A habilidade de traduzir métricas em narrativas convincentes, que conectem dados com histórias de transformação real, é essencial para criar engajamento e reconhecimento de valor.
Em um cenário onde a busca por impacto socioambiental positivo é cada vez mais central, a criação, manutenção e comunicação de indicadores de sucesso e impacto permanece como um dos maiores desafios enfrentados pelos negócios de impacto. Esses indicadores são cruciais não só para guiar decisões internas, mas também para atrair investidores, engajar públicos de interesse e, principalmente, comprovar que o propósito do negócio está sendo cumprido na prática.
A complexidade começa na definição de quais métricas são realmente relevantes e como traduzi-las de maneira que façam sentido para diferentes públicos. O impacto, muitas vezes, é qualitativo, tornando sua medição um processo cheio de nuances. A pergunta essencial que surge é: como mensurar mudanças que envolvem pessoas, territórios e realidades sociais tão diversas?
Outro obstáculo é a manutenção desses indicadores. Negócios de impacto, especialmente os de menor porte, enfrentam barreiras relacionadas à escassez de recursos – tanto financeiros quanto de tempo e equipe. Com equipes enxutas, a medição de impacto acaba ficando em segundo plano, ofuscada pelas demandas operacionais e comerciais. Manter o monitoramento contínuo exige investimento em ferramentas, capacitação e, muitas vezes, o apoio de consultorias especializadas, o que nem sempre está ao alcance de todos.
Por fim, o desafio de comunicar esses indicadores é igualmente complexo. Por mais que os negócios de impacto tenham clareza sobre os resultados alcançados, a forma como esses dados são apresentados pode dificultar o entendimento por parte de públicos externos. Muitas organizações ainda se perdem em relatórios densos ou em tentativas de simplificação que acabam não refletindo a profundidade do impacto gerado. A habilidade de traduzir métricas em narrativas convincentes, que conectem dados com histórias de transformação real, é essencial para criar engajamento e reconhecimento de valor.
Então, por onde começar? Negócios de impacto podem adotar algumas boas práticas para melhorar a criação e gestão de seus indicadores de sucesso e impacto. Primeiro, é crucial definir claramente e validar o objetivo de impacto e alinhá-lo às métricas. Isso significa que, ao invés de medir tudo, as empresas devem focar em indicadores que façam sentido para seu propósito e modelo de negócio. Um bom ponto de partida é utilizar frameworks conhecidos, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas ou metodologias de mensuração como a Teoria da Mudança, que ajudam a desenhar uma linha lógica entre as atividades do negócio e os impactos gerados.
Em segundo lugar, é importante garantir processos de coleta de dados que sejam factíveis no dia a dia do negócio, preservando a ‘agenda do viável’. Para isso, o uso de ferramentas acessíveis, que ajudam a organizar e monitorar progressivamente os dados de interesse – interessam ao seu negócio e aos seus parceiros – podem ser de grande ajuda, sem sobrecarregar as equipes.
Além disso, a colaboração é uma ferramenta poderosa. Parcerias com outras empresas, organizações ou até redes de negócios de impacto podem fornecer não só apoio técnico para definir métricas, mas também oportunidades para compartilhar boas práticas e até dividir custos de ferramentas.
O benefício dessa abordagem é claro: com indicadores bem construídos, negócios de impacto conseguem tomar decisões mais assertivas sobre suas operações, identificar rapidamente o que está funcionando e o que precisa ser ajustado. Além disso, comunicar de forma clara o impacto gerado fortalece a confiança dos investidores e outros públicos de interesse, criando um ciclo virtuoso de engajamento e novas oportunidades de sustentabilidade financeira. A longo prazo, isso consolida a credibilidade do negócio, como diferencial de mercado, projetando sua relevância no ecossistema de impacto.
Embora a criação de indicadores de sucesso e impacto continue um desafio atual, negócios de impacto que investem tempo e recursos nesse processo têm muito a ganhar. Estabelecer métricas claras e alinhadas ao propósito não apenas melhora a gestão interna, mas também garante que o impacto positivo gerado seja efetivamente reconhecido e valorizado.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.
Doutora e mestre em Psicologia Social, com mais de 10 anos em Inovação Pública e Impacto Socioambiental. Fundadora da Ecossistema de Impacto e Cofundadora do Delibera Brasil. Atuou em organizações como PNUD, ENAP, Instituto Akatu e ADE SAMPA. Responsável pela criação e gestão de 7+ hubs de inovação, 12+ maratonas de desenvolvimento de soluções e 10+ programas de ideação, incubação e aceleração. Pesquisadora em Inovação Pública pela PUC/SP e parte da Conexão Inovação Pública, da Coalition for Digital Environmental Sustainability/ONU e da Rede de Advocacy Colaborativo. Conselheira Potências Periféricas e Instituto InovaBR. Mentora ABStartups, BrazilLab, s-lab e Sebrae.