País já tem uma cadeia produtiva completa, com experiência, eficiência e tecnologia testada
A LatBus 2022, realizada no início de agosto em São Paulo, foi um banho de água fria nas previsões pessimistas dos céticos da eletromobilidade no Brasil.
A maior feira de ônibus e transporte público da América Latina mostrou uma realidade que poucos conhecem, ou talvez preferissem não reconhecer.
Mostrou que o Brasil está, sim, totalmente preparado para responder ao grande desafio de eletrificar e, portanto, reduzir ou zerar as emissões de poluentes das frotas de ônibus urbanos a diesel que circulam nas cidades brasileiras.
E não num futuro remoto – mas no curto prazo, ou seja, já a partir deste ano ou no primeiro semestre de 2023.
E o mais importante: mostrou que as indústrias brasileiras de capital nacional e as indústrias de capital estrangeiro com fábricas instaladas o Brasil lideram esse processo.
Vamos aos fatos:
A Eletra – empresa 100% nacional, com sede em São Bernardo do Campo (SP) – apresentou na LatBus dois novos modelos de ônibus totalmente elétricos e anunciou mais três até novembro.
O E-bus 12,5m tem sistema de tração elétrica Eletra, motor elétrico WEG (outra empresa 100% nacional), carroceria Caio (também uma grande empresa nacional) e chassi Mercedes-Benz (tradicional montadora alemã, instalada no Brasil desde 1956).
Já o E-bus 15m Eletra apresenta a mesma configuração, mas com chassi Scania – outra importante montadora, de capital sueco, instalada no Brasil desde 1957.
Até o final do ano, a Eletra lançará um modelo de 12,8m, um de 21,5m articulado e um de 10m.
Todos 100% elétricos. Todos com tecnologia de tração elétrica e integração de sistemas da Eletra, motores WEG, carrocerias Caio e chassi Mercedes-Benz.
Um detalhe da maior relevância é que todos esses modelos serão equipados com baterias elétricas produzidas no Brasil pela WEG – uma façanha inédita, que enche de orgulho a indústria nacional.
A LatBus mostrou ainda que outras empresas, tanto nacionais quanto estrangeiras, também apostam na produção local de ônibus elétricos no Brasil, como é o caso da start up brasileira Arrow e da conhecida chinesa BYD (com fábrica em Campinas/SP), entre outras.
Esses fatos comprovam uma realidade na qual poucos acreditavam: O Brasil já tem uma cadeia produtiva completa, dinâmica, experiente e de alta qualificação tecnológica, capaz de atender a todas as demandas de eletrificação das frotas de transporte público no Brasil.
Um exemplo concreto: a promessa do prefeito Ricardo Nunes de colocar 2.600 ônibus elétricos em circulação em São Paulo até 2024 poderá ser integralmente atendida pela indústria brasileira – o que, aliás, já está acontecendo.
Essa é uma notícia importante para toda a América Latina.
Durante décadas, a indústria brasileira de ônibus a diesel forneceu todos os veículos demandados pelos principais países da América Latina.
A demora – ou hesitação – do Brasil em apostar claramente na eletromobilidade fez as indústrias brasileiras perderem esse tradicional mercado.
Dos 2.800 ônibus elétricos em circulação na América Latina no primeiro semestre de 2022 – em países como Chile, Colômbia, México e Equador -, todos foram importados da China.
O Chile tem mais de 800 ônibus elétricos já em operação, a Colômbia em torno de 600 e o México cerca de 400 – e todos eles têm programas apoiados pelos governos locais para chegar a cerca de dois mil cada um nos próximos dois anos.
Já o Brasil tem pouco mais de 50 ônibus 100% elétricos a bateria em circulação no país – um vexame!
A conclusão a tirar é evidente: O Brasil está atrasado no processo de eletrificação de suas frotas de ônibus urbanos, embora tenha todas as condições de dar a volta por cima e recuperar rapidamente a liderança do mercado latino-americano.
Essa é uma questão estratégica para o país, que deveria ser levada muito a sério pelos atuais candidatos a presidente da República e governador.
O Brasil tem tecnologia, competência e capacidade instalada para ser um dos grandes players mundiais em eletrificação de frotas de transporte público.
O que falta?
A indústria nacional já está fazendo a sua parte. Cabe agora aos futuros governantes também fazer a sua, e dar os sinais corretos aos fabricantes, ao mercado e aos parceiros brasileiros na América Latina.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities.