Todo este cenário criado nas últimas três edições reforça o papel da COP 30 prevista para acontecer em Belém em 2025, quando os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil.
Descarbonização, transição energética, desfossilização, biomassa, hidrogênio verde, resiliência climática, responsabilidade social e ambiental, sustentabilidade empresarial, economia circular e de baixo carbono, mobilidade verde. Esses temas dominaram o noticiário nos últimos meses e ganharam ainda mais destaque com a COP 29. O Azerbaijão, como país-sede da conferência do clima, aqueceu o debate quando seu presidente defendeu o petróleo e o gás como “presentes de Deus”.
Polêmicas à parte, é certo que a substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis – solar, eólica, biomassa e hidrogênio verde – seja lenta e repleta de desdobramentos complexos e muitos acordos até se chegar a um consenso. Afinal, transformar nosso modelo de sociedade, produção e consumo consolidado sobre estas bases desde a Revolução Industrial é um desafio monumental.
O resultado das discussões desta última edição aponta para um consenso da urgência da eliminação progressiva da energia fóssil no mundo. Inclusive, a carta entregue à ONU pelo Clube de Roma reforça que os últimos três países que sediaram a Conferência do Clima – Egito, Dubai e Azerbaijão – tinham interesses controversos e que é preciso mais rigor para excluir países que não apoiam a transição progressiva da energia fóssil para energias limpas. Esta carta foi importante porque o Clube de Roma é formado por acadêmicos, cientistas, políticos, empresários e líderes da sociedade civil de diferentes partes do mundo que defendem questões sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável independentemente do país que representam.
Todo este cenário criado nas últimas três edições reforça o papel da COP 30 prevista para acontecer em Belém em 2025, quando os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil. Segundo o Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional (BEN 2024), quase metade da energia disponível no País já provém de fontes renováveis, o que representa o melhor patamar dos últimos 20 anos. Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito.
Na esteira das mudanças, atenção especial para o setor de transporte. De acordo com o Net Zero Readiness Report 2023, da KPMG, o segmento no Brasil é responsável por 16% das emissões globais de gases de efeito estufa. O Brasil já se comprometeu a reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005, de acordo com a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) firmada na última COP.
Como fabricante de veículos de transporte de passageiros, reconhecemos nossa responsabilidade na transição para uma economia de baixo carbono. Como a infraestrutura ainda é insuficiente para expandir significativamente a frota de veículos elétricos, nossa estratégia inclui investir num composto de tecnologias nos veículos para transporte de passageiros – urbano, rodoviário e ferroviário – movidos a GNV+biometano, elétricos, híbridos à etanol e diesel, hidrogênio e biocombustíveis.
O esforço requer investimentos contínuos em pesquisa e desenvolvimento para promover inovações sustentáveis. Um marco de nossa trajetória foi o lançamento, em 2023, do Audace Fuel Cell na Busworld Europe, um dos principais eventos da indústria de ônibus. Esse modelo, movido a célula de combustível de hidrogênio, foi desenvolvido em nossa planta na China, em parceria com a Allenbus e a Sinosynergy. Os modelos comerciais com propulsão a hidrogênio são considerados alternativas sustentáveis e a China é um mercado que investe em tecnologias desta natureza. Sua frota de mais de 20 mil veículos comerciais em operação demostra o vasto campo de oportunidades.
Nossos investimentos também abrangem outras soluções disruptivas e inéditas. Atualmente, temos cerca de 1.000 veículos sustentáveis – elétricos, híbridos e a hidrogênio – circulando em países como Argentina, Austrália, Chile, China, Colômbia, Costa Rica e México. Na Austrália, nossa subsidiária Volgren firmou um acordo com a Wrightbus, da Irlanda, para desenvolver ônibus movidos a hidrogênio.
No Brasil, destacamos o ônibus a hidrogênio em circulação na USP, em São Paulo. Também fomos pioneiros ao lançar no mercado brasileiro o primeiro ônibus elétrico, o primeiro micro-ônibus 100% elétrico e o primeiro híbrido à etanol do país, um veículo que combina etanol e elétrico sem depender de estruturas de recarga. Este modelo, lançado na Lat.Bus 2024, é uma solução viável para a descarbonização do transporte e tem comercialização prevista a partir de 2026. O projeto é um exemplo de como parcerias entre empresas especializadas encurtam prazos para apresentar alternativas de baixo carbono ao mercado. Este modelo, em específico, resultou de uma parceria com a HORSE, empresa da divisão da HORSE Powertrain Limited, líder mundial em soluções híbridas e motores a combustão de baixas emissões, e com a WEG, multinacional brasileira fabricante de equipamentos eletroeletrônicos, resultando num veículo com elevado grau de nacionalização que reúne vantagens e benefícios de um micro convencional movido a diesel e de um veículo 100% elétrico alimentado por baterias. A energia que alimenta o motor elétrico é gerada por um motor a etanol e, por esta razão, o veículo pode ser utilizado em qualquer região do País, colaborando para o ecossistema, por ser neutro no ciclo do CO2 e permitir a obtenção de créditos de carbono. O modelo se destaca ainda pela autonomia, que pode chegar a 450km.
Além da aposta em veículos com motores híbridos etanol/elétrico, exploramos o modal ferroviário na redução de emissões com nosso trem híbrido voltado para transporte urbano e intercidades que combina motor diesel com elétrico por baterias, e que já está em operação, por exemplo, no aeroporto de Guarulhos para movimentação entre terminais.
Como indústria brasileira, estamos fazendo a nossa parte para mostrar os avanços do Brasil no processo de desfossilização da economia de maneira segura e sustentável. E inclusive já estamos nos articulando com a organização da COP 30 para que nosso ônibus híbrido movido a etanol seja adotado como o transporte oficial dos participantes da conferência em 2025.
Sabemos que a jornada é longa e requer investimento em infraestrutura e colaboração entre governos, empresas e sociedade para formatar políticas públicas que estimulem a renovação de frotas e viabilizem a transição de forma gradual e escalonada. Cada empresa e cada país definirá seu caminho para contribuir com a descarbonização e ajudar a alcançar as metas de redução de emissões estabelecidas pelo Acordo de Paris e pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Nosso caminho está sendo trilhado com muita pesquisa, inovação constante e aposta num composto de soluções e tecnologias adaptáveis ao estágio de evolução de cada país para a transição necessária rumo a uma economia global de baixo carbono.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.
Diretor de Estratégia e Transformação Digital da Marcopolo: Profissional com experiência internacional na indústria automotiva, João Paulo Pohl Ledur atualmente é diretor de Estratégia e Transformação Digital da Marcopolo, onde responde também pelas áreas de Corporate Venture Capital e Inovação da companhia. Atuando na gestão da estratégia de inovação e seus desdobramentos na cultura organizacional, fazendo conexão do atual negócio com o futuro da mobilidade. Há 18 anos na empresa, parte deles atuando na África do Sul, o executivo tem formação pela Universidade do Vale dos Sinos – Unisinos e Fundação Getúlio Vargas – FGV.