Nos últimos anos, a internet transformou-se em uma parte indispensável da vida moderna, especialmente para a juventude. Entretanto, essa ferramenta poderosa traz consigo não apenas benefícios, mas também uma série de riscos. Um dos aspectos mais obscuros do mundo digital é conhecido como “deep web”, que se refere a uma camada da internet que não é indexada por mecanismos de busca tradicionais. Dentro da deep web, encontramos a “dark web”, um ambiente clandestino onde ocorrem atividades ilegais, como o aliciamento de jovens por indivíduos mal-intencionados que exploram a fragilidade dessa faixa etária.
É importante esclarecer a diferença entre deep web e dark web, frequentemente confundidas. A deep web abrange qualquer parte da internet que não é acessível por meio de buscas comuns, incluindo desde bases de dados acadêmicas até redes privadas. Por outro lado, a dark web é uma subseção específica e intencionalmente oculta da deep web, acessada através de softwares especializados, como o Tor. É nesse espaço sombrio que se concentram atividades ilícitas, como tráfico de drogas, comércio de armas e redes que aliciam jovens. Esses criminosos utilizam esses ambientes para se conectar com suas vítimas, muitas vezes oferecendo um sentido de pertencimento e amizade, o que pode ser extremamente atraente para adolescentes em busca de aceitação social.
Casos trágicos, como o massacre de Realengo, além de outros atentados em instituições de ensino no Brasil, destacam a urgência de abordar essa problemática. Muitos desses episódios de violência foram incitados por grupos que atuam na internet, promovendo a violência e a rebeldia, evidenciando assim a influência perniciosa que o ambiente virtual pode exercer sobre jovens impressionáveis. Portanto, é fundamental que os pais se conscientizem sobre o que seus filhos consomem online, com quem interagem em chats de jogos e quais fóruns visitam. Com frequência, os jovens se conectam a comunidades que discutem assuntos delicados, como suicídio e bullying, sem a devida supervisão.
A dependência digital tornou-se um fenômeno crescente entre crianças e adolescentes. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, redes sociais e aplicativos pode levar a um comportamento compulsivo, dificultando o controle sobre o tempo despendido online. Essa dependência pode resultar em sérios problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão, além de afetar negativamente o desempenho escolar e as relações interpessoais. Quando o ambiente virtual não é monitorado de maneira adequada, pode se transformar em uma armadilha, onde os jovens se isolam cada vez mais da vida real.
Os impactos do uso excessivo das redes sociais também são alarmantes e têm mostrado consequências significativas na saúde mental dos jovens. A constante comparação com os outros, a pressão para manter uma imagem perfeita e a exposição ao cyberbullying são fatores que contribuem para o aumento de problemas emocionais. Estudos têm demonstrado que jovens que passam longas horas em redes sociais apresentam níveis mais elevados de ansiedade e depressão, o que resulta em uma deterioração do seu bem-estar psicológico.
Aplicativos como o Discord, que gozam de grande popularidade entre os gamers, também trazem seus próprios riscos. Embora sejam plataformas de comunicação e socialização, muitas vezes podem ser utilizadas para interações que se revelam perigosas. O Discord permite que os usuários criem servidores privados onde podem interagir, mas esses espaços nem sempre são seguros. Os jovens podem se tornar alvos de aliciadores, que se utilizam da anonimidade proporcionada pela internet para manipular e explorar suas vulnerabilidades. O Project Z é outro exemplo de um jogo associado a práticas de violência e comportamentos de risco, apresentando uma mecânica que pode incentivar atitudes agressivas entre os participantes.
É preocupante notar que muitos pais não estão cientes das classificações etárias de jogos e filmes que seus filhos consomem. Títulos que glorificam a violência ou promovem o uso de substâncias ilícitas têm potencial para impactar negativamente o comportamento dos jovens. A exposição contínua a conteúdos violentos — seja em jogos, animes ou filmes — pode resultar na normalização da violência, levando esses jovens a expressar comportamentos agressivos nas suas interações sociais. É comum pais de adolescentes e crianças dizerem que estão jogando dentro de casa, sob seus olhares e julgarem de forma errônea que estão protegidos, um jovem que interage de forma digital no mundo online corre muitos riscos se os responsáveis não se atentarem para o que realmente estão fazendo e conversando lá.
A lógica que rege a internet e as redes sociais, impulsionada por algoritmos que capturam preferências e dados pessoais, agrava ainda mais a situação. Esses algoritmos são projetados para maximizar o engajamento, frequentemente direcionando os usuários a conteúdos extremos ou prejudiciais sem que eles percebam. O projeto de lei em tramitação, de autoria do deputado Fabiano Comparato, busca aumentar a responsabilidade dos provedores de internet sobre o conteúdo que é disseminado em suas plataformas. É crucial que existam punições severas para aqueles que permitem a propagação de informações prejudiciais, assim como para as plataformas que facilitam esses comportamentos.
De acordo com uma pesquisa da Unicamp, o Brasil registrou 25 ataques a escolas nos últimos 22 anos, resultando em 40 mortes. Esses dados alarmantes ressaltam a necessidade de um controle mais rigoroso sobre o que os jovens acessam na internet. A falta de supervisão pode não apenas expor os jovens a aliciadores, mas também incentivá-los a cometer crimes.
Neste cenário, os pais desempenham um papel fundamental e devem estar atentos ao comportamento de seus filhos, assim como às suas atividades online. A vigilância deve ir além das conversas pessoais, abrangendo também o mundo digital, onde os jovens podem se perder em um mar de informações perigosas. Quando a internet é utilizada sem supervisão adequada, pode tornar-se um espaço de alto risco, onde os jovens são facilmente manipulados e expostos a influências nocivas.
A sociedade precisa reconhecer os perigos que a internet, especialmente a deep web e a dark web, apresenta. Os responsáveis pela educação e proteção dos jovens devem adotar uma postura proativa. A combinação de supervisão parental, educação sobre o uso seguro da internet e uma legislação mais rigorosa pode ajudar a mitigar os riscos associados ao uso descontrolado da tecnologia, protegendo assim os jovens de se tornarem tanto vítimas quanto perpetradores de crimes. O mundo digital é um futuro que já chegou e precisamos usar com responsabilidade.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

possui 30 anos de experiência na gestão pública, é socióloga, administradora, especialista em Direito Penal e tem MBA em Gestão, Inteligência em Segurança Pública. Trabalhou na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, foi Diretora Executiva da Câmara Municipal de São Paulo, Diretora Administrativa e Coordenadora de Esporte e Lazer da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo, foi assessora técnica da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Secretária de Desenvolvimento Econômico de Santo Antônio de Posse/SP, Secretária de Gestão de
projetos e Programas, Inovação, Tecnologia e mobilidade Urbana de Louveira/SP, entre outros. Coordenou o Programa de Cidades Inteligentes do município de Jaguariúna, no Estado de São Paulo e com esse projeto a cidade já foi premiada por seis anos consecutivos no ranking da Connected Smart Cities/Urban Systems. Ao longo de sua carreira trabalhou tanto no Poder Executivo como no Legislativo. Ocupou diversos cargos e hoje se dedica a gestão das Smart Cities, acredita que uma cidade inteligente é aquela que utiliza a tecnologia em favor da eficiência no atendimento aos cidadãos. É autora de diversos projetos de Lei regulamentando a tecnologia 5G. Atualmente é Secretária de Gestão, Inovação e Tecnologia de Jaguariúna.