Objetivo é tornar as cidades mais seguras para as mulheres
O medo de caminhar à noite em uma rua escura ou passar por um local sem movimento está presente na vida das mulheres. Entretanto, o urbanismo feminista tem como objetivo acabar com estes momentos de insegurança.
Em suma, o conceito significa desenvolver cidades seguras também para as mulheres. Afinal, os espaços urbanos nunca tiveram esse foco no momento da construção do projeto.
Assim, o urbanismo feminista tem como objetivo criar estruturas urbanas seguras e acessíveis para mulheres. Deste modo, a proposta vai muito além de apenas iluminar as ruas ou criar sistemas de vigilância. Inclui também criar espaços de convivência e áreas externas que não sejam “escondidos” e podem ser vistos de outras residências e comércios.
Relatório da ONU pede mudanças em áreas urbanas para mulheres
A importância deste movimento é evidenciada por uma iniciativa global da Organização das Nações Unidas (ONU): a Cidades Seguras. Desde 2011, a medida oferece apoio a governos, empresas privadas, organizações não governamentais (ONGs), entre outros parceiros, com o objetivo de criar espaços públicos seguros para mulheres e meninas em ambientes urbanos e rurais.
De acordo com um relatório de 2022, da Universidade de Liverpool em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), as cidades não foram projetadas considerando as mulheres. O documento pede ações para remover o preconceito de gênero das áreas urbanas, melhorar a segurança, a saúde, o acesso à educação e ao emprego para mulheres.
Segundo o estudo, cerca de 4,5 bilhões de pessoas, ou 55% da população mundial, vivem em metrópoles, e 50% da população mundial é composta por mulheres e meninas. O relatório propõe aos tomadores de decisão, designers e planejadores urbanos que “trabalhem para cidades mais inclusivas, seguras e equitativas para as mulheres”.
As principais questões incluem o assédio sexual em espaços públicos, refletido pelas experiências de 97% das mulheres de 18 a 24 anos no Reino Unido, e a falta de acesso a instalações adequadas, com um terço das mulheres em todo o mundo sem banheiros adequados.
Ainda segundo o estudo, o preconceito de gênero embutido nas cidades também inclui a representatividade. Afinal, se reflete na homenagem aos heróis do passado e do presente por meio de monumentos públicos, com apenas 2% ou 3% das estátuas representando mulheres em todo o mundo.
Confira 3 ações que exemplificam o urbanismo feminista:
Projeto habitacional em Viena
Na década de 1990, a cidade de Viena, capital da Áustria, desenvolveu o maior projeto habitacional da Europa construído por e para mulheres. O ambiente proporciona segurança para caminhar nas ruas, além de facilitar as tarefas domésticas e familiares do cotidiano. Afinal, as varandas e janelas permitem a observação da rua e as mulheres não têm que passar por pontos “escondidos”.
Ao todo, são 357 moradias que foram finalizadas em 1997 e viraram referência na área de Arquitetura. Entre os principais destaques do projeto está a vigilância passiva. Por exemplo, há ligações visuais entre o apartamento, a escada, o jardim, o pátio, as praças e as ruas.
Com isso, todos podem ver o que está acontecendo e não há pontos sem visibilidade. Além disso, o térreo é aberto e as garagens também possuem uma estrutura sem pontos escuros, com iluminação natural.
Caminhos Seguros no México
Em 2019, a Cidade do México criou o Caminhos Seguros. Trata-se de um programa que incentiva o uso do espaço público e previne crimes.
O Ministério de Obras e Serviços da Cidade do México, responsável pelo programa, realizou mudanças como o aumento da iluminação pública com LED, a instalação de câmeras de vigilância, botões de emergência, limpeza de áreas verdes, entre outros pontos.
Deste modo, foram criados mais de 500 km de caminhos seguros. Além disso, foram instalados mais de 11 mil botões de alerta e 65 mil câmeras de vigilância.
Lei na Espanha
Já a Espanha possui uma lei que garante igualdade entre homens e mulheres no planejamento urbano. Assim, todo projeto deve trazer um relatório de impacto de gênero.
Assim, cada mudança no espaço urbano deve levar em consideração a segurança das pessoas, tanto de dia quanto de noite. Portanto, o resultado é a ausência de áreas escuras, maior iluminação e manutenção de áreas verdes.
Fonte: Mobilidade Estadão