Mobilidade conectada e eletrificação são um meio para cidades mais inteligentes, sustentáveis e humanas.
O setor de mobilidade urbana enfrenta um cenário de crescentes pressões nas infraestruturas das grandes cidades. A demanda por serviços mais eficientes, o aumento dos custos operacionais e de manutenção de sistemas de transporte poluentes e ultrapassados, além da malha viária saturada, são alguns dos sintomas da estagnação do modelo que vem sendo reproduzido há décadas. Recorrer à construção de viadutos, avenidas e túneis como soluções isoladas já não corresponde aos anseios de uma população que busca mais agilidade e qualidade de vida. O impacto de horas perdidas no trânsito ou no transporte coletivo se traduz em prejuízos financeiros significativos, além de contribuir para problemas de saúde física e mental.
Cabe aos gestores públicos e privados demonstrar que estão atentos às necessidades de mudança e dispostos a adotar uma visão holística sobre as cidades que administram. A atual conjuntura aponta para a modernização tecnológica como fator essencial para aumentar a competitividade, o desenvolvimento econômico e social, a geração de renda e de novos negócios, a diminuição do impacto ambiental e fortalecer a cidadania.
A integração entre redes inteligentes e tecnologias de conectividade desponta como vetor de inovação para uma gestão da mobilidade voltada para o futuro. Aliada a isso, a renovação da frota por veículos elétricos adiciona uma perspectiva mais econômica e sustentável. Racionalizar o sistema é um dos grandes desafios das cidades inteligentes, que devem priorizar soluções que ofereçam conforto, segurança e rapidez.
A incorporação de tecnologias digitais — como conectividade 5G, sensores e plataformas de gestão de dados e monitoramento em tempo real — garante o salto qualitativo da mobilidade para um novo patamar de inteligência urbana. A mobilidade conectada permite não apenas operar frotas com mais eficiência, mas planejar rotas com base em dados dinâmicos, monitorar o desempenho energético em tempo real e responder rapidamente a imprevistos. Associada a redes urbanas integradas, essa infraestrutura cria um ecossistema em que transporte, energia e informação funcionam de maneira coordenada, otimizando recursos e transformando o simples ato de deslocamento em uma ação mais previsível e ágil.
A eletrificação dos transportes públicos e individuais tem avançado de forma significativa nas principais metrópoles globais. Ônibus, vans e até caminhões movidos a eletricidade estão deixando de ser exceções para se tornarem parte do cotidiano. Essa transição, além de reduzir emissões, representa uma oportunidade concreta de modernização, com capacidade de atrair investimentos em infraestrutura e movimentar cadeias produtivas ligadas à inovação.
Exemplos recentes demonstram como o investimento em tecnologias limpas e conectadas está se consolidando como uma política de longo prazo. Em São Paulo, atualmente há 527 ônibus elétricos a bateria em operação, além de 201 trólebus, totalizando 728 veículos movidos a eletricidade. Agora, a cidade se prepara para um novo ciclo de expansão, com investimentos sólidos e visão de longo prazo. O novo plano municipal (2025–2028) prevê a incorporação de 2.200 ônibus menos poluentes, com foco em modelos elétricos. O projeto conta com um financiamento do BID para atualização da frota e digitalização da operação. A expectativa é que São Paulo se torne referência nacional em mobilidade elétrica nos próximos anos.
Com mais de 500 mil habitantes, Serra, no Espírito Santo, inaugurou recentemente a primeira via inteligente do estado, equipada com câmeras de vigilância integradas, iluminação LED automatizada e sensores para controle de tráfego. A cidade também investiu em centros de controle operacional que integram dados em tempo real sobre mobilidade. Iniciativas como pontos de ônibus conectados, com painéis digitais que informam a previsão de chegada dos veículos e oferecem Wi-Fi gratuito, começam a transformar a paisagem urbana e a dinâmica econômica do município.
Internacionalmente, o exemplo de Shenzhen, na China, é um dos mais emblemáticos. A cidade eletrificou toda a sua frota de ônibus e táxis, integrando esses veículos a uma rede de dados que permite gestão centralizada, previsibilidade de horários e eficiência operacional. Essa transformação se deu em poucos anos, graças a uma estratégia de Estado que combinou financiamento, regulação e metas de inovação. Como destacado em análise recente do Valor Econômico, Shenzhen exemplifica o potencial de uma mobilidade urbana inteligente como alavanca para o crescimento econômico e a competitividade global.
A mobilidade conectada também está diretamente ligada à reconfiguração dos espaços urbanos. O uso de dados permite redesenhar rotas de ônibus, criar faixas exclusivas com base em fluxo real de passageiros e adaptar a oferta conforme a demanda. Tecnologias como gêmeos digitais e plataformas integradas de mobilidade oferecem aos gestores públicos novas ferramentas para tomar decisões baseadas em evidências e com foco na eficiência operacional e no retorno sobre investimento.
O desafio, agora, é escalar essas soluções. Para isso, é essencial ampliar os investimentos em infraestrutura de conectividade, garantir a interoperabilidade entre sistemas e fomentar parcerias público-privadas que acelerem a implementação de tecnologias. A criação de marcos regulatórios claros e a adoção de modelos de financiamento inovadores também são caminhos para viabilizar essa transição.
A mobilidade urbana do futuro será, inevitavelmente, elétrica, digital e orientada à eficiência. Cidades que compreenderem essa convergência não apenas responderão aos desafios contemporâneos, mas estarão à frente na criação de ambientes urbanos mais inteligentes, dinâmicos e competitivos. Trata-se de uma agenda que exige visão estratégica, ação coordenada e, sobretudo, um compromisso com o bem-estar coletivo e com a construção de um futuro mais conectado e economicamente vibrante e sustentável.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.

Vice-Presidente de Relações Públicas da Huawei na América Latina e Caribe, com contribuição significativa na construção de parcerias que alavancam a transformação digital no Brasil. O executivo já atuou como gestor de Rede e Data Center da Prodam – SP, passando por multinacionais como Cabletron, Enterasys e CISCO, onde foi responsável pela área de Diretorias Regionais de Vendas.