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O JOGO DO TIGRINHO E AS APOSTAS VIRTUAIS: UMA CRÔNICA DE RISCOS E ILUSÕES

Karina Florido
Karina Florido
Karina Florido Rodrigues, possui 28 anos de experiência na gestão pública, é socióloga, administradora, especialista em Direito Penal e tem MBA em Gestão, Inteligência em Segurança Pública. Trabalhou na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, foi Diretora Executiva da Câmara Municipal de São Paulo, Diretora Administrativa e Coordenadora de Esporte e Lazer da Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo, foi assessora técnica da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Secretária de Desenvolvimento Econômico no município de Santo Antônio de Posse, entre outros. Coordenou o Programa de Cidades Inteligentes do município de Jaguariúna, no Estado de São Paulo e com esse projeto a cidade já foi premiada por quatro anos consecutivos no rankink da Connected Smart Cities/Urban Systems. Ao longo de sua carreira trabalhou tanto no Poder Executivo como no Legislativo. Ocupou diversos cargos e hoje se dedica a gestão das Smart Cities, acredita que uma cidade inteligente é aquela que utiliza a tecnologia em favor da eficiência no atendimento aos cidadãos. É autora de diversos projetos de Lei regulamentando a tecnologia 5G. Atualmente é Secretária de Gestão de Projetos e Programas de Louveira.

Um ambiente virtual que promete diversão e enriquecimento rápido esconde uma realidade sombria que pode levar à ruína financeira e emocional.

Nos últimos anos, o crescimento de jogos de azar online no Brasil, especialmente os populares “jogos do tigrinho”, nos leva a preocupações significativas sobre a saúde pública, principalmente em relação aos adolescentes.

Um ambiente virtual que promete diversão e enriquecimento rápido esconde uma realidade sombria que pode levar à ruína financeira e emocional. Os jogos de apostas online, embora pareçam ser uma forma de entretenimento, têm consequências que vão além da simples diversão.

Estudos, como os publicados pela revista científica Nature, revelam que um número crescente de jovens está desenvolvendo distúrbios relacionados à compulsão por jogos. Esse cenário é alarmante, visto que muitos estão utilizando os cartões de crédito dos pais clandestinamente para apostar, atraídos pela promessa de ganhos imediatos. Essa prática, além de ilegal, é altamente perigosa, pois as plataformas de apostas são frequentemente regulamentadas em outros países, mas não no Brasil, abrindo espaço para operadores não autorizados que exploram essa vulnerabilidade.

O funcionamento do jogo do “Tigrinho” é simples e rápido, o que aumenta sua atratividade e acessibilidade. Jogadores apostam pequenas quantias repetidamente, acumulando gastos que rapidamente fogem ao controle. Essa repetição de apostas em busca de uma “grande vitória” contribui para o desenvolvimento de um ciclo de vício.

Os dados divulgados pelo Banco Central são ainda piores: entre janeiro e agosto de 2024, as casas de apostas receberam mais de 10 bilhões de reais de brasileiros beneficiários do Bolsa Família. A maioria dos apostadores, que percebe sua situação financeira de deteriorar, ganha até dois salários mínimos. A promessa de enriquecimento rápido acaba se transformando em um ciclo vicioso de endividamento, que atinge em cheio as populações de baixa renda.

As apostas online não apenas afetam a economia familiar, mas também impactam negativamente o comércio local. Os recursos que deveriam ser

direcionados para o sustento da família e das pequenas empresas estão sendo drenados para plataformas de jogos ilegais. Com a intensa promoção e influência de figuras públicas e influencers, a ilusão da riqueza fácil se torna cada vez mais sedutora. A acessibilidade desses jogos está levando a um cenário onde recreios e salas de aula em escolas se tornaram locais de apostas entre jovens, com o “jogo do tigrinho” se destacando como um dos favoritos.

Esse fenômeno escapa ao controle da regulamentação. As diferenças entre as casas de apostas registradas e as plataformas ilegais são gritantes; enquanto as primeiras seguem diretrizes rigorosas, as últimas operam nas sombras. Dados financeiros e informações pessoais dos usuários ficam expostos a possíveis fraudes e extorsões. Sem uma legislação que regulamente e fiscalize adequadamente esse setor, muitas dessas empresas operam fora do alcance das autoridades, dificultando a proteção dos consumidores e facilitando a prática de atividades ilícitas.

É premente a necessidade de eu exista uma ampla divulgação de que o jogo não é apenas uma questão de entretenimento, mas um risco à segurança financeira e pessoal.

A saúde mental e emocional dos apostadores deve ser colocada em pauta. O vício em apostas é uma forma de doença que pode destruir famílias e isolar indivíduos de seu círculo social. A compulsão em apostas online transforma-se em uma nova pandemia, onde a necessidade de se manter envolvido em jogos se sobrepõe às relações familiares e à saúde pessoal. Para enfrentar essa crise, é imperativa uma legislação robusta que trate as apostas online como um problema de saúde pública.

O governo deve atuar de forma prioritária na regulamentação e fiscalização desse mercado que, sem controles efetivos, continuará a prosperar às custas de muitos brasileiros. O tempo para agir é agora, pois cada dia que passa, mais vidas são afetadas pela promessa vazia de riqueza e diversão que o jogo do tigrinho e outros de aposta representam. A conscientização, a educação e a regulamentação são os pilares essenciais para mitigar os efeitos devastadores desse fenômeno social.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

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