Esse ecossistema no Brasil cresceu 493% nos últimos quatro anos, em volume e qualidade
Nos últimos anos, a tecnologia transformou diversos setores da sociedade, e agora estamos vendo a mesma revolução impactar a forma como governamos.
As govtechs — startups e empresas que desenvolvem soluções tecnológicas para o setor público — estão ganhando cada vez mais espaço, redefinindo como governos se relacionam com os cidadãos e geram eficiência administrativa.
Prestes a atingir um valuation de US$ 1 trilhão até 2025, segundo dados da consultoria inglesa Public, o mercado govtech pode se tornar um dos setores digitais mais importantes da economia global, se não o mais importante, criando novos e melhores serviços públicos.
Esse ecossistema no Brasil cresceu 493% nos últimos quatro anos, em volume e qualidade. Em 2020, apenas 80 govtechs vendiam regularmente para governos ou atuavam em parcerias consistentes com o setor público.
Hoje, 475 novas startups e pequenas empresas estão oferecendo ou colaborando com soluções voltadas para o setor público. O número de iniciativas de inovação aberta e laboratórios de inovação no Brasil saltou de 20 para 330, segundo dados do Mapa Govtech.
Mais da metade dessas iniciativas estão vinculadas ao Poder Executivo, o que reforça o impacto da digitalização dos serviços públicos nos municípios.
Esse movimento não se limita à oferta de novas soluções e empresas no mercado. Os investimentos no setor acompanham o crescimento.
Os aportes multiplicaram-se por 11 nos últimos quatro anos, e mostra que trabalhar com o setor público é tão atrativo quanto investir em fintechs, healtechs ou startups de inteligência artificial.
Recentemente, o maior aporte em uma govtech da América Latina foi para a Aprova, empresa que fundei em 2017. Na época, a expressão “govtech” ainda engatinhava no Brasil, mas já era visível a necessidade de modernizar processos públicos com tecnologia.
Em 2022, recebemos R$ 22,5 milhões em uma rodada Seed liderada pela VOX Capital e pela Astella, com apoio do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe) e da Endeavor, através do programa Scale-Up.
Esse investimento representou quase metade dos R$ 48 milhões captados pelas govtechs brasileiras em oito grandes operações divulgadas desde 2020, segundo dados da LAVCA (Association for Private Capital Investment in Latin America) e Sling Hub.
À medida que gestores públicos reconhecem a importância dessa transformação digital, a demanda por soluções cresce, melhorando a oferta de serviços para a população.
Em Florianópolis, por exemplo, a emissão automatizada do alvará de construção acelera e garante mais segurança às obras na capital catarinense.
O pedido de alvará é feito pelo formato autodeclaratório. Os interessados que cumprem todas as etapas do processo e fornecem corretamente os dados sobre lote, propriedade e informações técnicas do projeto, conseguem emitir o alvará de forma imediata.
O sistema faz a pré-análise das informações em tempo real, o que garante que as determinações do Plano Diretor sejam atendidas durante o preenchimento. Esse modelo de emissão também é utilizado em cidades como Cascavel, no Paraná, e São Paulo.
Essa evolução, já em curso em muitos municípios brasileiros, é o que fortalece a ideia de que empreender no setor público pode ser tão atrativo quanto atuar em outros nichos tecnológicos.
Estamos vivendo o que chamo de uma “revolução silenciosa”, onde a América Latina se destaca como um continente digital em ascensão, capaz de oferecer serviços públicos tão eficientes e inovadores quanto as experiências que as pessoas encontram no setor privado.
Assim como decidimos onde comer, viajar e socializar, já podemos interagir com os serviços públicos com a mesma facilidade e agilidade através da tecnologia.
O futuro das govtechs é promissor. Com cada vez mais empreendedores e investidores engajados nesse ecossistema, trabalhar com o governo será tão “sexy” quanto atuar nos setores mais populares da inovação tecnológica.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.
Arquiteto, fundador e CEO da Aprova, a suíte de soluções que moderniza a gestão pública, agiliza o atendimento ao cidadão e já ancorou a economia de R$ 50 milhões em cidades brasileiras. Em 2022 captou a maior rodada de investimentos em uma govtech na América Latina, liderada pela Astella, Banco do Brasil, Vox Capital, CAF e Endeavor. UX (User Experience), especialista em Processos Industriais e Regulamentos, gerência Estratégia, Vendas e Relações com Investidores. Foi presidente do Comitê de Desburocratização do Sinduscon Paraná-Oeste e atuou como arquiteto Sênior na Aba Arquitetura e Construções por quase cinco anos. Possui MBA em Construções Sustentáveis, Ciência e Tecnologia da Arquitetura na Universidade Cidade de São Paulo, foi aluno no programa de extensão em Arquitetura da Temple University na Filadélfia e obteve graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Assis Gurgacz, no Paraná.