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ESPORTE INTELIGENTE

Cris Alessi
Cris Alessi
Consultora de Inovação e Transformação Digital; Palestrante. Conselheira. Investidora Anjo; Diretora de programas da Funpar - UFPR. Mãe do Victor e da Marina. Maratonista. Ex-Presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação e do Conselho Municipal de Inovação. Co-fundou e presidiu o Fórum InovaCidades ligado à Frente Nacional de Prefeitos. Atua no Conselho de Mulheres na Tecnologia.

Uma Smart City deve dar atenção ao esporte, que oferece oportunidade de vida saudável, uma profissão e a perspectiva de medalhas olímpicas

Em 1968, o atleta americano Dick Fosbury criou uma das maiores inovações do esporte, que mudou para sempre o salto em altura. Até então, o salto era feito de frente, estilo tesoura. Estudante de engenharia, Dick começou a testar formas alternativas. Nos Jogos Olímpicos do México, naquele ano, ele surpreendeu o mundo arqueando o corpo para passar pela barra de barriga para cima. Saltou 2,24 metros, bateu o recorde olímpico e levou a medalha de ouro. A técnica, que ficou conhecida como Fosbury Flop, é usada até hoje.

Há 25 anos, uma garotinha de 9 anos chamada Valdileia Martins começou a saltar no Pontal do Tigre, assentamento do Movimento Sem-Terra onde morava em Querência do Norte, na região noroeste do Paraná. 

Valdileia provavelmente nunca tinha ouvido falar de Dick Fosbury, mas também teve que inovar. Sem pista ou equipamento adequado, saltava sobre a vara de pescar do pai, seu Israel, e caía em sacos de milho com palha de arroz. Dia 2 de agosto último, Valdileia igualou o recorde brasileiro ao saltar 1,92 metro nas Olimpíadas de Paris, a primeira que ela disputou. Ia tentar 1,95 metro, mas contundiu-se antes.

Nestas mesmas Olimpíadas, vimos o desempenho espetacular das meninas da ginástica artística brasileira, com medalhas de bronze, prata e ouro. A história de Rebeca Andrade e companhia é diferente da de Valdileia, as conquistas da ginástica na verdade coroam um projeto que começou em Curitiba em 2000, com a criação do Cegin, Centro de Excelência em Ginástica, que oferece aulas gratuitas e já foi sede da Seleção Brasileira.

Pelo Cegin, passaram Daiane dos Santos, Daniele Hypólito e Jade Barbosa, todas campeãs mundiais ou medalhistas olímpicas. Para treiná-las, foram contratados os ucranianos Oleg Ostapenko, falecido em 2021, e Iryna Ilyashenko, que continua na nossa Seleção. Do Cegin também saíram Francisco Porath Neto, técnico da Seleção, ex-estagiário de Iryna em Curitiba; além do coreógrafo Rhony Ferreira e da ginasta Julia Soares, medalha de bronze em Paris. 

Ou seja, o sucesso da ginástica artística brasileira é fruto de um trabalho sério e planejado, um projeto público com aulas gratuitas, que se iniciou na cidade que hoje é considerada uma das mais inteligentes do Brasil.

Valdileia Martins é uma estrela fora da curva, uma mostra de esforço e dedicação impressionantes, o que engrandece ainda mais sua conquista. Nossas campeãs da ginástica são o exemplo que quando o talento e a dedicação recebem a atenção de um projeto consistente e de qualidade, a medalha é apenas questão de tempo.  

Uma Smart City deve dar atenção ao esporte, que oferece oportunidade de vida saudável, uma profissão e a perspectiva de medalhas olímpicas.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities 

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