Diante dos desafios urbanos, cidades que não se reinventam ficam para trás. Por outro lado, as que avançam seguem um padrão claro denominado AAA.
Por que algumas cidades crescem de forma estruturada e sustentável enquanto outras enfrentam dificuldades recorrentes? O que determina o sucesso de um município na gestão pública?
A resposta não está apenas no orçamento ou na infraestrutura, mas na maneira como essas cidades aprendem, executam e se adaptam a essa nova realidade.
A partir da análise de modelos de desenvolvimento urbano e tendências globais, é possível identificar três fatores críticos que diferenciam cidades que evoluem daquelas que permanecem estagnadas.
São elas, as Cidades AAA, caracterizadas por três pilares essenciais:
- Alta capacidade de aprendizado – absorvem inovação e evoluem constantemente.
- Alta capacidade de execução – transformam planejamento em ação real.
- Astúcia (Street Intelligence) – encontram soluções mesmo com poucos recursos.
Nos últimos anos, municípios que incorporaram esses princípios registraram avanços significativos na modernização de serviços públicos, na otimização de processos administrativos e na melhoria da qualidade de vida da população. O que essas cidades fazem de diferente?
Aprendizado e adaptação como vantagem competitiva
A capacidade de uma cidade de se desenvolver está diretamente ligada à sua disposição para aprender e se adaptar. O conceito de Cidades Inteligentes se tornou uma referência no debate urbano, mas seu impacto varia conforme o contexto e a forma como as soluções são implementadas.
Não basta replicar modelos de sucesso de outras regiões sem considerar as especificidades locais. Inovações aplicadas sem estratégia correm o risco de se tornarem investimentos ineficazes.
A diferença entre cidades que avançam e as que desperdiçam oportunidades está na capacidade de filtrar, adaptar e aprimorar soluções.
Esse processo exige um ciclo contínuo de aprendizado, em que a gestão municipal se baseia em dados concretos, busca boas práticas globais e locais e testar novas abordagens de forma estruturada.
É um efeito cascata: aprender, aprimorar e aplicar. Quando esse ciclo se rompe, os avanços ficam no discurso e os problemas se acumulam.
Planejamento sem execução é desperdício
Governos elaboram planos de gestão e planejamento urbano, mas a execução ainda é o maior desafio. Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que 70% dos planos diretores no Brasil não saem do papel ou são implementados de forma parcial, resultando em desperdício de tempo e recursos públicos.
Nas Cidades AAA, o planejamento não é um documento estático, mas um processo dinâmico, que avança por meio de ajustes contínuos e da medição de impacto. A implementação eficaz depende de alguns fatores-chave:
- Gestores capacitados para tomar decisões ágeis.
- Redução da burocracia para viabilizar projetos essenciais.
- Fomento à cultura de inovação dentro da administração municipal.
A cidade de Sorocaba (SP) avançou nesse sentido ao digitalizar processos administrativos, reduzindo a dependência do papel para aumentar a eficiência operacional. Com a transformação digital do Protocolo Geral da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (Seplan), foram eliminadas mais de duas toneladas de papel por ano.
Além da economia direta, a digitalização resultou na tramitação de mais de 22 mil processos de forma 100% digital, beneficiando cidadãos e servidores públicos com um sistema mais ágil e seguro.
Essa capacidade de transformar planejamento em resultado concreto é o que diferencia as cidades que apenas reagem a problemas daquelas que evoluem constantemente.
Astúcia e inteligência prática: Fazendo mais com menos
O cenário fiscal brasileiro impõe desafios crescentes para a gestão municipal. Em 2023, o déficit fiscal dos municípios chegou a R$ 16,2 bilhões, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM). Entre 2022 e 2023, os gastos com pessoal cresceram 13,2%, um aumento de R$ 47,6 bilhões.
Metade dos municípios brasileiros já opera no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Em 49% das cidades, a receita arrecadada não cobre as despesas básicas, colocando a administração municipal sob alerta.
Nesse cenário, fazer mais com menos se torna um fator determinante para a sustentabilidade dos serviços públicos. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 30% das tarefas administrativas no setor público podem ser automatizadas, reduzindo o tempo de processamento de demandas burocráticas em até 74%.
A automação não substitui a gestão pública, mas possibilita a realocação de servidores para funções estratégicas, eliminando gargalos que impactam diretamente a população.
Um exemplo disso ocorreu em Patos de Minas (MG), onde a digitalização de processos na Secretaria Municipal de Saúde reduziu o tempo de avaliação de imunobiológicos especiais de 30 dias para 20 minutos. A integração digital entre 33 municípios da macrorregião viabilizou um fluxo mais ágil de informações e atendeu uma demanda reprimida de forma eficaz.
Além da melhoria no atendimento, a modernização administrativa resultou na economia de 10 toneladas de papel e R$3 milhões em custos operacionais.
A tríade do desenvolvimento
O conceito de Cidades AAA já está moldando o futuro da gestão pública. Municípios que adotam esses princípios se tornam mais eficientes, resilientes e preparados para lidar com desafios estruturais.
Se uma cidade ainda enfrenta dificuldades para avançar, é necessário questionar o modelo de gestão e sua capacidade de adaptação. O desenvolvimento sustentável não acontece por acaso – ele é construído com aprendizado contínuo, execução eficaz e inteligência na alocação de recursos.
A pergunta que permanece é: sua cidade está preparada para ser AAA ou continuará apenas reagindo às crises?
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.

Arquiteto, fundador e CEO da Aprova, a suíte de soluções que moderniza a gestão pública, agiliza o atendimento ao cidadão e já ancorou a economia de R$ 50 milhões em cidades brasileiras. Em 2022 captou a maior rodada de investimentos em uma govtech na América Latina, liderada pela Astella, Banco do Brasil, Vox Capital, CAF e Endeavor. UX (User Experience), especialista em Processos Industriais e Regulamentos, gerência Estratégia, Vendas e Relações com Investidores. Foi presidente do Comitê de Desburocratização do Sinduscon Paraná-Oeste e atuou como arquiteto Sênior na Aba Arquitetura e Construções por quase cinco anos. Possui MBA em Construções Sustentáveis, Ciência e Tecnologia da Arquitetura na Universidade Cidade de São Paulo, foi aluno no programa de extensão em Arquitetura da Temple University na Filadélfia e obteve graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Assis Gurgacz, no Paraná.