Diversas organizações incentivam sua ocupação por crianças e adolescentes
Há algumas décadas, era comum crianças e adolescentes usarem as ruas para brincar, fato que, hoje, parece improvável e só visto em cidades pequenas do interior do Estado. Urbanização acelerada, excesso de veículos e altas velocidades deram às vias a fama de locais perigosos, sobretudo para as crianças, que acabaram se afastando delas.
“O modelo rodoviário não só desarticulou a escala humana do planejamento urbano, da mobilidade e dos espaços públicos como invisibilizou a diversidade social das nossas cidades. E as crianças foram um dos grupos mais afetados, já que, até há pouco tempo, não era reconhecido dentro das dinâmicas urbanas”, diz Gabriela Callejas, fundadora e diretora da Cidade Ativa, organização social que trabalha para que as cidades sejam mais inclusivas, resilientes e saudáveis. A Cidade Ativa também é uma das curadoras do Parque da Mobilidade Urbana, evento que acontece entre os dias 23 e 25 de junho, no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Na prática, segundo ela, as metrópoles acumulam diversos problemas que afastam as crianças, como falta de acessibilidade universal, com obstáculos que tornam os deslocamentos perigosos, além da precária infraestrutura de apoio.
O resultado é a falta de interação com esses espaços, tão importantes para a formação e autonomia. “Embora sintam os efeitos negativos do ambiente, como ruídos, poluição, entre outros, é no contato com o ambiente urbano que se dão as primeiras noções de cidadania e civilidade. E a forma como as crianças vivem e experienciam esses locais, certamente, influenciará a maneira como viverão a cidade no futuro”, avalia Nathalie Prado, coordenadora da Cidade Ativa.
Como mudar essa realidade
Para que nossas vias sejam mais inclusivas, é necessário um trabalho articulado em várias frentes. Para Gabriela, o primeiro passo é a inserção dessa perspectiva no planejamento urbano, ouvindo esse grupo na discussão.
“Nós já perguntamos o que nossas crianças e cuidadores precisam para estarem mais nas ruas, com segurança e autonomia? Há cidades que avançam nessa direção, como Jundiaí (SP), que criou um comitê específico de participação de crianças no planejamento urbano. Ou seja, é necessário entender as realidades, as necessidades reais e os hábitos locais, fazendo junto com quem vive, cotidianamente, essas exclusões”, comenta a especialista.
Ela alerta ainda que qualquer pessoa pode e deve reivindicar ao Poder Público esse direito ao acesso às cidades, buscando as instâncias participativas, mapeando e identificando como esse tema vem sendo tratado.
Por ruas mais amigáveis
Conheça algumas iniciativas da Cidade Ativa com foco em crianças e adolescentes
• Iniciativas de transformação espacial, como a Olhe o Degrau, uma intervenção em escadarias na cidade de São Paulo, para mostrar suas potencialidades de uso e levar mais segurança, feita com moradores e crianças. Desde 2014, foram realizadas cinco reformas por causa da iniciativa. Outra ação é o Ruas de Brincar, iniciativa que tem operação e implementação da Prefeitura de Jundiaí, com apoio do Ateliê Navio e Fundação Bernard van Leer, que consiste no fechamento de ruas mapeadas aos domingos para os veículos, e que a Cidade Ativa atua no diagnóstico participativo do projeto piloto com a comunidade para escolha de novas vias.
• Campanhas como a “Cidade do Sim”, lançada em outubro de 2021, que começou com um manifesto que reivindica cidades mais acolhedoras e “permitidas para criança”, com grande apoio de organizações e outros interessados, via coleta de assinaturas, online, em todo o País. A próxima etapa está em estruturação, e irá manter uma visão coletiva do assunto, mas dando escala ao tema.
• Cidade EducAtiva, em escolas, que leva ao ambiente escolar metodologias que ajudam alunas e alunos a trazerem seu olhar aos espaços da cidade. Crianças e adolescentes são incentivados a fazer suas análises após uma experiência prática, no entorno escolar, inserindo-os na construção e na transformação do espaço público.
Fonte: Mobilidade Estadão