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OLIMPÍADAS E CIDADES INTELIGENTES: UM OLHAR SOBRE O LEGADO DOS JOGOS DO RIO 2016

Isadora Chansky Cohen
Isadora Chansky Cohen
Cofundadora e entrevistadora do Infracast, presidente do Infrawomen e sócia da ICO consultoria. Também atua como co-coordenadora do Grupo de Estudos em PPPs, Concessões e Privatizações, na Escola de Direito da FGV/SP e do MBA, em infraestrutura, do CEDIN-MG. Desempenhou funções na Subsecretaria de Parcerias e Inovação do Governo de São Paulo e no Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização e, na Prefeitura de São Paulo, atuou como diretora da Companhia São Paulo de Desenvolvimento e Mobilização de Ativos.

Por: Isadora Cohen e Murilo Tambasco

Em 1894, o barão Pierre de Coubertin fundou em Paris o Comitê Olímpico Internacional (COI), almejando um “renascimento” das competições esportivas Pan-helênicas, praticadas entre os séculos VIII a.C e IV d.C no templo de Olímpia, em honra a Zeus.

Dois anos mais tarde, em Atenas, foram realizados os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, com a participação de 241 atletas de 14 países. Desde então, mesmo diante dos desafios impostos pelas intempéries militares, sanitárias e socioeconômicas1, os Jogos Olímpicos firmaram-se como o maior megaevento multiesportivo do planeta, desempenhando um papel central no desenvolvimento harmonioso da humanidade por meio da prática esportiva.

Por conta de sua enorme dimensão e importância, as olimpíadas não apenas sofreram, como também influenciaram os contornos da história em diversos planos. Desta forma, os jogos olímpicos sempre serviram como uma vitrine, oferecendo a esplendorosa oportunidade das cidades-sede espelharem uma mensagem ou uma demonstração inovadora às diversas nações do mundo.

Em matéria de desenvolvimento e planejamento urbano, as Olimpíadas de Barcelona representam uma grande quebra de paradigmas. Graças às profundas intervenções urbanísticas realizadas na cidade, reconhecidas em larga medida como os sustentáculos da renovação turística da capital catalã, criou-se a concepção de que megaeventos esportivos poderiam ser eficientes catalisadores de transformações urbanas estruturais.2

Apostando em uma modelo de organização que tinha como objetivo proporcionar uma ampla transformação na qualidade de vida da população, a prefeitura de Barcelona, em conjunto ao governo Espanhol e o governo autónomo da Catalunha, negociou grandes projetos de parcerias público-privadas que focalizaram investimentos para a ampliação da mobilidade urbana, habitação, telecomunicações, construções esportivas e meio ambiente, levando a uma completa e duradoura transformação urbana da cidade.

Desse diferenciado panorama de possibilidades, envolvendo as mais inovadoras e eficientes formas de transformação e projeção de legados, inspirou-se o Rio de Janeiro, sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

A cidade maravilhosa deu as boas vindas ao mundo em uma linda festa realizada no estádio do Maracanã. O som das vozes de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Elza Soares, o desfile de Gisele Bundchen acompanhado pelos arranjos de Tom Jobim e o calor e energia de Jorge Ben Jor mostraram um “Brasil que canta e é feliz”3, um Brasil com “S”4, que foi capaz de fazer muito com pouco5.

Por trás de todos os esforços realizados pelo governo, pela sociedade e pelo empresariado, que resultaram na construção de diversas edificações, estádios e de toda a infraestrutura necessária para o andamento das disputas esportivas (o que incluiu grandes projetos em setores como saneamento, mobilidade urbana, preservação ambiental, cultura e educação), esteve a concepção de que “os jogos olímpicos deveriam servir à cidade, e não se servir da cidade”.

Desta forma, o planejamento das olimpíadas de 2016 seguiu o mandamento de que os jogos do Rio deveriam ser “jogos de legado”, o que contribuiu enormemente para dar foco e senso de urgência a uma série de questões de interesse da capital carioca e viabilizar projetos transformadores, que continuam a se desenvolver e prestar continuamente serviços à população fluminense.

A concepção de que o sucesso de um megaevento como os Jogos Olímpicos está relacionado ao potencial transformador, no sentido de ser utilizado para conceber ou iniciar programas de renovação e regeneração na cidade, esteve amplamente presente em todo o preparo e concepção do evento.

Dessa forma, passado oito anos desde os Jogos do Rio 2016, as melhorias estruturais mostraram-se significativas, tendo a cidade vivenciado um dos processos mais intensos de transformação urbana de sua história.

Para cada R$1 investido em instalações esportivas, outros R$5 foram destinados a obras de legado para os cidadãos. Sendo assim, diversas intervenções na capital carioca carregam a digital olímpica.6

A operação urbana chamada de “Porto Maravilha” foi viabilizada com escolha do Rio, em 2009 e configurou-se como a maior Parceria Público-Privada (PPP) do país, envolvendo recursos da ordem de R$8 bilhões.

Considerado como o principal projeto de legado, o Porto Maravilha teve como objetivos centrais proporcionar diversas melhorias em termos de infraestrutura urbana, mobilidade e provisão de serviços essenciais. Sua ampla gama de empreendimentos e iniciativas também tornaram possível dinamizar a economia local, valorizar patrimônio histórico-cultural e firmar os bairros que o integram como importantes centros para o turismo nacional e internacional. 7

Seu ponto de partida foi a demolição do Elevado da Perimetral, responsável por encobrir grande parte da zona portuária e limitar o acesso de turistas e da população local à orla. Com a iniciativa, um grande espaço aberto foi criado, viabilizando uma série de grandes empreendimentos.

Além de inúmeros projetos envolvendo a infraestrutura viária8, outras diversas iniciativas foram viabilizadas pela Revitalização da Praça Mauá, como 1) a construção do Boulevard Olímpico, cujo percurso atravessa importantes pontos de referência, como a Igreja da Candelária e a Praça XV; 2) a implantação do Museu de Arte do Rio (MAR), um belíssimo aparelho cultural apoiado na arte afro-brasileira, que oferece shows gratuitos e promove eventos relacionados à educação e à cultura e; 3) o Museu do Amanhã, erguido sob o antigo Píer Mauá em avanço a Baía de Guanabara, dedicado às ciências e as reflexões sobre o futuro, que viria a se tornar um emblemático cartão postal da cidade.

O projeto do Porto Maravilha ainda deu oportunidade ao surgimento de outros investimentos inovadores, como o Porto Maravalley, o primeiro hub de inovação do país, que tem proporcionado um rico ambiente para a formação e interação entre alunos e profissionais ligados às áreas de tecnologia de ponta.

O projeto continua a contar com empresas patrocinadoras, como a Eletrobrás e a Shell, prevendo a instalação de grandes empresas e startups ligadas ao setor tecnológico. Além disso, o projeto também contou com a criação do Impa Tech, a Faculdade de Matemática do Rio de Janeiro.

No âmbito da mobilidade sustentável, os Jogos Olímpicos do Rio também atuaram de forma formidável. O chamado VLT Carioca teve como premissa a valorização de ciclistas, pedestres e o transporte público integrado, permitindo a conexão entre diversos pontos de chegada à região central de forma mais ágil e inteligente.

Com a revitalização da Avenida Rio Branco, uma das mais importantes vias públicas do Rio de Janeiro, o VLT pode ser integrado à vida urbana, contando em seu entorno com um espaço arborizado, uma ampla área com canteiros verdes, ciclovias e bicicletários e iluminação renovada.

A construção da Linha 4 do Metrô também representou excelentes melhorias em termos de mobilidade urbana à população carioca. Por meio de uma parceria com o governo do Estado do Rio de Janeiro, foi possível realizar a ligação via metrô entre as zonas Sul e Oeste, resultando em 16 km adicionais à malha metroviária, além de seis novas estações.

O projeto para a implementação de um sistema de transporte coletivo de Bus Rapid Transit (BRT), merece a mesma atenção, centralmente por proporcionar plataformas e corredores na superfície viária dedicados a circulação de ônibus modernos e climatizados, que permitiram a ligação da Zona Sul ao Parque Olímpico e a integração de áreas menos acessíveis da cidade, como o subúrbio e a Zona Oeste.

Visando facilitar o acesso aos equipamentos esportivos e o atendimento das necessidades de deslocamento diária do cidadão, as BRTs começaram a operar em 2012, com a inauguração do Corredor Transoeste, em 2012, que permitiu a conexão do bairro da Barra da Tijuca, na zona Oeste, aos de Santa Cruz e Campo Grande.

Em 2014, entra em operação o Corredor Transcarioca, considerado um dos mais importantes feitos de mobilidade urbana da história brasileira, por ter sido pioneiro em viabilizar o primeiro sistema de transporte de alta capacidade do Brasil a conectar a cidade a um aeroporto.

Tal feito, pode ser realizado através do corredor expresso que vai da Barra da Tijuca até o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, popularmente conhecido como Galeão. Como resultado, o tempo de viagem médio nos trajetos abrangidos se reduziu drasticamente, e a democratização do acesso aos serviços de mobilidade foi enormemente ampliada9.

Em 2016 o terceiro corredor do sistema, denominado Transolímpica, entrou em operação, facilitando o acesso aos principais pólos de realização dos Jogos ao ligar as duas principais regiões olímpicas da cidade. O esforço envolveu a construção de pistas exclusivas para o BRT, além de uma via expressa para automóveis, proporcionando uma nova opção de integração.

Por sua vez, o último corredor – BRT Transbrasil – começou a operar em em fevereiro de 2024, contando com 26 km de extensão, 18 estações e dois terminais. Sendo o projeto com o maior aporte de recursos do grupo, a iniciativa passou a ligar a Zona Oeste ao Centro do Rio de Janeiro, e tem a previsão de atender por volta de 150 a 250 mil pessoas por dia em até 6 anos.

Como forma de potencializar todas as iniciativas em torno da mobilidade urbana, o Terminal Intermodal Gentileza (TIG), inaugurado em fevereiro de 2024, nas proximidades da Rodoviária Novo Rio, facilitou a integração dos modais de transporte no município, reduzindo o tempo de deslocamento médio da população carioca nos trajetos de casa ao trabalho.

Desta forma, a infraestrutura criada se consolidará como o maior terminal integrador de transporte público do Rio de Janeiro, e tornará possível o acesso ao novo BRT Transbrasil, as linhas de VLT10 e 14 linhas de ônibus.

Por fim, os esforços ainda empreenderam a revitalização, adequação e requalificação de diversos outros projetos comprometidos com o aprimoramento da infraestrutura urbana e ambiental, como a duplicação do elevado do Joá, a renovação e investimentos em acessibilidade de seis estações ferroviárias, as reformas de adequação e melhorias no em entorno do Estádio do Engenhão, as ampliações do Rio Centro, ampliação e adequação da marina da Glória, a inauguração do Parque madureira e a expansão da rede hoteleira da cidade.

Os recursos envolvidos em tais iniciativas originaram-se majoritariamente do setor privado, a partir, principalmente, de PPPs e concessões, refletindo, desde a concepção inicial dos projetos, a preocupação por parte da Prefeitura do Rio de Janeiro com o uso racional do dinheiro público.11

As despesas com construção de estádios, por exemplo, contaram com a participação de 80% do setor privado, assim como as instalações, como a vila dos atletas e o Parque Olímpico, que permitiram ao Rio de Janeiro concentrar e alocar seus recursos próprios em outras prioridades, como a educação e a saúde pública.

Além disso, os jogos do Rio tentaram eliminar os chamados “elefantes brancos”. Como forma de combater o desperdício e evitar a subutilização das estruturas elaboradas para as olimpíadas, os projetos foram planejados de forma sustentável, com o intuito de ganharem novas finalidades após o evento. Em geral, isso foi possibilitado pelo pioneirismo da cidade no desenvolvimento daquilo que foi chamado de “arquitetura nômade”, em que os materiais de arenas e estruturas pudessem ser desmontados e reaproveitados para a construção de novos equipamentos públicos e novos bairros.

A arena olímpica de Handebol, por exemplo, foi convertida na criação de 4 escolas públicas com o modelo de ensino mais inovador do país – denominadas Ginásios Educacionais Tecnológicos (GETs). Da mesma forma, a Arena Carioca 3 foi convertida no Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado (GEO), considerado o maior colégio da rede municipal da cidade.

Vale ainda destacar que estas medidas, que conformam uma excepcional forma de planejamento e que viabilizaram uma enorme gama de projetos de infraestrutura urbana, possibilitaram à cidade e ao Estado do Rio de Janeiro expressivos benefícios econômicos.

A capital carioca registrou um impacto positivo de R$ 99 bilhões sobre o Valor Bruto da Produção (VBP)12, R$51 bilhões sobre o PIB, R$5,3 bilhões na arrecadação de impostos, R$36 bilhões sobre a renda das famílias e 465 mil empregos criados. Por sua vez, o Estado fluminense observou um aumento de R$69 bilhões sobre o PIB, R$ 7,2 bilhões na arrecadação de impostos, R$ 49 bilhões sobre a renda das famílias e 633 mil empregos gerados.

Em razão de todos os benefícios socioeconômicos gerados, e das melhorias em infraestrutura urbana, que perduram e continuam a impactar positivamente a vida da população carioca mesmo após 8 anos do fim das olimpíadas no Rio de Janeiro, é possível afirmar que a Prefeitura do Rio promoveu um dos Jogos Olímpicos mais eficientes da história quanto ao uso do dinheiro público.

O olhar mais amplo e positivo sobre o legado olímpico do Rio de Janeiro, reconforta as esperanças de que a cidade ainda tenha a capacidade e potencial para lidar de forma mais eficiente e sustentável com os desafios urbanos que lhe restam, podendo, inclusive, atingir e se enquadrar dentro dos requisitos das chamadas Cidades Inteligentes.

De acordo com CTI/poli.TIC (2000), uma cidade inteligente apresenta as características de ser progressista, resistente e abrangente, fazendo o uso de tecnologias avançadas para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Desta forma, as smart cities podem ser entendidas como um sistema de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria de sua qualidade de vida.

Tais fluxos de interação são considerados “inteligentes” por justamente fazer uso estratégico de infraestrutura e serviços de informação e comunicação com planejamento e gestão urbana, atuando em direção ao progresso urbano sustentável nas esferas econômica, ambiental e sociocultural.

Sendo assim, elementos como conectividade, coleta e análise de dados, eficiência energética, mobilidade urbana, governança eletrônica, segurança, qualidade de vida e sustentabilidade ambiental são fundamentais para definir se uma cidade pode ser considerada inteligente.

É nesse sentido que as olimpíadas, indutores de inovações tecnológicas e mudanças em todo o ecossistema da infraestrutura urbana, podem representar uma enorme janela de oportunidades para que as cidades avancem em seus projetos de se tornarem smart cities.

As melhorias e mudanças gestadas pelos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, por exemplo, permitiram e auxiliaram que a cidade se tornasse um grande exemplo de implementação de soluções inteligentes aos problemas urbanos no longo prazo.

Com o projeto Smart City Barcelona, a prefeitura da capital catalã resolveu enfrentar seus problemas comuns aos centros urbanos, como congestionamentos, emissões de gases de efeito estufa e falta de espaços públicos de qualidade.13

Para tanto, incluiu a instalação de sensores para monitoração e controle de tráfego, iluminação pública e gestão de resíduos, além da criação de um aplicativo chamado ,para monitoração das bicicletas públicas da cidade e melhorar a eficiência do serviço. 14

Desta forma, o projeto Smart city Barcelona resultou em uma enorme melhoria da eficiência dos serviços públicos. Appio (2019), argumenta que através do uso de uma série de sensores e dispositivos conectados, a cidade tem sido capaz de monitorar e otimizar o consumo de energia, reduzindo o desperdício e promovendo uma utilização mais sustentável de seus recursos.

Com a implementação de sistemas de transportes inteligentes, a mobilidade urbana tem melhorado significativamente, tornando mais fácil o deslocamento da população e levando a redução de congestionamentos e emissões de carbono.

Além disso, o aumento da participação cidadã e do envolvimento dos moradores na tomada de decisões, refletem a forma com que a cidade de Barcelona tem adotado uma abordagem de governança colaborativa, onde os cidadãos são incentivados a contribuir com ideias e opiniões sobre o desenvolvimento da cidade.

Todas essas inovações, fizeram com que Barcelona reformulasse sua prestação de serviços públicos, incluindo os modais de transporte, condições dos serviços de saúde, educação e segurança, que passaram a geridos de forma mais eficiente e com base nas necessidades diárias.

No caso do Rio de Janeiro, além de todas as iniciativas supracitadas, que configuram um enorme e positivo legado olímpico a cidade, incluindo melhorias significativa em setores como a mobilidade urbana, educação e cultura e meio ambiente, uma série de outros projetos podem ser citados para demonstrar a potencialidade da cidade em avançar ainda mais nas soluções inteligentes.

Para hospedar os jogos, um grande investimento em tecnologia foi realizado, representando um grande avanço em áreas como a infraestrutura de mobilidade tecnológica e a infraestrutura de serviços públicos, que podem permitir com que o cidadão tenha acesso aos serviços do governo (como pagamentos de impostos, matrículas de crianças em escolas públicas, agendamento de consultas médicas e coleta seletiva de resíduos), postos de monitoramento de segurança e demais serviços públicos, como os de saúde e transportes. 15

Como forma de realizar o controle e prevenção de incidentes durante o evento, o Centro de Operações Rio (COR) foi operacionalizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, e permitiu, ao interligar órgãos essenciais ao gerenciamento de uma metrópole em tempo real, antecipar diversas ocorrências com a proposição de rápidas e integradas soluções.

O COR foi além de sua proposta inicial, e se tornou um instrumento permanente de monitoramento da cidade, com funcionamento ininterrupto, 24 horas por dia, que pode e deve ser cada vez mais integrado à dinâmica e prestação dos serviços ao público na cidade do Rio de Janeiro.

Além disso, projetos inovadores, como o das lâmpadas conectadas, desenvolvidos pela General Eletric, podem contribuir enormemente com o avanço das tentativas de tornar a capital carioca uma cidade mais funcional, e com espaços de lazer mais bem aproveitados.

Na busca da elaboração de uma cidade em que a tecnologia de informação seja capaz de gerar novos serviços que representem melhorias significativas na vida dos cidadãos, as lâmpadas de LED podem representar uma grande oportunidade, pela possibilidade de se associarem a câmeras e sensores capazes de transmitir dados.

Desta forma, com a disposição dos serviços de iluminação pública, torna-se possível estabelecer uma rede de lâmpadas que gerem soluções para o tráfego e a segurança, que permitirão auxiliar na gestão e provisão de serviços em projetos como Porto Maravilha e a ciclovia da lagoa Rodrigo de Freitas.

Por fim, é oportuno destacar que, como a maioria dos projetos realizados sob o âmbito dos Jogos Olímpicos do Rio Janeiro foram viabilizados por meio de PPPS e concessões, a gestão e manutenção dos ativos (que desempenha uma papel central em todos os aspectos de uma cidade inteligente) pode ser mais facilmente operacionalizada e contar com maiores possibilidades de ser mantida.

Sendo uma potente modalidade de investimentos e, sobretudo, de prestação de serviços, as PPPs e as Concessões representam uma cenário em que o setor privado não apenas realiza o investimento na construção das infraestruturas, mas que também assume sua operação e manutenção ao longo do contrato (por 20, 30 ou mais anos).16

Para a licitação dos ativos concedidos, são considerados não apenas os investimentos iniciais necessários para a perfeita fruição dos serviços públicos, mas também, e em especial, os investimentos necessários para a reposição da infraestrutura construída e todos os recursos necessários para sua conservação e manutenção.

Desta forma, os custos inerentes à depreciação dos ativos de infraestrutura são considerados na equação primordial que fundamentam os contratos, permitindo um maior conforto do usuário final e plena capacidade de atuação das políticas públicas.

A atenção ao investimento, a capacidade de manutenção e conservação proporcionado por contratos de PPPs ou concessões, difere em larga escala o legado dos jogos olímpicos do Rio em relação às demais cidades-sede, não apenas pelo pleno uso racional do dinheiro público, mas também possibilidade de que o legado em infraestrutura possa ser usufruído durante todo o período de vigência dos contratos e proporcionar o avanço de soluções inteligentes.

Os Jogos Olímpicos de Pequim (2008), por exemplo, realizaram investimentos suntuosos, firmando-se perante o mundo como uma potência industrial. No entanto, seu legado olímpico encontra-se extremamente comprometido, centralmente pela de manutenção, conservação e reutilização de seus ativos, que dão lugar a enormes elefantes brancos que representam um desperdício de dinheiro público e a perda da capacidade de reintegração das estruturas à infraestrutura urbana de Pequim.

No cenário das cidades inteligentes, a capacidade de gestão e manutenção desempenha um impacto direto na eficiência operacional (com a detecção precoce de falhas e redução dos riscos operacionais), no planejamento urbano e sustentável, na resposta a emergências, no engajamento do cidadão e na inovação tecnológica.

As olimpíadas de 2016 mostraram ao mundo a capacidade dos países em desenvolvimento de realizaram grandes eventos com maestria. Mas, mais do que uma vitrine ao exterior, os jogos do Rio devem servir de exemplo ao próprio Brasil, que cada vez mais deve apostar no planejamento econômico, urbano, ambiental e tecnológico por meio dos contratos público e privado, para transformar de maneira surpreendente suas condições socioeconômicas e ressignificar positivamente os padrões de nossa sociabilidade.

1 Por duas vezes, os Jogos Olímpicos foram cancelados em decorrência das grandes Guerras Mundiais. Em 2020, as Olimpíadas de Tóquio foram adiadas em razão da pandemia da COVID-19.

2 JENNINGS, Andrew. et al. Brasil em jogo: o que fica da copa do mundo e das olimpíadas?. 1° Ed - São Paulo: Boitempo:Carta Maior, 2014.

3 Trecho da música “Isto aqui o que é?”, executada por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016

4 Expressão comumente empregada para ressaltar as especificidades e potencialidades brasileiras, realizando uma diferenciação em tom sarcástico da denominação “Brazil”, com “Z”, pela qual o país é
internacionalmente denominado.

5 Estima-se que o custo da Cerimônia de Abertura dos Jogos do Rio 2016 tenha sido 85% menor do que o das Olimpíadas de Londres em 2012.

6 Os dados e informações expostas a seguir, foram coletados e interpretados com base em um estudo pioneiro da Fundação Getúlio Vargas, denominado Legado dos Jogos Olímpicos Rio 2016: Impactos Econômicos,
publicado em julho de 2024.
Disponível em:

https://conhecimento.fgv.br/sites/default/files/2024-07/publicacoes/fgv_legado-olimpico_fim_saida_bx-003.pdf 7 Em maio de 2021, o maior podcast de infraestrutura do Brasil, o INFRACAST, realizou uma conversa
com o presidente da Companhia de
Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (CDURP) do Rio de Janeiro, Gustavo Guerrante, sobre o projeto de Parceria Público-privada (PPP) do Porto Maravilha. O episódio está disponível
no link a seguir: https://youtu.be/r0539WQ7znE?si=PMAtlZsLm4iE-snl

8 Túneis e vias foram construídos e revitalizados, ocasionando inegáveis benefícios à população local em termos de escoamento e simplificação do tráfego de veículos, o que levou a redução do tempo de
deslocamento médio das regiões impactadas. Dentre todas
as obras, merecem destaque a construção da Via Binário do Porto e do Túnel Rio 450, da Via expressa e do Túnel Prefeito Marcello Alencar.

9 O corredor Transcarioca atende 27 bairros das zonas Norte e Oeste, dos quais incluem quatro dos maiores conjuntos de favelas do Rio – a Cidade de Deus, o Complexo do Alemão, o Complexo da Penha e o
Complexo da Maré.

10 Que ligam o Terminal Intermodal Gentileza ao Aeroporto Santos Dumont e às Barcas.

11 Em abril de 2020, o podcast de infraestrutura, INFRACAST, realizou uma entrevista com o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, sobre o pioneirismo da cidade nos projetos de PPPs e concessões
e o legado olímpico. O episódio está disponível no
link a seguir: https://youtu.be/4vYe2DF7hW4?si=oQ2aLbml3TJEqvQl

12 Referente à soma de toda a oferta nacional ou subnacional da produção, incluindo bens e serviços intermediários e finais.

13 ANDION, Carolina et al. Social innovation ecosystems and sustainability in cities: a study in Florianópolis, Brazil. Environment, Development and Sustainability, v. 24, n. 1, p. 1259-1281, 2022.

14 GASCÓ-HERNANDEZ, Mila. Building a smart city: lessons from Barcelona. Communications of the ACM, v. 61, n. 4, p. 50-57, 2018.

15 DIAS, Valéria. Legado da Olimpíada pode fazer Rio dar primeiros passos para ser uma “cidade inteligente”. Jornal da USP, 2016. Disponível em:

https://jornal.usp.br/tecnologia/legado-da-olimpiada-faz-rio-dar-primeiros-passos-para-ser-uma-cidade-inteligen te/#:~:text=Com%20o%20final%20dos%20jogos,Polit%C3%A9cnica%20(Poli)%20da%20USP.

16 COHEN, Isadora. et.al. Investimento negativo? PPPs como instrumentos para conservar infraestrutura. JOTA INFO, 2024. Disponível em:

https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/infra/investimento-negativo-ppps-como-instrumentos-para-cons ervar-infraestrutura-14062024
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