Stellantis desenvolve plataforma tecnológica para potencializar as vantagens únicas da matriz energética brasileira
Em 1979 foi lançado o primeiro carro movido a etanol no Brasil, o Fiat 147. Desenvolvido por uma questão de segurança energética, o novo combustível consolidou-se também como uma grande vantagem competitiva do País sob o prisma da sustentabilidade, já que é produzido a partir de uma fonte renovável, as plantações de cana-de-açúcar. Hoje, a Stellantis – dona de 14 marcas, incluindo Fiat, Jeep, Ram, Peugeot, Citroën e Abarth – está empenhada em construir novos capítulos dessa história, conectando o etanol ao futuro e contribuindo, assim, para a descarbonização do transporte brasileiro.
Um dos símbolos desse processo é a criação da plataforma BIO-ELECTRO, que tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento no Brasil de soluções, tecnologias e componentes para veículos híbridos que combinem etanol e eletrificação. “Essa é a rota tecnológica que a empresa definiu para que a transição tecnológica do setor de transporte possa ser feita no Brasil com equilíbrio entre os pilares social, ambiental e econômico”, explica João Irineu Medeiros, vice-presidente de Assuntos Regulatórios da Stellantis para a América do Sul.
A proposta da nova plataforma é agregar um grande conjunto de parcerias estratégicas que, em sinergia com o corpo técnico da Stellantis, acelerem o desenvolvimento e a implementação de soluções de motopropulsão e de descarbonização da mobilidade. “Ao contribuir para nacionalizar soluções, tecnologia e produção, a iniciativa impulsionará uma onda setorial de reindustrialização”, projeta Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul.
A BIO-ELECTRO está apoiada em três pilares: Academy, Lab e Tech. O pilar Academy abrange informação, formação e recrutamento. Lab diz respeito à incubação de ideias e ao desenvolvimento do ecossistema. Já o pilar Tech agrupa a materialização de soluções, da inovação e da localização da produção. “É um trabalho de gestão de uma rede de talentos”, sintetiza Medeiros.
A ideia é possibilitar a disseminação gradual dos veículos elétricos no Brasil, sem que isso represente uma ruptura drástica sob qualquer aspecto. Com o desenvolvimento de veículos híbridos, a dependência das baterias será bem menor do que nos 100% elétricos e a rede de postos de abastecimento que existe hoje no País continuará sendo usada, sem a necessidade imediata de desenvolver uma ampla infraestrutura de carregamento elétrico.
Vantagens comparativas
A Stellantis entende que a propulsão elétrica é a tendência dominante do setor automotivo mundial, mas que ainda tem um custo muito elevado para amplas faixas de consumidores. Assim, a solução inteiramente elétrica precisa ser desenvolvida e aprimorada para ganhar escala e entrar como alternativa de massa em uma estratégia efetiva de descarbonização em um país em desenvolvimento com características de renda como as do Brasil.
Enquanto isso, a combinação com o etanol surge como o melhor caminho para a redução das emissões de CO2. Do ponto de vista da sustentabilidade, esse combustível apresenta desempenho muito semelhante ao dos veículos elétricos, considerando-se o ciclo completo de produção e consumo. Ao longo do seu processo de crescimento, a cana-de-açúcar absorve de 70% a 80% do CO2 liberado na produção e queima do etanol combustível.
As vantagens comparativas da combinação entre etanol e eletrificação “à brasileira” se tornaram ainda mais evidentes depois de um teste dinâmico realizado pela Stellantis. Um automóvel foi abastecido com etanol e comparado em tempo real com três alternativas, nas mesmas condições de rodagem. A comparação foi feita com base em metodologia e tecnologia de conectividade desenvolvidas pela Bosch, que consideram não apenas a emissão de CO2 associada à propulsão, mas as emissões correspondentes a todo o ciclo de geração e consumo da energia utilizada.
Durante o teste, o veículo percorreu 240,49 km com cada fonte e o melhor desempenho foi do motor 100% elétrico (BEV) com energia brasileira (21,45 kg CO2eq), seguido pelo etanol (25,79 kg CO2eq) – que apresentou vantagens inclusive em comparação ao veículo elétrico a bateria abastecido com energia gerada na Europa, considerando-se as características da matriz energética daquele continente (30,41 kg CO2eq). A gasolina (tipo C) teve o pior desempenho (60,64 kg CO2eq). “Os resultados comprovam as vantagens comparativas da matriz energética brasileira, principalmente a importância dos biocombustíveis para uma mobilidade mais sustentável”, avalia Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul.
“Projetamos a descarbonização completa do ciclo de produção até 2038”
Ao estruturar-se para alcançar esses resultados, a Stellantis torna-se referência no setor automotivo rumo à neutralidade de carbono, afirma o executivo
Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a América do Sul, fala sobre as vantagens da combinação de etanol e eletrificação, descreve detalhes da estratégia da empresa e compartilha a visão de um futuro bem mais sustentável para o transporte, no Brasil e no mundo.
Qual a motivação da Stellantis ao conceber a plataforma BIO-ELECTRO?
O objetivo principal é desenvolver as melhores soluções tecnológicas em motopropulsão híbrida baseada no etanol e na eletrificação. A consolidação de um ecossistema de desenvolvimento requer a elaboração conceitual, seleção e capacitação de talentos, identificação de parceiros, desenvolvimento e teste de solução, para, ao final do processo, iniciar a produção de componentes e sistemas que serão utilizados nos veículos da Stellantis que adotarão a motopropulsão híbrida. O grande diferencial do projeto é o propósito de localizar as soluções, as tecnologias e a produção de componentes aqui no Brasil. Não queremos importar soluções prontas, e sim fortalecer a indústria nacional.
Como a plataforma BIO-ELECTRO dialoga com a estratégia da empresa como um todo?
Investir nessa rota tecnológica é uma opção estratégica da Stellantis, líder do mercado automotivo no Brasil e na América do Sul. O intuito é promover a crescente descarbonização da mobilidade e valorizar as características positivas da matriz energética brasileira, em que se destacam os biocombustíveis e a energia elétrica gerada por meios renováveis. Essa é uma enorme vantagem comparativa do Brasil, que pode oferecer uma mobilidade mais sustentável a faixas expressivas do mercado consumidor.
Como essas vantagens competitivas da matriz energética brasileira se alinham ao planejamento global da empresa?
A Stellantis América do Sul é parte ativa do plano estratégico de longo prazo Dare Forward 2030 e trabalha para atingir regionalmente as metas de descarbonização e de eletrificação. Cada país deve buscar o arranjo mais eficiente de sua matriz energética para a motopropulsão. No Brasil, desenvolvemos a plataforma BIO-ELECTRO porque o etanol é uma vantagem do País, disponível em todos os postos de combustíveis. Só o Brasil tem essa característica, que constitui uma enorme vantagem comparativa no processo de descarbonização da mobilidade. Assim, a combinação de etanol com eletrificação é uma tecnologia muito competitiva para o Brasil. Outros países devem buscar seu modelo a partir das características de sua matriz energética.
Que importância o ESG tem para a Stellantis e como esses princípios e metas permeiam os mais diversos setores e projetos da empresa?
A Stellantis foi constituída em janeiro de 2021, a partir da fusão da FCA e PSA, com uma visão de mobilidade sustentável. As estratégias do grupo estão alinhadas ao desenvolvimento de soluções de eficiência energética em produtos e serviços, redução de emissões, eletrificação e hibridização, direção autônoma, carros mais conectados por meio de plataformas de conteúdos e e-commerce. O plano estratégico global da empresa, Dare Forward 2030, projeta a descarbonização completa de todo o ciclo de produção até 2038, com uma redução de 50% já em 2030. Ao estruturar-se para alcançar esses resultados, a companhia se torna referência no setor automotivo rumo à neutralidade de carbono, visto que a maior parte das fabricantes de veículos pretende chegar a esse patamar apenas a partir de 2040. Com isso, evoluímos de montadora para “empresa de tecnologia da mobilidade”.
Como a Stellantis projeta que estará posicionada no mercado em 2030, ano que é referência do planejamento estratégico global da empresa e, também, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU)?
Para cumprir os objetivos traçados, a Stellantis planeja que 100% de suas vendas na União Europeia em 2030 sejam de veículos elétricos. Nos Estados Unidos, a participação dos elétricos nas vendas no final da década será de 50%. Considerando suas 14 marcas icônicas, até 2030 a Stellantis planeja oferecer globalmente 75 modelos de propulsão elétrica (BEV), que representarão vendas anuais de 5 milhões de unidades em todo o mundo. Tudo isso envolve um investimento global de 30 bilhões de euros até 2025 em eletrificação e desenvolvimento de software.
Como a empresa se prepara para assegurar os insumos necessários para essa produção?
A Stellantis está construindo uma ampla infraestrutura para alcançar seus objetivos, incluindo a construção, já em curso, de uma rede global de cinco gigafábricas de baterias veiculares, capazes de fornecer até 400 gigawatts-hora em produção de baterias até 2030. Paralelamente, a empresa tem assumido posições relevantes no mercado de matérias-primas estratégicas, através de aquisições e associações em projetos de lítio e cobre, entre outros.
Fonte: Mobilidade Estadão