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UMA TRANSIÇÃO JUSTA NA MOBILIDADE URBANA

Jens Giersdorf
Jens Giersdorf
Com mais de 14 anos de experiência no setor de energia para o desenvolvimento sustentável exerce atualmente o cargo de Management Head da Transformative Urban Mobility Initiative (TUMI) pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).

A qualidade e as políticas dos transportes públicos têm um impacto significativo nas mulheres, que dependem mais deste meio de transporte do que os homens.

Um sistema de mobilidade urbana inclusivo deveria ser a base para uma sociedade de oportunidades iguais. Infelizmente, ainda estamos longe desse ideal: menos da metade das mulheres no mundo participa no mercado de trabalho, e muitas citam o transporte público inadequado como a maior barreira para sua participação. De acordo com um relatório da Organização Internacional do Trabalho de 2017, sistemas de transporte inseguros e inacessíveis limitam a participação das mulheres na economia em 17%. Se as mulheres tivessem as mesmas taxas de participação no trabalho que os homens, cerca de 28 bilhões de dólares poderiam ser adicionados ao PIB global.

A qualidade e as políticas dos transportes públicos têm um impacto significativo nas mulheres, que dependem mais deste meio de transporte do que os homens. As mulheres dependem mais de caminhar, andar de bicicleta e usar transportes públicos. Suas responsabilidades de cuidado, acesso limitado a carros e menor renda disponível influenciam suas escolhas de transporte. Suas viagens são geralmente mais curtas e fora dos horários de pico, com uma parte significativa dedicada à “mobilidade de cuidados”, transportando dependentes como crianças e idosos. Essas escolhas modais não se encaixam em cidades centradas no automóvel, que muitas vezes são inadequadas para pedestres e ciclistas e possuem ruas inseguras e áreas isoladas.

Mas não só do ponto de vista das usuárias dos serviços de mobilidade há um desequilíbrio em termos de gênero. O setor de transportes é tradicionalmente dominado por homens, com as mulheres sub-representadas em todos os níveis da força de trabalho. Atrair, capacitar e reter mulheres não apenas tornaria o setor mais inclusivo, mas também ajudaria a aliviar a escassez de mão-de-obra. Apenas 19% da força de trabalho global em transportes são mulheres, e essa porcentagem cai para um dígito nos cargos de gestão (UITP 2022). 

O setor da mobilidade elétrica tem o potencial de criar milhões de empregos verdes de alta qualidade, oferecendo uma oportunidade crucial para assegurar uma transição justa. Isso requer que os decisores políticos implementem medidas estratégicas e promovam o desenvolvimento de competências das mulheres em grande escala. É essencial investir na qualificação e requalificação da força de trabalho, bem como obter apoio político para fomentar o desenvolvimento de empregos especializados e escaláveis.

Através da Iniciativa Transformadora de Mobilidade Urbana (TUMI) e da iniciativa Women Mobilize Women (WMW), a cooperação alemã busca promover e contextualizar a discussão global sobre uma transformação tecnológica e justa dos sistemas de mobilidade urbana, incluindo no Brasil.

A WMW organiza uma série global de eventos “Construindo Cidades Feministas” para discutir políticas de mobilidade transformadoras de gênero e formas de implementação para alcançar acesso equitativo à mobilidade e oportunidades para todos. Juntamente com nossos parceiros locais, a WMW realizará um workshop dentro desse seria para América Latina em agosto em Brasília. No Parque da Mobilidade Urbana em São Paulo em junho, o WMW participou no painel de “Estratégias inovadoras e melhores práticas para a criação de sistemas de transporte feministas no Brasil”.

Um estudo de caso do TUMI sobre a eletrificação da linha 3 do Metrobús na Cidade do México revelou diversos efeitos positivos na força de trabalho como resultado dessa mudança tecnológica. Entre os benefícios estão um ambiente de trabalho mais saudável devido à ausência de emissões dos motores elétricos, a redução do ruído, diminuindo o risco de acidentes, e a eliminação do uso de lubrificantes, contribuindo para um ambiente mais seguro para o pessoal de manutenção. Além disso, houve um aumento do orgulho e entusiasmo entre os trabalhadores pela operação e manutenção de ônibus de última geração, e o aprendizado contínuo sobre novas tecnologias promoveu uma força de trabalho mais motivada e qualificada.

O TUMI realizou um evento no âmbito do Congresso Mundial do ICLEI – rede global de governos locais e regionais em junho em São Paulo debatendo esses estudos de casos. Foi citado o exemplo de Montevideo, no Uruguai, onde uma empresa operadora de ônibus elétrico fez uma parceria com um órgão local, equivalente ao Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) do Brasil, para formar mulheres mecânicas especializadas em veículos elétricos. Neste caso inspirador e de fácil implementação, quando chegou uma mão de obra nova, composta por mulheres, eles criaram empatia e se entusiasmaram com os elétricos. 

Este exemplo não apenas destaca a necessidade, mas também o potencial de desenvolver sistemas de mobilidade urbana sustentáveis, inclusivos e equitativos. As principais usuárias do transporte público são mulheres, especialmente mulheres negras das periferias, embora a representação delas no setor, nas instituições e nas empresas seja significativamente menor. Ao aumentar essa representação, não apenas podemos criar sistemas mais inclusivos, mas também aproveitar o potencial de uma mão de obra qualificada para promover uma sociedade com igualdade de oportunidades.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities

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