis, mobilidade urbana sustentável e modernização industrial, especialmente nos segmentos dependentes de fósseis. Focar na demanda acelera a descarbonização e amplia os benefícios sociais e econômicos da transição.
Há sinais positivos, como o avanço da China na mobilidade elétrica e na eletrificação industrial. Mas a migração da demanda para países como a Índia reforça a necessidade de estratégias globais coordenadas, considerando diferentes realidades.
No Brasil, um dos maiores produtores de petróleo, a cadeia de óleo e gás é relevante para a economia. Encerrá-la sem alternativas pode gerar impactos sociais e regionais. É urgente um planejamento energético de longo prazo que viabilize a substituição do petróleo sem ampliar desigualdades. Contudo, o governo segue promovendo leilões, como a nova rodada de 332 blocos ofertados em 17 de junho.
Sediar a COP-30 traz ao Brasil o desafio de liderar ações pela descontinuidade dos fósseis e, internamente, priorizar soluções para atender à demanda com energia de baixo carbono. Isso inclui fortalecer o sistema elétrico — transmissão, armazenamento e geração — com eletrificação dos usos finais e biocombustíveis. São alternativas concretas à dependência de novos leilões de óleo e gás.
Fonte: Terra
