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FORTALEZA TEM PRÁTICAS DE DESTAQUE EM MOBILIDADE URBANA NO PAÍS

Capital do Ceará avança oferecendo mobilidade integrada e análise de dados de transporte e segurança, mas distribuição dos serviços por toda a cidade ainda é um desafio

Em maio deste ano, Fortaleza foi a primeira colocada entre 275 cidades do mundo para o programa Bloomberg Initiative for Cycling Infrastructure (Bici), da Bloomberg. Trata-se de uma iniciativa voltada para a infraestrutura cicloviária de municípios selecionados e que destinou, com a premiação, US$ 1 milhão para investir nessas estruturas.

Essa não é a primeira vez que uma organização internacional destaca a mobilidade urbana da capital do Ceará. Nos últimos anos, ela tem se tornado uma referência no sistema de transporte, em mobilidade e em segurança viária.

Em 2019, por exemplo, Fortaleza foi eleita a melhor cidade em termos de mobilidade urbana na América Latina. De acordo com o último Censo, Fortaleza é o município mais populoso do Nordeste e o quarto do Brasil, com 2.428.678 habitantes. A capital cearense também concentra cerca de 28% de toda a população do Estado, que soma 8,7 milhões de pessoas. Seu principal destaque é o sistema integrado, que combina a malha cicloviária ao transporte público e à valorização dos passeios para os pedestres, um incentivo declarado à mobilidade ativa.

Desde os anos 1990, Fortaleza implementa políticas de acesso ao transporte público. Foi nessa época, por exemplo, que a prefeitura criou os terminais de ônibus com integração espacial. Hoje, essa junção dos serviços é ainda mais ampla, permitindo a combinação entre algumas ciclovias e ciclofaixas aos terminais de ônibus. Desde então, é possível alugar, por até uma hora, uma das bicicletas públicas disponíveis pela cidade. Sem pagar tarifa extra, o usuário pode iniciar o trajeto em um modal e, no terminal, embarcar em um ônibus.

Big data do trânsitoOutro destaque da capital é resultado da coleta e análise de dados. A integração também se estende entre as secretarias, que compartilham diversas informações entre si. Um exemplo é a estratégia de unir dados da saúde como parâmetro para as políticas de mobilidade.

Hoje, Fortaleza conta com um laboratório de análise de todos os riscos de trânsito, que é formado por mais de dez profissionais responsáveis pela perícia dos acidentes. Foi com base nesse trabalho que a prefeitura descobriu, por exemplo, que a maior parte das ocorrências de trânsito acontecia por excesso de velocidade.

“A Avenida Leste Oeste possui duas características de trânsito regional e local. Até 2019, ela tinha uma média de 11 óbitos por ano. O laboratório analisou se as mortes estavam relacionadas ao excesso de velocidade, e decidimos diminuir o limite na região. No ano de 2022, ninguém morreu na Leste Oeste”, exemplifica João Pupo, secretário de conservação e serviços públicos de Fortaleza. A redução de velocidades nas vias tem sido uma prática comum na cidade. Entre o ano passado e hoje, Fortaleza reduziu de 60 km/h para 50 km/h o limite em 12 vias, o que resultou na diminuição em 68% das mortes provocadas por acidentes de trânsito nesse período.

Demandas específicas

A partir dos anos 1990 e da construção dos terminais, a capital passou por uma reformulação. “Fortaleza vira uma cidade que se organiza em diferentes centralidades”, explica Alexandre Queiroz Pereira, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo ele, quem está distante dessas regiões não consegue ter acesso aos diferenciais dos serviços de mobilidade.

Em 2021, de acordo com o Mobilidados, uma plataforma de dados sobre ciclismo gerenciada pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), em torno de 51% da população da capital mora próximo da infraestrutura cicloviária. Pelo menos, 49% ainda não tem acesso a essa estrutura.

Para as pessoas que moram na região metropolitana e precisam acessar a capital, fica ainda mais complicado. “Tenho alunos que moram em franjas metropolitanas. Para que eles se desloquem para espaços centrais, eles precisam de duas horas de espera e deslocamento para andar mais de 15 quilômetros”, exemplifica Pereira.

Outra nova demanda, agravada nos últimos anos, é a segurança dos motociclistas. A Secretaria da Saúde Estadual, com dados do boletim epidemiológico Acidentes de Transporte Terrestre, analisou que 39% dos óbitos em acidentes de trânsito envolveram motociclistas entre 2009 e 2022. De acordo com João Pupo, o aumento da classe de motociclistas aconteceu em paralelo aos serviços de transporte de passageiros e de entrega de alimentos. “Essa turma tem uma pressão econômica para render”, afirma.

Fonte: Mobilidade Estadão

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