Para motoristas deixarem o carro em casa, é preciso oferecer opções melhores a eles
O que é mobilidade urbana? A resposta para esta pergunta ajuda a resolver um grande problema das metrópoles: os congestionamentos.
É evidente que há muitos carros nas vias, mas apenas dizer que é isso que causa o congestionamento do tráfego é muito simplista. É o que explica o mestre em transporte Miguel Ângelo Pricinote, coordenador técnico do Mova-se Fórum de Mobilidade.
“No entanto, isso é o que muitos acreditam. Basta se livrar de todos os carros, incentivar o uso de bicicletas construindo mais ciclovias e melhorar o transporte de massa, e todos os nossos problemas de congestionamento serão resolvidos. Todos seremos mais saudáveis respirando menos poluentes e estaremos em melhor situação. Bobagem”, afirma.
“Não estou dizendo que as bicicletas não são um bom exercício ou que os poluentes não são prejudiciais. Essa parte é verdade. No entanto, o automóvel não é o vilão, e o transporte de massa ou as bicicletas também não são os salvadores. Um sistema de transporte equilibrado é a resposta”, conclui.
Segundo o mestre, o congestionamento é um dos problemas urbanos mais preocupantes. Portanto, há um efeito considerável na qualidade de vida nas cidades. “Não é surpreendente descobrir que as regiões com maior número de veículos apresentam, em média, níveis mais elevados de poluição atmosférica e sonora. Os carros são uma das maiores fontes de poluição do planeta”, pontua.
Mobilidade urbana e causas do congestionamento
De acordo com o mestre, o congestionamento é causado por múltiplos fatores. Por exemplo, muitos carros para a via ou obstáculos, como veículos parados em fila dupla, obras sem plano adequado de impacto, acidentes ou falha em semáforos.
Deste modo, saber o que é mobilidade urbana e como aplicar este conceito é fundamental. “Se você quiser que os motoristas deixem o carro em casa, dê a eles opções melhores. Não os culpe por cuidar de seus próprios interesses”, pontua o especialista.
“Dê a eles uma rota direta de ônibus se um metrô não puder ser justificado, ou pelo menos uma viagem que possa ser feita tomando duas linhas de ônibus ou até três, mas com informações que facilite a sua utilização”, afirma Miguel.
Alternativas
Além disso, o mestre cita como alternativa a integração física e tarifária entre outros modos (bicicleta, táxi e serviços sob demanda) aos ônibus e metrô. Somado a isso, Miguel cita ainda o estacionamento de bicicletas nas estações de metrô, terminais de ônibus e até nos pontos de ônibus.
Outro ponto é o aumento na fiscalização para coibir os estacionamentos irregulares que causam congestionamento. O mestre afirma que é essencial planejar o máximo possível as obras viárias para o período da noite ou quando a via não estiver movimentada. Por fim, destaca medidas de prevenção de acidentes e semáforos em sincronia.
Além disso, as bicicletas também têm um papel fundamental. Contudo, é preciso aplicar conceitos de planejamento urbano para que esse seja um modo eficiente de transporte, com integração a outros modais para percorrer longas distâncias.
Neste contexto, o mestre reforça a necessidade de fornecer serviços de primeira e última milha. Além disso, recomenda facilitar o movimento de mercadorias dentro da cidade.
Ainda visando a mobilidade urbana, outra estratégia seria aumentar a eficiência nos sistemas de estacionamento, além de integrá-los aos serviços públicos de transportes.
Já a gestão de tráfego pode contar com uma grande aliada: a tecnologia. “Atualmente existem várias soluções tecnológicas para auxiliar as cidades a lidar com o congestionamento, como por exemplo as tecnologias de Inteligência Artificial para comunicação veículo-veículo (V2V) e comunicação veículo-infraestrutura (V2I)”, detalha o especialista.
Embora ambos os termos pareçam semelhantes, na realidade, são muito diferentes. “OV2V tem que lidar com a comunicação entre veículos individuais e o V2I se comunica com veículos de infraestruturas como cones e sinais de trânsito”, explica Miguel.
Papel do poder público na mobilidade urbana
De acordo com o mestre em transportes, o principal papel do poder público é ser um grande facilitador na formação de um novo ecossistema tecnológico da mobilidade. Para isso, Miguel cita alguns pontos essenciais:
- Fomentar a pesquisa e desenvolvimento de novas soluções;
- Investir em novas soluções tecnológicas complementares ao transporte público;
- Criar uma política pública para os estacionamentos (integrar como transporte público);
- Separar a tarifa de remuneração do transporte da tarifa do usuário;
- Investimento na modernização da rede semafórica;
- Investimento na construção de corredores de ônibus;
- Investimento em tecnologias para melhoria da informação para pedestres, motoristas e usuários do transporte público;
- Criação de uma central para gestão inteligente do tráfego com base em dados obtidos em tempo real.
“Estas alterações e investimentos devem ser combinados a uma nova visão integrada entre o planejamento urbano (uso e ocupação do solo), sistema viário e transporte público – também em nível metropolitano (atualmente as discussões ficam somente no campo municipal). Enquanto estas discussões forem isoladas pouco iremos caminhar em relação a redução do número de congestionamentos”, finaliza o especialista.
Fonte: Mobilidade Estadão