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Modelo digital de visão do céu permite compreender o comportamento das grandes cidades

O fator de visão do céu (FVC) é uma tentativa de redução da dimensão da complexidade da cidade, ao permitir a modelagem do ambiente urbano e da paisagem para estudos climáticos

O processo de radiação é um dos elementos centrais nos estudos de climatologia nas cidades. “Esse processo ocorre de maneira muito diferente do que se observa nos ambientes onde a natureza é mais preservada. Temos uma diversidade de materiais, formas e quantidade de edificações e construções que torna difícil calcular a radiação que incide e retorna ao ambiente”, explica Fernando Gomes.

O pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), que é doutorando em Engenharia de Transportes e Infraestruturas Espaciais pela Escola Politécnica (Poli) da USP, explica a importância e as aplicações do fator de visão do céu (FVC), índice que mede a quantidade de céu visível em um determinado ponto geográfico. Essa análise permite a modelagem do ambiente urbano e da paisagem — a representação de elementos construídos, sistemas de espaços abertos e o meio ambiente —, além de permitir a pesquisa da dispersão de energia térmica armazenada na atmosfera.

Em artigo publicado recentemente, Fernando Gomes propõe um novo método para calcular o FVC para grandes áreas urbanas, utilizando levantamentos a laser feitos pelas administrações públicas das cidades de São Paulo, no Brasil, e Nova York, nos Estados Unidos, como estudos de caso para o desenvolvimento do modelo.

Meio urbano

Segundo o especialista, os estudos sobre FVC surgiram a partir de dois pesquisadores, na década de 1980, que correlacionam o microclima (clima existente dentro de uma pequena área) à quantidade de céu observada. “Eles estavam estudando como a radiação solar acaba se dissipando em um ambiente urbano, porque, diferentemente do ambiente natural, o ambiente urbano apresenta outras características morfológicas”, afirma. Dessa forma, existe a influência desse aspecto nos fenômenos climáticos.

Assim, o fator de visão do céu permite entender o comportamento de grandes cidades, como São Paulo, no Brasil, e Baixa Manhattan, nos Estados Unidos, cuja urbanização é elevada e verticalizada. “Eles formam espaços onde existe uma grande região de sombreamento e onde a radiação solar, a partir do momento que entra, não consegue se dissipar mais da mesma maneira que ela faria quando não houvesse esses edifícios.” Gomes explica que o processo causa a formação dos chamados cânions urbanos, áreas urbanas com grande densidade de construções.

Para ele, a pesquisa considera a complexidade das cidades e os atores desse meio: ambiente, saúde, cenários e paisagens. “O FVC é uma maneira de simplificar, porque eventualmente a gente não consegue lidar com todos os dados ao mesmo tempo. Ele é uma tentativa de redução da dimensão da complexidade da cidade”, demonstra. O especialista cita o uso de aplicativos de navegação por GPS e a redução da acurácia dos sensores nos centros urbanos, a depender da área visível do céu.

“De baixo para cima”

Para o pesquisador, o modelo digital contínuo desenvolvido no Centro de Estudos da Metrópole e na Poli é uma inovação que possibilita a representação gráfica e cartográfica sob outra perspectiva: “Diferentemente dos mapas tradicionais, […] esse mapa é feito de baixo para cima, ou seja, a partir de um determinado ponto do observador, quanto de céu que ele pode observar”.

O dado primário que proporcionou o método foi o LiDAR (Light Detection and Ranging — Detecção e Alcance de Luz, em tradução livre), uma forma de sensoriamento a partir de ondas de laser, que são disparadas e retornam para o emissor. “É possível a gente ter um mapeamento 3D da cidade, ou seja, a gente consegue ver a altura, a gente consegue medir a altura dos objetos que estão sendo mapeados, assim como as edificações, a vegetação”, explica.

Gomes afirma que o produto final é uma nuvem de pontos 3D, que proporcionam a reconstituição e o cálculo do fator de visão do céu. Ele justifica que o trabalho sobre obstruções pode ser utilizado em outras áreas, como a saúde. “Uma pesquisa está correlacionando na China a prevalência de depressão em idosos ao baixo fator de visão do céu”, finaliza.

Com informações do CEM

Fonte: Jornal USP

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Modelo digital de visão do céu permite compreender o comportamento das grandes cidades

O fator de visão do céu (FVC) é uma tentativa de redução da dimensão da complexidade da cidade, ao permitir a modelagem do ambiente urbano e da paisagem para estudos climáticos

O processo de radiação é um dos elementos centrais nos estudos de climatologia nas cidades. “Esse processo ocorre de maneira muito diferente do que se observa nos ambientes onde a natureza é mais preservada. Temos uma diversidade de materiais, formas e quantidade de edificações e construções que torna difícil calcular a radiação que incide e retorna ao ambiente”, explica Fernando Gomes.

O pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), que é doutorando em Engenharia de Transportes e Infraestruturas Espaciais pela Escola Politécnica (Poli) da USP, explica a importância e as aplicações do fator de visão do céu (FVC), índice que mede a quantidade de céu visível em um determinado ponto geográfico. Essa análise permite a modelagem do ambiente urbano e da paisagem — a representação de elementos construídos, sistemas de espaços abertos e o meio ambiente —, além de permitir a pesquisa da dispersão de energia térmica armazenada na atmosfera.

Em artigo publicado recentemente, Fernando Gomes propõe um novo método para calcular o FVC para grandes áreas urbanas, utilizando levantamentos a laser feitos pelas administrações públicas das cidades de São Paulo, no Brasil, e Nova York, nos Estados Unidos, como estudos de caso para o desenvolvimento do modelo.

Meio urbano

Segundo o especialista, os estudos sobre FVC surgiram a partir de dois pesquisadores, na década de 1980, que correlacionam o microclima (clima existente dentro de uma pequena área) à quantidade de céu observada. “Eles estavam estudando como a radiação solar acaba se dissipando em um ambiente urbano, porque, diferentemente do ambiente natural, o ambiente urbano apresenta outras características morfológicas”, afirma. Dessa forma, existe a influência desse aspecto nos fenômenos climáticos.

Assim, o fator de visão do céu permite entender o comportamento de grandes cidades, como São Paulo, no Brasil, e Baixa Manhattan, nos Estados Unidos, cuja urbanização é elevada e verticalizada. “Eles formam espaços onde existe uma grande região de sombreamento e onde a radiação solar, a partir do momento que entra, não consegue se dissipar mais da mesma maneira que ela faria quando não houvesse esses edifícios.” Gomes explica que o processo causa a formação dos chamados cânions urbanos, áreas urbanas com grande densidade de construções.

Para ele, a pesquisa considera a complexidade das cidades e os atores desse meio: ambiente, saúde, cenários e paisagens. “O FVC é uma maneira de simplificar, porque eventualmente a gente não consegue lidar com todos os dados ao mesmo tempo. Ele é uma tentativa de redução da dimensão da complexidade da cidade”, demonstra. O especialista cita o uso de aplicativos de navegação por GPS e a redução da acurácia dos sensores nos centros urbanos, a depender da área visível do céu.

“De baixo para cima”

Para o pesquisador, o modelo digital contínuo desenvolvido no Centro de Estudos da Metrópole e na Poli é uma inovação que possibilita a representação gráfica e cartográfica sob outra perspectiva: “Diferentemente dos mapas tradicionais, […] esse mapa é feito de baixo para cima, ou seja, a partir de um determinado ponto do observador, quanto de céu que ele pode observar”.

O dado primário que proporcionou o método foi o LiDAR (Light Detection and Ranging — Detecção e Alcance de Luz, em tradução livre), uma forma de sensoriamento a partir de ondas de laser, que são disparadas e retornam para o emissor. “É possível a gente ter um mapeamento 3D da cidade, ou seja, a gente consegue ver a altura, a gente consegue medir a altura dos objetos que estão sendo mapeados, assim como as edificações, a vegetação”, explica.

Gomes afirma que o produto final é uma nuvem de pontos 3D, que proporcionam a reconstituição e o cálculo do fator de visão do céu. Ele justifica que o trabalho sobre obstruções pode ser utilizado em outras áreas, como a saúde. “Uma pesquisa está correlacionando na China a prevalência de depressão em idosos ao baixo fator de visão do céu”, finaliza.

Com informações do CEM

Fonte: Jornal USP

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