Plano de Mobilidade da capital previa implantação de 400 km de faixas e ciclovias na cidade até 2020.
A última versão do Plano Diretor de Mobilidade de Belo Horizonte publicada em abril de 2017, contava com uma análise para a ampliação da rede cicloviária na cidade. Com a meta de ter 1.000 km de faixas e ciclovias até 2030, a Prefeitura não conseguiu ainda superar a meta prevista para ter sido cumprida há três anos.
O Plano de Mobilidade (PlanMob-BH), foi instituído por decreto em 2013 e é o principal meio para a efetivação da Lei da Política Municipal de Mobilidade Urbana e tem como objetivo orientar sobre as ações que o município precisa aprimorar de curto, médio e a longo prazo e está relacionado aos serviços, infraestrutura viária e de transporte.
Em 2015, quando o estudo para analisar a implantação de novas ciclovias foi realizado, Belo Horizonte contava com pouco mais de 83 km de vias dedicadas aos ciclistas. Até fevereiro deste ano, a cidade tinha 105 km de rede cicloviária, segundo a prefeitura. O dado é o mesmo do relatório sobre implantação de rotas, disponível no site da PBH, atualizado pela última vez em maio de 2022.
O mesmo relatório aponta que entre 2020 e maio do ano passado, a cidade recebeu 15,47 km de novas faixas, concentradas nas regiões Oeste e Centro-Sul.
Até o fim do ano, a prefeitura pretende implantar mais 18 quilômetros de vias para ciclistas, com prioridade para as regiões de Venda Nova, Pampulha e área central. Segundo o município, outros 74 km de faixas e ciclovias previstas em um projeto executivo já aguardam a implantação e devem fazer a ligação com trechos já concluídos, além de rotas que vão ampliar a integração com a rede de transporte público.
Ainda conforme a PBH, cerca de 11 quilômetros da ciclovia da Orla da Lagoa da Pampulha devem passar por um processo de complementação. Outros 7,1 km foram revitalizados no ano passado. Estações de integração do sistema de transporte devem receber bicicletários.
“No momento, há uma sinalização positiva em relação à implantação de novos trechos cicloviários na cidade. Vale ressaltar que o cumprimento das metas sempre passa pela disponibilização de recursos e de uma pactuação com a sociedade. Como exemplo, é possível citar a ciclovia na Avenida Afonso Pena, a ser implantada em conjunto com as faixas exclusivas para o transporte coletivo, que integram o projeto de revitalização da via,” informou a Prefeitura por meio de nota no dia 15 de fevereiro deste ano.
Bicicletas compartilhadas
Belo Horizonte conta com um sistema de bicicletas compartilhadas que podem ser usadas lazer e deslocamentos pela cidade. O sistema atualmente conta com duas área de atuação, sendo a primeira na região da Pampulha, principalmente na orla da lagoa. Neste trecho, são 14 estações e 100 bicicletas. Outras dez estações e cem bicicletas estão distribuídas na região Centro-sul da cidade, com pontos para retirada em bairros como o Centro, Barro Preto, Savassi, Santo Agostinho e Santa Efigênia.
Para usar a bicicleta compartilhada é preciso baixar um aplicativo, fazer o cadastro e efetuar o pagamento. O passo a passo está disponível aqui.
Risco nas ruas
Uma das principais reclamações de quem usa a bicicleta como meio de transporte em Belo Horizonte é a falta de conexão de várias ciclovias ou até a inexistência de rede cicloviária em pontos importantes, o que coloca em risco os ciclistas que precisam circular pela cidade.
A cicloativista do coletivo Terça das Manas, Jéssica de Almeida, usa a bicicleta pra trabalhar e deslocamentos para outras atividades. Reclama da falta de manutenção da rede cicloviária.
“Além da baixa extensão de infraestrutura cicloviária, a que existe precisa de manutenção constante, como iluminação a noite e sombra para o dia. É preciso que as ciclovias e ciclofaixas existam, mas que também sejam seguras e confortáveis para serem usadas. E quando precisamos compartilhar as ruas com os carros é sempre desafiador. Pois ainda há quem não enxergue que em cima de uma bicicleta está uma pessoa, ou quem não veja a bicicleta como um veículo. Também é preciso ações de educação e comunicação, e participação dos e das ciclistas no planejamento delas,” completou.
Entre setembro de 2022 e fevereiro deste ano, quatro acidentes envolvendo ciclistas terminaram com feridos e até mortes. Veja os casos:
- No dia 20 de setembro, um ciclista foi atropelado por um ônibus no Elevado Dona Helena Greco, no bairro Carlos Prates, na Região Noroeste de Belo Horizonte, enquanto fazia um treino com um grupo de cem pessoas. De acordo com testemunhas, o grupo passava pelo lado direito do viaduto, quando o coletivo do Move atingiu um dos ciclistas, que foi arrastado por cerca de 20 metros.
- No dia 13 de outubro, Um ciclista morreu após ser atropelado por um ônibus da linha 645 (Estação Pampulha/Santa Mônica – Via Jardim Atlântico). Segundo testemunhas, o ciclista descia a avenida Ministro Guilhermino Oliveira lado a lado ao ônibus. Quando o motorista do ônibus virava o coletivo para acessar a avenida Deputado Anuar Menhem, o ciclista seguiu em frente, atingiu a lataria e caiu debaixo do coletivo. Vitor Marques Diniz Martins, de 34 anos, morreu no local. Ele não usava equipamentos de proteção.
- Outro ciclista ficou gravemente ferido após ser atingido por um ônibus da linha Suplementar, o bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste de Belo Horizonte. De acordo com testemunhas, o homem escorregou da bicicleta, o ônibus passava pelo local e o motorista não conseguiu frear a tempo. A vítima ficou presa debaixo do veículo.
- Em fevereiro deste ano, um ciclista de 42 anos teve a perna amputada após ser atropelado por um carro em alta velocidade, na avenida Cristiano Machado, na altura do bairro Floramar, região Norte da cidade. Segundo a Polícia Militar, o motorista do carro é um homem de 28 anos, que assumiu ter ingerido bebida alcoólica. Ele disse disse aos policiais que cochilou ao volante e só acordou com o barulho do impacto da batida.
Na semana seguinte, ciclistas se reuniram para protestar contra a insegurança no trânsito e pedir respeito. A terapeuta Débora Mota participou da manifestação e questionou a falta de faixas ou ciclovias em dois importantes corredores que ligam às regiões Norte e Venda Nova ao Centro de BH.
“Eu moro no vetor Norte e a gente que tem o prazer de ir ao Centro da cidade de bike, não tem uma ciclofaixa. Fizeram as pistas para o Move em 2014, mas não pensaram nos ciclistas. As duas principais vias, Cristiano Machado e Antônio Carlos não tem espaço próprio pra gente”, contou.
Um novo ato foi realizado no dia 26, na Lagoa da Pampulha. Dezenas de ciclistas se reuniram para cobrar por segurança no trânsito e pela adoção de políticas públicas para quem usa a bicicleta na cidade.
O professor Diocleciano Dada é ciclista e atua em ações e pedidos para garantir a segurança de ciclistas na região. Reclama da falta de ações por parte do poder público.
“A Prefeitura fez a promessa de criar ciclovias e ciclofaixas, mas, menos de 1/3 foi cumprido, e ainda assim o pouco que foi feito não atende a alta demanda de ciclistas em deslocamento ou treinamento. Pra piorar a situação, muitos que passaram a pedalar na pandemia tiveram como única opção a bicicleta para ir ao trabalho e outros tantos viraram atletas pedalando com alta frequência. dessa forma as ciclovias e ciclofaixas não atendem a demanda atual, ainda mais que existem ciclovias que começam do nada e não levam a lugar algum, terminando em pontos críticos de circulação de bicicletas como a da Avenida Tancredo Neves para a Pedro II. E essa condição aumenta muito os riscos de acidentes, pois praticamente nos obriga a pedalar disputando espaço com carros, motos, ônibus e caminhões”.
Já a Prefeitura diz que mantém diálogo com os ciclistas. Veja a nota:
“A BHTrans mantém diálogo constante e aberto com os ciclistas por meio de um grupo (GT Pe-dala) formado pelo poder público e sociedade civil para discutir e acompanhar a implantação de ações na cidade. Durante as reuniões são discutidas as melhores rotas a serem viabilizadas, sendo apontados, inclusive, locais que precisam de melhorias e manutenção, visando aumento de segurança dos ciclistas e pedestres. A implantação de áreas Zona 30, com o tratamento viário para os ciclistas, e a revitalização dos 7,1 km da ciclovia da Orla da Pampulha, que também fazem parte das metas cicloviárias na cidade, passaram por discussões e consenso com os segmentos envolvidos”, informou em nota.