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IA, CAMINHO SEM VOLTA

Cris Alessi
Cris Alessi
Consultora de Inovação e Transformação Digital; Palestrante. Conselheira. Investidora Anjo; Diretora de programas da Funpar - UFPR. Mãe do Victor e da Marina. Maratonista. Ex-Presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação e do Conselho Municipal de Inovação. Co-fundou e presidiu o Fórum InovaCidades ligado à Frente Nacional de Prefeitos. Atua no Conselho de Mulheres na Tecnologia.

O conceito de Smart City logo estará numa fase de transição, em breve as cidades que não usarem Inteligência Artificial de forma ampla estarão em um segundo plano em relação às que tiverem IA em 100% de seus sistemas e serviços públicos.

“Cris Alessi atualmente é a presidente da Agência Curitiba, uma instituição da Prefeitura de Curitiba responsável por coordenar ações e projetos para promover o desenvolvimento econômico e social da cidade como um todo e liderado iniciativas para a inovação, não apenas no Vale do Pinhão, mas em toda a cidade de Curitiba”. Não estou querendo me exibir não, esta é minha minibio feita pelo ChatGPT, o trend mundial do momento. Ela está 100% correta, mas o Chat ganhou fama por motivos um pouco fora de ordem.

O mais engraçado é que depois de tantos anos de uso de quase mil aplicações de Inteligência Artificial, a polêmica só ganhou força quando a IA criou imagens do Papa com uma linda jaqueta branca, que o deixou bem fofinho e elegante, e com a suposta prisão de Donald Trump, o que ninguém duvida que um dia possa realmente acontecer por tantas ações e provocações que ele fez nas últimas décadas. 

Claro que fake news é sempre algo ruim e deve ser combatida, mas Inteligência Artificial não foi criada para gerar fake news, o mau uso dela é que pode acarretar em situações inadequadas, às vezes criminosas ou perigosas, e isso não é de agora.

O ChatGPT hoje causa pânico nas escolas por fazer tarefas para os alunos. Quando a calculadora eletrônica portátil foi inventada, nos anos 1960,  essa preocupação surgiu também. Hoje praticamente todo mundo tem uma calculadora no telefone celular, e como ela nos é útil, não é mesmo? 

Há algumas semanas, um grupo de notáveis se mobilizou em favor da suspensão das pesquisas com IA. Entre eles, Elon Musk, da Tesla, que nos últimos anos já explodiu vários foguetes em sua tentativa de fabricar uma nave espacial. Ainda bem que ele explora naves não tripuladas, mas o seu projeto não deixa de ser uma pesquisa avançada de algo novo e disruptivo, como é a IA.

O grupo de Musk pede uma pausa até que sejam definidos modelos de governança; criação de órgãos regulatórios; meios de supervisão de sistemas; e de ferramentas que ajudem a distinguir o que é criado por Inteligência Artificial. O grupo também defende a responsabilização por danos causados pela IA e a criação de instituições que possam fazer frente às “dramáticas perturbações econômicas e políticas (especialmente para a democracia) que a IA causará”.

As propostas são todas pertinentes, mas vale adicionar que Musk foi um dos cofundadores da OpenAI, criadora do ChatGPT, e junto com ele no grupo estão representantes de vários concorrentes dessa ferramenta. Então o pedido de paralisação das pesquisas também pode ser apenas uma estratégia empresarial, e não exatamente um propósito. 

Concordo com todas as necessidades de governança e cuidados de cibersegurança e ética no uso da IA, mas tenho preocupação maior com uma possível “gentrificação” da IA: 85% dos programadores são homens brancos, então como garantir que a Inteligência Artificial que está sendo criada não tenha apenas a visão de mundo de homens brancos, sem levar em conta as perspectivas de outras raças e gêneros?

O fato é que a IA é um caminho sem volta há muito tempo, bem antes da jaqueta de neve do Papa. Os seus benefícios são imensos em todas as áreas, e muitas delas envolvem o dia-a-dia das cidades, como saúde, segurança, mobilidade, urbanismo, meio ambiente, defesa civil, entre outras.

O conceito de Smart City logo estará numa fase de transição, em breve as cidades que não usarem Inteligência Artificial de forma ampla estarão em um segundo plano em relação às que tiverem IA em 100% de seus sistemas e serviços públicos. Serão as Super Smart Cities, com ferramentas para diagnosticar câncer em 30 segundos, evitar acidentes de trânsito momentos antes que possam acontecer, reconhecer de imediato um estranho que entra numa escola e gerar alertas de tempestades ou terremotos com precisão e em tempo de evacuação das áreas ameaçadas.

Enfim, o debate é amplo. Os benefícios da IA são imensuráveis e os riscos, em parte, ainda desconhecidos. Mas não há ilusão, as pesquisas não vão parar. Precisamos então acelerar a governança, as regras e os mecanismos que garantam ética e segurança.   

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities  

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