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INOVAÇÃO COM ESTRATÉGIA: QUATRO REGRAS PARA FUGIR DE WASHINGS E DE FETICHISMOS TECNOLÓGICOS

Thais Zschieschang
Thais Zschieschang
Doutora e mestre em Psicologia Social, com mais de 10 anos em Inovação Pública e Impacto Socioambiental. Fundadora da Ecossistema de Impacto e Cofundadora do Delibera Brasil. Atuou em organizações como PNUD, ENAP, Instituto Akatu e ADE SAMPA. Responsável pela criação e gestão de 7+ hubs de inovação, 12+ maratonas de desenvolvimento de soluções e 10+ programas de ideação, incubação e aceleração. Pesquisadora em Inovação Pública pela PUC/SP e parte da Conexão Inovação Pública, da Coalition for Digital Environmental Sustainability/ONU e da Rede de Advocacy Colaborativo. Conselheira Potências Periféricas e Instituto InovaBR. Mentora ABStartups, BrazilLab, s-lab e Sebrae. 

Ações de inovação vazias afetam negativamente a credibilidade das lógicas inovativas e da crença coletiva

O propósito e a estratégia são necessários para evitarmos casos de inovação pela inovação ou de impulsionamento de um tipo específico de tecnologia apenas porque está na moda, situações que são muito comuns em muitas instituições, sejam elas públicas, sociais ou privadas.

Ações de inovação vazias afetam negativamente a credibilidade das lógicas inovativas e da crença coletiva na coerência de impacto positivo socioambiental anunciado por nossas instituições.

Para desenvolvermos estratégias de inovação com propósito e fieis à filosofia walk your talk, é necessário um esforço concentrado em todas as suas fases, passando pela priorização de desafios enfrentados, definição de formato inovativo, seleção e impulsionamento de soluções e avaliação de resultados e impactos gerados.

Podemos agrupar as principais boas práticas em quatro linhas essenciais, começando pela 1) definição de critérios para priorização dos desafios enfrentados, com foco em pessoas, territórios e contextos sociais. Não é possível criarmos soluções relevantes sem uma boa priorização de desafios enfrentados, e essa priorização passa por uma leitura aprofundada de contexto.

As perguntas centrais são: qual contexto socioambiental eu desejo mudar?; como este contexto se vincula ao meu propósito e instituição?; o que eu tenho de dados sobre as diferentes perspectivas dessa agenda?; quais são as pessoas e atores de interesse que são afetados direta e indiretamente?; para esses conjuntos de públicos selecionados, dentre todos os problemas mapeados, quais são considerados, por eles, os desafios mais relevantes ou urgentes?

Seguindo o fio-lógico, passamos pela 2) decisão pela colaboração ou internalização da inovação. Existe uma tendência de instituições e lideranças enrijecidas do ecossistema à centralização e ao isolamento na construção e impulsionamento de soluções inovadoras, o que representa um contrassenso à lógica básica da inovação, que tem como princípio junção de diferente atores para o ganho diverso de perspectivas e a divisão de riscos – que são bem vindos com a abertura de novos fazer e testes de metodologias, formatos e soluções.

A colaboração pode não ser estratégia em alguns casos, mas para tomar uma decisão assertiva e agregadora sobre o assunto, mapeie soluções existentes e ideadores que atuam nas mesmas agendas ou formatos desejados de solução. Conheça e analise todas as chances de colaboração antes de reinventar rodas.

A decisão sobre o tipo de tecnologia impulsionada idealmente depende do objetivo de impacto socioambiental positivo proposto, o que nos leva à regra: 3) tratar tecnologias como ferramentas e não soluções.

Um erro muito comum do ecossistema é tratar a tecnologia como fim em si, e não como forma de alcançar um objetivo. Em alguns casos observamos um encaixa não natural de uma tecnologia específica para resolução de um desafio cujo potencial de impacto poderia ser expandido se o formato da solução seguisse outro caminho ou ferramentas incríveis sem um propósito, que terão que ser ajustadas e incorporadas em contextos específicos, representando um possível retrabalho.

É tentador trabalhar com ou fomentar tecnologias do momento, seja pela facilidade de concentração de recursos e bolsões de oportunidades para atuação com a determinada tech, ou pela chance de visibilidade, projeção de marca e reconhecimento do ecossistema, mas se juntarmos as oportunidades destacadas com propósito e coerência institucional, garantimos bons resultados, e que eles sejam duradouros. Soluções que enfrentam seus respectivos desafios de forma efetiva tendem à continuidade mesmo em momentos de ascensão de novas tecnologias.

A agenda de inovação agrupa diversos caminhos para se alcançar objetivos de impacto bem traçados e definidos, por isso 4) não trate metodologia inovadoras como produtos finais.  Alguns exemplos destes caminhos são: a) mapeamentos de soluções; b) ideações, sejam elas maratonadas ou não, com ideathons e hackathons; c) incubações; d) acelerações; e) trações; f) labs; g) contratos de impacto; f) rodadas de investimento; g) comunidades práticas, entre muitas outras.

A escolha de qual caminho e formato adotar depende, entre outros fatores, do desafio priorizado e seu contexto social e local, do perfil de ideadores disponíveis, do mapa de soluções temáticas existentes, das techs disponíveis, do nível de maturidade desejado da solução e seu propósito. É necessário optar pelo caminho depois de adquirir clareza estratégia de quais são os resultados almejados.

A adoção de uma abordagem estratégica para a inovação, que priorize desafios reais e utilize tecnologias como ferramentas e não fins, é essencial para evitar washings e fetichismos tecnológicos. As boas práticas destacadas, como a priorização de contextos sociais e a decisão por colaboração, ajudam a garantir soluções inovadoras e impactantes.

Metodologias inovadoras devem ser vistas como meios para alcançar objetivos claros, evitando tratá-las como produtos finais. Ao manter o foco no propósito e na coerência institucional, podemos desenvolver estratégias de inovação que gerem resultados duradouros e efetivos, fortalecendo a credibilidade das instituições e o impacto positivo socioambiental.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.

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