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DESCARBONIZAÇÃO SERÁ A PRINCIPAL PAUTA DO SETOR MINEROMETALÚRGICO NOS PRÓXIMOS ANOS, APONTAM ESPECIALISTAS

Plenária realizada durante 6ª edição ABM WEEK reuniu profissionais brasileiros que trabalham no exterior. Eles discutiram as transformações causadas pela pressão por carbono zero na Europa e nos EUA e das oportunidades que elas podem trazer para o país 

A mineração e a siderurgia mundiais vêm sofrendo grandes e aceleradas transformações, mas seus impactos sobre a indústria brasileira muitas vezes ainda não são sentidos de maneira clara.

Pensando nisso, Débora Oliveira, diretora de comunicação e relações institucionais do Instituto Aço Brasil, e Francisco Coutinho Dornelas, consultor e diretor da Regional ABM do Espírito Santo, organizaram a Plenária Mineração e siderurgia mundial: Visão de brasileiros que residem no exterior.

O evento ocorreu no último dia 8, como parte da ABM WEEK, realizada no Pro Magno Centro de Eventos, em São Paulo.



“A ideia era trazer a visão de brasileiros que atuam em diferentes partes do mundo e conhecem os desafios e as oportunidades do atual momento, que vão desde a formação pessoal até questões da área técnica”, apontou o moderador do encontro, José Noldin, diretor de Inova Tech (Tecnologia e Descarbonização) da CSN.

A reunião começou com um pronunciamento de Wagner Mariano Sampaio, presidente para a América do Sul da RHI Magnesita, que introduziu dois dos desafios que o setor minerometalúrgico atualmente encontra: a descarbonização e “uma ambiguidade entre globalização e pressão por ser uma organização local”.

“Precisamos ser flexíveis para lidar com essas questões. A regionalização, aliás, pode fortalecer a agenda ESG”, apontou Sampaio.

Paulo Vitor Carvalho, diretor de Steel Consulting da CRU Consulting, confirmou que a “indústria siderúrgica global está entrando fortemente na era da descarbonização”, algo que, aliado a outros fatores, tem propiciado o surgimento de novos modelos de negócio.

“Além disso, a indústria experimenta agora um momento excepcional em termos de alta de preços. Ainda que os custos venham a subir, a lucratividade continuará em alta”, acrescentou Carvalho, que vive na Inglaterra.

As pressões exercidas por órgãos reguladores no mundo inteiro pela redução das emissões de carbono, além da própria demanda crescente por sustentabilidade demonstrada por clientes e consumidores, têm forçado as indústrias a buscarem implementar a agenda ESG, apontou Rodrigo Corbari, diretor de Assistência Técnica ao Cliente nas Américas da GraphTec International.

“Parte desse quebra cabeça da redução da emissão de CO2 está na aciaria elétrica. O aço produzido pela rota elétrica consome menos energia e emite menos carbono”, ele explicou.

Nos Estados Unidos – onde ele mora há 20 anos –, as aciarias elétricas já representam 70% do total, e a expectativa é de um incremento de 20 milhões de toneladas até 2024.

“Aciaria elétrica é parte da redução, mas não é solução única. Não existe bala de prata”, ele completou.

Embora a redução das emissões de carbono seja o processo dominante na mineração e na siderurgia mundiais neste momento, há oportunidades locais que podem ter grande interesse para a indústria também. É o caso do Sudeste Asiático, especialmente as 10 nações reunidas no bloco ASEAN, apontou Eduardo Pfiffer, gerente geral de Inteligência de Mercado da Vale em Singapura.

“O mundo fala pouco sobre essa região, embora ela tenha crescimento muito forte e oportunidades que talvez não estejamos percebendo”, Pfiffer explicou.

A crescente demanda por aço fez com que subissem as importações e também os investimentos em produção local. Atualmente, há 20 projetos siderúrgicos nos países do Sudeste Asiático, o que deve dobrar a capacidade de produção local, segundo Pfiffer.

Todos esses movimentos levarão a necessidades ainda maiores de profissionais capacitados atuando nesse setor – mas já se constatou uma carência profissional no que diz respeito às carreiras de ciências, engenharias, tecnologia e matemática, informou Karla Ohler-Martins, professora da Universidade de Ciências Aplicadas Ruhr West, na Alemanha.

“A imagem que a nova geração tem do setor metalúrgico é que ele não é seguro, que causa danos à saúde e que o trabalho é pesado”, Ohler-Martins declarou.

A professora explicou que a mão de obra do segmento está envelhecendo, o que acelera a necessidade de atrair jovens para a indústria. Ao mesmo tempo, novas habilidades serão exigidas, como consciência ambiental e conhecimentos em sustentabilidade.

Comparando o sistema de ensino alemão ao brasileiro, Ohler-Martins demonstrou que no país europeu os talentos são identificados ainda muito cedo, na escola. Já no Brasil, os níveis de educação atingidos são inferiores e não há preocupação em estimular estudantes mais destacados.

De alguma maneira, as questões apontadas pelos profissionais brasileiros que estão no exterior sugerem caminhos para a indústria nacional, já que antecipam tendências que devem ganhar força por aqui em breve ou indicam as mudanças e adaptações necessárias.

Na opinão de Noldin, a plenária conseguiu condensar diversas questões que estão sendo debatidas nos outros eventos da ABM WEEK de maneira bem-sucedida.

“Falamos sobre mudança climática e seus efeitos sobre a siderurgia, sobre o crescimento da produção no sudeste asiático sem a pressão de reduzir as emissões, sobre a transição da aciaria dos EUA para o modelo elétrico, sobre o modelo alemão de educação. Tudo isso se relaciona profundamente com os desafios brasileiros”, ele definiu.

Com informações da Assessoria de Imprensa

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