A transformação digital das cidades está redefinindo a relação entre os cidadãos e o espaço urbano. As tecnologias digitais oferecem alternativas inovadoras para enfrentar desafios urbanos antigos, como mobilidade, segurança e sustentabilidade, com o poder público desempenhando um papel central na garantia de que essas inovações sejam inclusivas e acessíveis.
A implementação de tecnologias digitais nos espaços urbanos já não é mais apenas uma tendência, mas uma ferramenta indispensável para melhorar o funcionamento das cidades. Quando integradas ao cotidiano, essas tecnologias permitem uma interação em tempo real entre moradores e a cidade, otimizando serviços e recursos, além de criar ambientes mais seguros e sustentáveis.
Aplicativos de mobilidade, sistemas de transporte público com informações atualizadas e plataformas culturais facilitam o planejamento diário dos cidadãos. Essas ferramentas oferecem maior liberdade de escolha e controle das atividades diárias, ao passo que reduzem congestionamentos e incentivam o uso de opções mais sustentáveis, como transporte coletivo e bicicletas. Para as cidades, os benefícios incluem maior eficiência na prestação de serviços urbanos e melhor alocação de recursos, contribuindo para a redução da poluição e outros problemas estruturais.
Em Barcelona, a plataforma digital Decidim Barcelona (https://timeuse.barcelona/good-practices/decidim-barcelona-digital-participatory-platform/) demonstra como a inovação digital pode promover a participação cidadã. Essa ferramenta, baseada em software de código aberto, permite que os cidadãos contribuam para decisões políticas e urbanas, garantindo transparência e inclusão. O modelo exemplifica como soluções digitais fortalecem o engajamento público, ao mesmo tempo em que abordam desafios práticos de mobilidade e sustentabilidade.
Plataformas digitais para consultas e fóruns promovem engajamento nas decisões políticas, permitindo que a diversidade de opiniões seja considerada. A inclusão social também é favorecida, uma vez que essas ferramentas possibilitam a participação de grupos historicamente limitados por barreiras como restrições de tempo ou mobilidade. Para os gestores públicos, o resultado é um processo decisório mais representativo, com impactos diretos na formulação de políticas urbanas. Deve ser levada em consideração que a participação de formato digital também promove exclusões, seja por limitação de acesso à redes, equipamentos ou letramento digital, demandando um uso complementar de soluções participativas online e offline.
A digitalização contribui para ambientes urbanos mais seguros. Sensores inteligentes, câmeras de monitoramento e sistemas de alerta em tempo real não apenas reduzem a criminalidade, mas também agilizam a resposta das autoridades em emergências, como acidentes ou desastres naturais. Singapura, por meio do programa Smart Nation (https://www.smartnation.gov.sg/), exemplifica o uso de sensores e tecnologias avançadas para monitorar emergências e reduzir a criminalidade. Esses sistemas digitais não apenas melhoram a segurança nas cidades, mas também otimizam a alocação de recursos, priorizando áreas vulneráveis.
Tecnologias inteligentes também apoiam práticas urbanas sustentáveis. Sensores para monitoramento de energia e consumo de água, sistemas de gestão de resíduos e ferramentas para reutilização de materiais são exemplos concretos de como a tecnologia pode reduzir o impacto ambiental das cidades. Essas soluções incentivam comportamentos mais responsáveis entre os moradores e geram benefícios econômicos e ambientais para as cidades, que passam a operar com menores custos e menor impacto climático.
A digitalização urbana depende de esforços colaborativos entre diferentes atores: o poder público, empresas de tecnologia e a sociedade civil. Cabe ao setor público regulamentar e coordenar essas iniciativas, enquanto as empresas implementam soluções e os cidadãos contribuem com engajamento ativo. Essa colaboração garante que as soluções sejam adaptadas às necessidades locais e acessíveis a todos, criando um modelo de cidade que evolui com a participação da comunidade e respeitando suas especificidades.
A transformação digital é uma oportunidade para reimaginar os espaços urbanos como locais conectados, sustentáveis e inteligentes. Para os cidadãos, isso significa acesso facilitado à informação, maior participação nas decisões públicas e ambientes mais seguros. Para os gestores públicos, representa uma oportunidade de otimizar recursos, melhorar a qualidade de vida e impulsionar práticas sustentáveis.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.

Doutora e mestre em Psicologia Social, com mais de 10 anos em Inovação Pública e Impacto Socioambiental. Fundadora da Ecossistema de Impacto e Cofundadora do Delibera Brasil. Atuou em organizações como PNUD, ENAP, Instituto Akatu e ADE SAMPA. Responsável pela criação e gestão de 7+ hubs de inovação, 12+ maratonas de desenvolvimento de soluções e 10+ programas de ideação, incubação e aceleração. Pesquisadora em Inovação Pública pela PUC/SP e parte da Conexão Inovação Pública, da Coalition for Digital Environmental Sustainability/ONU e da Rede de Advocacy Colaborativo. Conselheira Potências Periféricas e Instituto InovaBR. Mentora ABStartups, BrazilLab, s-lab e Sebrae.