Apesar da boa notícia, não é comum vermos o uso de ferramentas tecnológicas que auxiliem os administradores públicos a tornar a gestão das cidades mais inteligente, transparente e assertiva
A digitalização do setor público avançou fortemente nos dois últimos anos e, como consequência de toda essa modernização, o Brasil é hoje o segundo país do mundo com a mais alta maturidade em serviços públicos digitais. A vice-liderança brasileira nesse segmento consta na nova edição do GovTech Maturity Index (GMTI), divulgado em novembro de 2022 pelo Banco Mundial
O ranking considera o estado da transformação digital das soluções à população em 198 economias globais considerando quatro eixos principais: sistemas governamentais centrais, prestação de serviços públicos, engajamento do cidadão e habilitadores GovTech. O Brasil atingiu a nota máxima em todos eles.
Apesar da boa notícia, não é comum vermos o uso de ferramentas tecnológicas que auxiliem os administradores públicos a tornar a gestão das cidades mais inteligente, transparente e assertiva. Para isso, são inúmeras as possibilidades. Entre diversas tecnologias, a adoção da Internet das Coisas (IoT¹, em inglês) pode apoiar na melhoria da governadoria do serviço prestado à sociedade, bem como da qualidade de vida e experiência da população.
Prova disso é que no relatório do Gartner², de 2021, o IoT está entre as cinco tecnologias mais impactantes que podem transformar a realidade. A potência desse mercado é tamanha que a McKinsey³, em estudo recente, previu um impacto de até US$ 11.1 trilhões de dólares até 2025.
Entre as situações mais comuns que o uso de sensores ajuda a resolver, estão: informações em tempo real com geração de alerta direcionando os trabalhos em campo baseados em tomada de decisão mais ágil; ganho de eficiência;; maior garantia de qualidade nas operações tendo informações na palma da mão em tempo real e histórica; melhora na fiscalização de serviços, principalmente os que são espalhados em diversos locais; reduzindo a ocorrência de erro humano. Por exemplo, um sensor pode trazer informações que hoje são escritas no papel pelas equipes de campo.
Possibilidades de uso
Um primeiro exemplo é o caso do uso de sensores de IoT para monitoramento da qualidade das vias públicas auxiliando na gestão de parte da zeladoria da cidade. Quando dispositivos inteligentes, como câmeras com inteligência artificial embutida, são instalados nesses locais, a tecnologia gera alertas e análises das vias para uma atuação pública mais rápida e assertiva para situações de buraco na pista, colisão de veículos, interdição de faixas, entre outros.
Além disso, há o benefício de proporcionar mais transparência e controle do serviço prestado ao cidadão, já que a partir do monitoramento se promove uma melhor fiscalização dos contratos estabelecidos. Na prática, a implementação dessas inovações pode, inclusive, gerar mais economia aos cofres públicos, pois o acompanhamento com dados coletados por tecnologia garante a visibilidade necessária para os momentos em que há descumprimento do acordo, o que abre espaço para comprovar falhas, aplicar multas a terceirizados evitando, assim, serviços inoperantes.
Outro tipo de uso de IoTs é nos serviços de varrição de rua e de coleta do lixo urbano. Nestes casos, são conectados sensores às vassouras usadas na limpeza da cidade. Esse monitoramento das ferramentas de trabalho possibilita ao gestor público ter acesso a dados como o total do perímetro urbano varrido por dia, por semana…, recorrência em que essas manutenções são feitas em tal e tal bairro e total de equipes que de fato estão trabalhando nas ruas.
Todas essas informações coletadas contribuem na transparência da atividade pública quando elas são compartilhadas com a população através de sites informativos.
Nos caminhões de lixo, é possível obter informações da quantidade de veículos ativos em operação, localidades que já foram atendidas e quais ainda estão pendentes, por exemplo, e até informar a população quando o caminhão de coleta está chegando ou se for atrasar. Tudo captado de forma online, imediata e com processamento e armazenamento das informações, o que garante agilidade e eficiência nas tomadas de decisão para melhorar as operações, os contratos e futuras licitações.
Mais um impacto positivo, dessa vez no transporte público. Com a Internet das Coisas, os dispositivos contabilizam a quantidade de passageiros que entram e saem dos veículos em determinada estação, hora e dia, identificando, assim, a demanda exata para cada linha em operação, auxiliando nos estudos origem/destino. Também é possível obter dados como nível de qualidade da condução dos motoristas, consumo e níveis dos combustíveis, além de possibilitar a identificação preditiva de possíveis problemas na manutenção dos veículos. Essas informações preditivas permitem diminuir o risco de pane dos ônibus durante as viagens.
No final do dia, é a tecnologia contribuindo para melhorar o monitoramento das operações e fiscalização dos serviços nas cidades para o aumento da eficiência do serviço público prestado a partir de uma gestão ágil, assertiva e estratégica.
¹ Internet das Coisas ou Internet of Things são objetos conectados à Internet.
Eles coletam e comunicam dados, por isso podem também ser chamados de “sensores”.
Uma câmera, um celular, um GPS, um sensor que mede o nível de qualidade do ar são IoTs.
²https://www.gartner.com.br/pt-br/artigos/cinco-tecnologias-impactantes-gartner-emerging-technologies-trends-impact-radar-2022
³https://www.mckinsey.com/capabilities/mckinsey-digital/our-insights/the-internet-of-things-the-value-of-digitizing-the-physical-world
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Gerente de Smart Cities na green4T. Graduada em estratégias territoriais e urbanas pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, a executiva possui experiência organizacional na gestão de projetos de mobilidade adquirida no Brasil, França, Argentina e México. Atuou na implantação de 24 sistemas de bicicletas públicas e carros elétricos compartilhados e publicou o “Projetar e Construir Bairros Sustentáveis”, estudo comparativo sobre operações urbanas consorciadas, em São Paulo e Paris.