O assunto é da maior relevância se levarmos em conta que, no atual momento, a transformação digital avança e impacta todos os setores, incluindo o público
Nas eleições municipais de 2024, – primeiro turno marcado para 6 de outubro -, os brasileiros escolherão vereadores e prefeitos que ocuparão cargos legislativos e executivos em 5.568 municípios. Com o pleito, uma pergunta se coloca: o tema cidades inteligentes estará na agenda dos candidatos?
O assunto é da maior relevância se levarmos em conta que, no atual momento, a transformação digital avança e impacta todos os setores, incluindo o público. A nova fase do desenvolvimento econômico e social do Brasil está intimamente ligada à sua capacidade de incorporar as tecnologias digitais aos ambientes produtivos e de criar novos empreendimentos baseados na digitalização.
Para a concretização da transformação digital, é necessária a existência de uma infraestrutura de telecomunicações robusta, atualizada e preparada para atender às exigências produtivas atuais. A criação de cidades inteligentes está relacionada a esse cenário, pois são os municípios que legislam e realizam as condições tecnológicas indispensáveis para uma ambiente econômico avançado.
O tópico evolui nas cidades brasileiras, mostrando que muitas estão conscientes da importância da nova economia digital. Em novembro último, por exemplo, Curitiba foi eleita a Cidade Mais Inteligente do Mundo em 2023. O prêmio foi entregue no World Smart City Awards, que aconteceu em Barcelona, Espanha, em reconhecimento às ações e aos programas de planejamento urbano inteligentes voltados ao crescimento socioeconômico e à sustentabilidade ambiental. Entre os projetos, encontram-se hubs de inovação, acesso gratuito à internet, serviços públicos digitais, transporte inteligente e muitos outros.
Belo Horizonte foi outra capital que obteve reconhecimento internacional como cidade inteligente no ano passado. O Programa Belo Horizonte Cidade Inteligente (BHCI) foi reconhecido no “Smart Cities Study 2023”, um estudo mundial realizado pela organização internacional Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU). A capital mineira foi a única cidade brasileira selecionada para compor o estudo, que englobou resultados em quatro campos de atuação em governança: transparência, governo digital, administração digital e dados abertos. Os projetos mostram formas inovadoras de executar políticas públicas, monitorar o espaço urbano e atender às necessidades dos mais de 2,7 milhões de habitantes da região metropolitana.
Para avançar na digitalização, uma cidade precisa compreender os elementos críticos associados à transformação digital. No meu último artigo, apontei a questão da Lei das Antenas. A regulação, por meio de leis municipais do uso e ocupação do solo para a instalação de sistemas como torres, mastros, postes, antenas e outros equipamentos essenciais para atender às demandas de conectividade atuais com o 5G, é essencial e precisa estar na agenda dos novos prefeitos e dos novos vereadores.
Com quase dois anos da chegada do 5G ao Brasil, percebe-se uma defasagem entre o avanço da tecnologia e as necessidades regulatórias para sua expansão. Segundo dados da Conecte 5G, iniciativa setorial das operadoras e da Conexis, o Brasil hoje tem 459 municípios, a maioria grandes e médios, com leis de antenas atualizadas, beneficiando mais de 101 milhões de pessoas, o que representa quase 50% da população do país.
Porém, as cidades menores, mais vinculadas à agricultura, também fazem parte desse processo. Na zona rural, por exemplo, já existe a agricultura de precisão, com máquinas sendo monitoradas à distância, em tempo real. Nas escolas, há uma transformação pedagógica em curso pelo acesso a um infinito conjunto de informações e dispositivos digitais. O acesso à internet de qualidade e universal deve entrar na lista de serviços públicos essenciais. Atrasar um processo inevitável por meio de burocracias desnecessárias pode fazer regiões inteiras ficarem para trás.
Outro fator crítico é o desenvolvimento de serviços públicos digitais que atendam amplamente a população. Para isso, dois elementos são de igual importância: o acesso da população a dispositivos móveis, afinal, ninguém pode fazer um Pix sem um celular e sem internet de qualidade, e esforços na adoção de ferramentas como cloud computing e inteligência artificial, importantes para a administração de grandes quantidades de dados e para a geração de valor. Dados dispersos e sem controle, ou armazenados de forma caótica, são oportunidades perdidas. Organizar, armazenar, monitorar e acessar informações de forma segura e precisa requer conscientização sobre os benefícios dessas tecnologias para uma cidadania plena.
Não menos importante é a percepção que os gestores públicos precisam ter de que cidades inteligentes atraem novas empresas, indústrias e negócios de alta complexidade, formando mão-de-obra qualificada e elevando o nível de vida de todos. Isso acontece nos grandes centros urbanos e nas cidades localizadas nas áreas mais remotas do país.
Nesse contexto, fica evidente que as cidades inteligentes precisam ser tema das eleições municipais que se aproximam. Ao incorporar essas ideias, o debate político pode esclarecer a população sobre essa necessidade e auxiliá-la a tomar decisões que de fato podem afetar o seu futuro. Com certeza, os candidatos mais preparados não se furtarão em apresentar soluções e projetos de cidades inteligentes para seus eleitores.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.
Vice-Presidente de Relações Públicas da Huawei na América Latina e Caribe, com contribuição significativa na construção de parcerias que alavancam a transformação digital no Brasil. O executivo já atuou como gestor de Rede e Data Center da Prodam – SP, passando por multinacionais como Cabletron, Enterasys e CISCO, onde foi responsável pela área de Diretorias Regionais de Vendas.