Qual é a melhor estratégia para o Brasil?
Os resultados do primeiro turno da eleição apresentaram um país dividido pela ideologia e pela geografia e um cenário incerto para o futuro governo.
Nada disso deve nos desviar do essencial: qual será a rota de desenvolvimento econômico sustentável do Brasil para os próximos vinte anos?
Qual é a melhor estratégia para o Brasil voltar a crescer, recuperar a competitividade de suas indústrias, gerar empregos e, ao mesmo tempo, cumprir seus compromissos internacionais de descarbonização da economia até 2050?
Essas questões deveriam estar no centro do debate eleitoral do segundo turno.
Cabe às empresas, às associações empresariais e à imprensa levar tais ideias aos futuros governantes: um pacto pela reindustrialização do país, pela qualidade de vida nas cidades e pela inovação tecnológica, por meio do transporte limpo e renovável.
Esse pacto passa pelo reconhecimento da excepcional posição que o Brasil pode ocupar no cenário global de combate aos gases do efeito estufa e à poluição urbana.
Temos, de um lado, uma matriz de geração de eletricidade mais de 80% renovável, e crescendo, com aumento contínuo da geração eólica e solar. De outro, a mais bem-sucedida indústria de biocombustíveis do planeta.
Esse pacto passa pela confluência de ambas as tecnologias – eletromobilidade e biocombustíveis – e não pela concorrência predatória entre elas, com base no entendimento de que há espaço no Brasil para todas as estratégias de baixa emissão.
Recentemente, a Associação Brasileira do Veículo Elétrico e o Instituto de Engenharia lançaram uma importante Carta da Eletromobilidade.
Foi o resultado de um ciclo de debates realizado em São Paulo, em julho, sob o provocativo título: “Eletromobilidade – O Brasil Está Preparado para a Grande Mudança?”
A Carta foi enviada aos principais candidatos a presidente da República e será remetida aos principais candidatos a governador e governadores já eleitos.
O texto avalia que a eletromobilidade é uma realidade irreversível, cabendo ao Brasil aproveitar ao máximo as vantagens estratégicas de que dispõe para voltar a liderar a corrida global pelo desenvolvimento sustentável.
Para isso, tem de recuperar o tempo perdido. Hoje, há mais de 16 milhões de veículos leves elétricos plug-in e 600 mil ônibus elétricos em circulação no mundo.
No Brasil, porém, no início do segundo semestre, o mercado atingiu a marca de 100 mil eletrificados leves vendidos e apenas 370 ônibus elétricos em circulação. Números muito distantes da realidade da China, da Europa ou dos Estados Unidos.
Como reverter esse cenário? Diz a Carta da Eletromobilidade:
“A eletrificação do transporte público, de passageiros e de carga é vital para renovar tecnologicamente a indústria brasileira, recuperar a competitividade de sua engenharia automotiva, reinserir o parque produtivo nacional nas cadeias produtivas globais e criar os empregos de qualidade das futuras gerações”.
O que é preciso fazer?
“O Brasil necessita instituir, urgentemente, um Marco Regulatório da Mobilidade que contemple Planos Nacionais de inserção da Eletromobilidade em todos os modos de transporte, em nível de Governo Federal, Estadual, Metropolitano e Municipal, com vistas à racionalização, planejamento e economia da atividade para inserir a veículos elétricos numa estratégia de desenvolvimento do país”.
A Carta conclui:
“Esse Plano deve incluir um conjunto de metas para assegurar a inevitável transição dos combustíveis fósseis para os renováveis no transporte, a exemplo de outros países”.
O transporte limpo e sustentável é uma “agenda positiva”, capaz de unir diferentes correntes políticas e segmentos econômicos. Acima de tudo, é uma agenda do mais alto interesse nacional.
Mais do que nunca, a hora de falar sobre isso é agora.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.