Muitas pessoas me perguntam como nós criamos o ecossistema do Vale do Pinhão. Minha resposta: um ecossistema a gente não cria, ele já existe.
No caso do Vale do Pinhão, em Curitiba e Região, estamos falando de décadas de inovação, antes de 2017, quando surgiu a proposta do Vale. Diversos projetos de Cidade Inteligente, sustentabilidade, urbanização e mobilidade de Curitiba começaram a ser implantados nos anos 1970 e 80. Nossos Faróis do Saber, primeiras lan houses públicas do Brasil, foram lançadas nos anos 90. Assim Curitiba foi gerando ao longo de décadas um histórico de projetos inovadores que viraram referência no Brasil e no mundo.
E não foram apenas ações do poder público. O primeiro Parque de Software do Brasil é de 1998. Temos 60 Instituições de Ensino Superior (a primeira Universidade Federal brasileira foi criada na capital paranaense em 1912). Hoje, são 8 mil empresas de TI, cerca de 500 startups e os três únicos unicórnios do sul: Ebanx, Madeira Madeira e Olist, que aliás foram fundados antes de 2017.
Então existe em Curitiba um passado ousado, criativo e empreendedor. Uma história de inovação, um ecossistema que já era diferenciado antes mesmo de se usar por aí a palavra ecossistema. Por isso, a melhor maneira de tratar essa complexidade chamada ecossistema, é como REI: Respeitar, Escutar e Integrar.
Respeitar significa levar em conta seu passado, sua história. Valorizar quem por lá passou, o que se construiu ao longo do tempo. Ressaltar os feitos, as pessoas e as instituições
Escutar para entender suas necessidades, seus desejos, suas virtudes e possibilidades. A escuta ativa gera empatia, gera aprendizagem e com isso planejamos de forma assertiva.
Para então executar ações sinergias, compartilhadas. Ações multiníveis e multisetoriais. Ações Integradas.
E quem precisamos respeitar, escutar e integrar? Antes falávamos de tríplice hélice – governo, academia e iniciativa privada ou setor produtivo (como se os outros fossem improdutivos). Então, avançamos para a quarta hélice com o cidadão, trazendo a participação popular ao centro do planejamento.
Hoje falamos de novas hélices, com mais atores que precisam compor essa mandala que forma o tecido complexo do ecossistema: os agentes financiadores – cada vez mais indivisíveis dos ambientes bem-sucedidos de inovação; e o meio ambiente – colocando a sustentabilidade em foco, mas também a cultura, a arte, a igualdade social e de oportunidades, dando voz a todos os atores, de todas as hélices.
Nesses pouco mais de cinco de Vale do Pinhão, são inúmeros prêmios, conquistas, reconhecimentos. Mas tem um que eu vejo de forma muito especial, que é a premiação Comunidades Mais Inteligentes do Mundo, feito pelo Intelligent Community Forum, o ICF, do Canadá. Como o título diz, o prêmio foi criado para reconhecer a comunidade inteligente, não apenas a cidade, um projeto, uma pessoa, mas a comunidade, ou seja, o ecossistema. Esse prêmio começa com a seletiva Smart21, com 21 comunidades, depois migra para o TOP7 para então chegar à comunidade vencedora a cada ano. O Vale do Pinhão colocou Curitiba entre as Smart21 em 2018, 2019 e 2020 e TOP7 em 2021 e agora novamente em 2022, quando estamos novamente entre as sete finalistas do Comunidades Mais Inteligentes do Mundo. Uma conquista assim só acontece com um ecossistema REI, que a gente Respeita, Escuta e Integra.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade da autora, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Consultora de Inovação e Transformação Digital; Palestrante. Conselheira. Investidora Anjo; Diretora de programas da Funpar – UFPR. Mãe do Victor e da Marina. Maratonista. Ex-Presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação e do Conselho Municipal de Inovação. Co-fundou e presidiu o Fórum InovaCidades ligado à Frente Nacional de Prefeitos. Atua no Conselho de Mulheres na Tecnologia.