Gestão dos estacionamentos nas vias é crucial para as cidades transformem espaços destinados aos carros em espaços para o transporte público, bicicletas e pedestres
Nos últimos anos, diversos eventos climáticos ocorridos ao redor do mundo assolaram cidades, inclusive as brasileiras. Em 2022, chuvas intensas e deslizamentos em decorrência do solo encharcado devastaram a região serrana do Rio de Janeiro, especialmente a cidade de Petrópolis, que registrou 250 deslizamentos em um único dia. Algo semelhante ocorreu em Pernambuco, onde chuvas acima da média levaram ao deslizamento de barreiras. No final de 2021, no estado da Bahia, as ocorrências ligadas às fortes chuvas deixaram pelo menos 72 municípios em situação de emergência. Assim como nos exemplos anteriores, a ocorrência deixou mortos e diversas famílias desabrigadas. Ao redor do mundo o quadro não é diferente, ainda que os eventos sejam outros. Furacões e incêndios nos Estados Unidos, ondas de calor no Oriente Médio e sul da Ásia, e a ampliação da temporada de tsunamis são exemplos alarmantes. Eventos climáticos extremos como esses e seus impactos no planeta foram discutidos no relatório sobre mudanças climáticas da ONU.
Para combater eventos climáticos devastadores e sem precedentes, precisamos de um sistema de transportes menos poluente e com menor utilização de carros e motos. A gestão dos estacionamentos nas vias é crucial para deixar mais veículos particulares fora das ruas, reduzir a necessidade de dirigir e permitir que as cidades transformem espaços destinados aos carros em espaços para o transporte público, bicicletas e pedestres. Para incentivar a boa gestão das vagas de estacionamento, o ITDP Brasil lança a versão em português do estudo Precificação do Estacionamento em Via Pública.
Aplicar requisitos mínimos de vagas de estacionamento em edificações e oferecer vagas gratuitas ou de baixo custo vêm nas ruas da ideia de que os carros são os principais usuários da via e os mais eficientes, e, portanto, é necessário que o espaço viário seja desenhado exclusivamente para a circulação de automóveis. Mesmo com conhecimento dos efeitos degradantes gerados pelos automóveis, os requisitos mínimos de vagas se tornaram a norma. Veículos motorizados, em sua onipresença, são vistos como o padrão, o modo favorito de deslocamento. Mas os carros nem sempre foram vistos como imprescindíveis: esse padrão se dá apenas por uma escolha política que os gestores e as cidades fazem repetidamente.