A mudança climática é um dos maiores desafios de nosso tempo e seus efeitos negativos prejudicam a capacidade de todos os países de alcançar o desenvolvimento sustentável.
A humanidade enfrenta uma série de desafios preocupantes para alcançar um desenvolvimento sustentável. Bilhões de pessoas em todo o mundo vivem na pobreza e não têm acesso a uma vida digna. Desigualdades crescentes dentro e entre países geram disparidades de oportunidades, riqueza e poder, discriminação de gênero, nas suas intersecções com raça, etnia, orientação sexual, deficiência, territorialidade e religião. Além disso, o desemprego, especialmente entre os jovens, é uma grande preocupação.
As ameaças globais de saúde, desastres naturais mais frequentes e intensos, conflitos crescentes, extremismo violento, terrorismo e crises humanitárias relacionadas ao deslocamento forçado de pessoas também ameaçam reverter o progresso do desenvolvimento nas últimas décadas.
Além desses desafios, o esgotamento dos recursos naturais e a degradação ambiental, incluindo a desertificação, secas, a degradação dos solos, a escassez de água doce e a perda de biodiversidade, se somam à lista de problemas enfrentados pela humanidade. A mudança climática é um dos maiores desafios de nosso tempo e seus efeitos negativos prejudicam a capacidade dos países de alcançar o desenvolvimento sustentável. Os aumentos na temperatura global, o aumento do nível do mar, a acidificação dos oceanos e outros impactos das mudanças climáticas estão afetando seriamente as zonas costeiras e os países costeiros de baixa altitude, incluindo muitos países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento.
A sobrevivência de muitas sociedades, bem como dos sistemas biológicos do planeta, está em risco. Como tal, a promoção do desenvolvimento sustentável é fundamental para garantir um futuro melhor para todos.
Embora a humanidade enfrente enormes desafios para alcançar o desenvolvimento sustentável, este também é um momento de grande oportunidade. Nos últimos anos, houve um progresso significativo no cumprimento de muitos desses desafios. Graças aos esforços de várias organizações e governos em todo o mundo, centenas de milhões de pessoas emergiram da pobreza extrema nas últimas décadas. Além disso, o acesso à educação aumentou consideravelmente.
A disseminação da informação e das tecnologias da comunicação e a interconectividade global oferecem um grande potencial para acelerar o progresso humano, eliminar o fosso digital e desenvolver sociedades do conhecimento. A inovação científica e tecnológica também desempenha um papel importante no avanço de áreas diversas, como medicina e energia.
Inovação aberta pode ser a chave para os governos enfrentarem os desafios na prestação de serviços públicos. Cada vez mais, governos estão buscando inovar em produtos e serviços, entregando maior valor percebido para seus cidadãos beneficiários. Para alcançar esse objetivo, a participação de atores da sociedade é fundamental, incluindo cidadãos, universidades e organizações da sociedade civil.
A inovação aberta pode trazer muitos benefícios positivos no setor público, como a melhoria da sensibilização para problemas sociais, práticas mais efetivas baseadas nas experiências dos cidadãos e um aumento na confiança entre governo e cidadãos. Para atender a essa demanda por inovação, vemos um crescimento de laboratórios de inovação e hubs de inovação em governo.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Arapyaú em parceria com a Plano CDE, intitulada “Desafios para Inovação na Gestão Municipal”, verificou que uma das maiores dificuldades para a inovação pública é a morosidade dos processos internos. Os agentes públicos reforçaram a falta de padronização e digitalização de processos e a falta de diálogo entre secretarias para a formalização do programa conjunto de inovação. A mesma pesquisa revelou que há disputas políticas que criam ambientes menos favoráveis à inovação, especialmente durante as trocas de governos.
As GovTechs são startups que desenvolvem soluções para governos, usando tecnologia como ferramenta principal. O objetivo dessas empresas é melhorar a governança e transformar a maneira como os governos operam, tornando os serviços públicos mais acessíveis, eficientes e inovadores. Além disso, as GovTechs podem contribuir para a tomada de decisões baseadas em dados, aprimorar a participação cidadã, aumentar a transparência na gestão pública e modernizar infraestruturas governamentais.
As startups estão se tornando um aliado importante para governos estaduais, prefeituras e órgãos públicos enfrentarem o desafio de fazer mais com menos, garantir transparência nas ações oficiais e atender às demandas da população de forma ágil. O fenômeno das GovTechs está ganhando força em todo o Brasil, onde empreendedores perceberam que o poder público pode ser um parceiro comercial fundamental para conquistar o crescimento.
O país tem um grande potencial de crescimento no ecossistema de inovação, com destaque para a estratégia de transformação digital renovada. O aumento do valor do Índice GovTech Maturity Index 2022 do Banco Mundial e a entrada do país na lista de países com melhor oferta de serviços na área são exemplos desse progresso. Contudo, ainda há desafios a serem superados, como regulação e financiamento, além de políticas públicas insuficientes, especialmente em níveis subnacionais.
Esta primeira edição do CSC GovTech, que faz parte do Connected Smart Cities, plataforma multidimensional que acelera o processo de desenvolvimento das cidades inteligentes, pode ser considerada um hub de inovação. A inovação é um processo que vai além de encontrar uma boa ideia e envolve conhecer dezenas de modelos que não se adequam até chegar ao conceito que realmente funciona. Manter-se atualizado com as novidades permite reciclar ideias antigas, ter novas perspectivas e guiar pensamentos para a direção certa. Os hubs de inovação estimulam parcerias e aceleram a inovação aberta, gerando novos negócios que combinam o melhor das grandes empresas com a agilidade das startups, soluções inovadoras para desafios com novas tecnologias e processos, ciclos virtuosos que impulsionam o mercado e alianças que combinam o melhor de diferentes mundos.
Os impactos das inovações que surgem dos hubs de inovação são muitos, incluindo a criação de novos negócios, soluções inovadoras para desafios, ciclos virtuosos de crescimento de mercado e alianças que combinam diferentes mundos para criar um futuro melhor. Empreendedores visionários se tornam os próximos grandes empresários e empresas tradicionais são renovadas para gerar ainda mais valor e liderança.
Na agenda de modernização da Administração Pública, a busca por soluções inovadoras para desafios cotidianos deve ser vista como uma prioridade fundamental. A inovação é crucial para encontrar soluções alternativas para problemas graves da população, reduzir custos por meio da adoção de técnicas mais eficientes, conectar áreas de governo que tradicionalmente têm dificuldade de integração e para que métodos inovadores, especialmente aqueles que visam o desenvolvimento de tecnologias social e ambientalmente responsáveis, possam ser incorporados de forma permanente no dia-a-dia do gestor público.
Aproveitar essas oportunidades pode ser a chave para garantir um futuro melhor para todos. Ao trabalharmos juntos, podemos superar os desafios que enfrentamos e alcançar um desenvolvimento sustentável mais amplo e justo.
Referências: ABStartups – Associação Brasileira de Startups. Disponível em https://abstartups.com.br/. Bogers, M., Burcharth, A.; Chesbrough, H. (2019). Open Innovation in Brazil: Exploring Opportunities and Challenges. International Journal of Professional Business Review, 6(1), 1-15. Disponível em http://dx.doi.org/10.26668/businessreview/2021.v6i1.213. Chesbrough, H. (2003). Open innovation: the new imperative for creating and profiting from technology. Harvard Business Press. World Report Cities 2022: Envisaging the future of cities. (2022). UN Habitat. Disponível em https://unhabitat.org/world-cities-report-2022-envisaging-the-future-of-cities.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Pesquisadora do USP Cidades Globais – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, docente do Programa de Pós-graduação em Cidades Inteligentes e Sustentáveis – PPGCIS da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e Autora dos livros “Cidades Inteligentes e Sustentáveis” e “Mudanças Climáticas: do global ao local.