As prefeituras brasileiras estão oferecendo mais segurança e oportunidades para que as pessoas possam pedalar nos deslocamentos diários e não só para o lazer
A pandemia do Coronavírus dá sinais de que está sendo controlada e a vacinação mais abrangente trouxe a segurança esperada pelas pessoas poderem retomar as suas atividades do dia a dia. Mesmo as mudanças de hábito, como a introdução de home office e de jornadas híbridas que alternam dias em casa com atividades presenciais nos escritórios, não evitaram que os deslocamentos diários ficassem cada vez mais frequentes. Também está sendo possível perceber mudanças de comportamento no que diz respeito à escolha do veículo que será utilizado para a realização das viagens diárias. O número de passageiros que utilizam os transportes públicos encontra-se na faixa dos 70% a 80% do que se verificava antes da pandemia, entretanto o uso dos automóveis tem se mostrado superior aos registros de antes de março de 2020.
Outro modo que também passou a ser utilizado com mais frequência durante e depois da pandemia, foi a bicicleta. Iniciativas como as da Cidade do México e de Bogotá, como a implantação de ciclovias temporárias logo no início da crise sanitária mundial, visavam oferecer uma alternativa segura e menos poluente que os automóveis. Ainda que essas medidas não tenham sido comuns em nossas cidades, as bicicletas estão ganhando cada vez mais espaço nas vias brasileiras. De acordo com um levantamento da ABRACICLO – Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares –, através das informações divulgadas pelas capitais brasileiras, a extensão de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas cresceu mais de 40% entre 2018 e 2021. Ou seja, as prefeituras brasileiras estão oferecendo mais segurança e oportunidades para que as pessoas possam pedalar nos deslocamentos diários e não só para o lazer.
O aumento da infraestrutura dedicada às bicicletas está aquecendo o setor e as vendas apresentam um crescimento cada vez mais consistente. Nesse segmento as bicicletas elétricas é que se tornaram o produto com maior destaque. Se no ano de 2018 foram vendidas 22.500 unidades, em 2021 os números atingiram a marca de 40.891 bicicletas, um crescimento de 81% e uma movimentação financeira da ordem de R$ 289,3 milhões.
Com preços médios na casa de R$ 7.200, as elétricas ainda não estão acessíveis à todas as classes sociais e, nesse sentido, o mercado de micro mobilidade como serviço apresenta opções acessíveis. Também foi durante a pandemia que o uso das bicicletas compartilhadas cresceu de forma significativa. Só no Rio de Janeiro o sistema denominado BIkeRio, operado pela Tembici, registrou um aumento de 44% no número de novos usuários. O crescimento de clientes, não só na cidade do Rio de Janeiro, fez com que a empresa investisse numa nova fábrica de bicicletas elétricas em Manaus. Com cerca de 6 mil veículos no Brasil, Chile e Argentina a meta é chegar às 30 mil unidades em 2022, sendo que dessas, 10 mil serão elétricas.
Uma outra opção para quem não pode ou não pretende adquirir uma bicicleta elétrica nesse momento, são os serviços de assinatura, como o da E-Moving. Nesse modelo, empresas podem disponibilizar as bicicletas para os deslocamentos durante o trabalho, no trajeto casa-trabalho-casa ou como um benefício, chegando até a substituir o vale-transporte. Tendo em vista o sucesso dos planos de assinatura para pessoas jurídicas, a E-Moving já planeja retomar os planos para pessoas físicas ainda em 2022.
Os serviços de delivery estão cada vez mais presentes em nosso dia a dia e as bicicletas elétricas estão se mostrando como um importante veículo para a ampliação desses serviços, sem falar na redução da poluição quando comparadas às motocicletas. Também já é visualmente perceptível o quanto o uso das bicicletas em nossas cidades se tornou mais comum e isso demonstra o quão importante são as políticas públicas que fomentem a ampliação da rede de infraestrutura dedicada aos ciclistas. Mais segurança, mais infraestrutura e novos modelos de negócio para aqueles que querem utilizar a bicicleta no dia a dia parece ser a fórmula para que cada vez mais pessoas passem a utilizar esse veículo como meio de transporte habitual, reduzindo os congestionamentos, a poluição e tendo hábitos mais saudáveis.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Especialista em Mobilidade Urbana e Mobilidade Ativa, pós-graduado com MBA em engenharia de transportes pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e com formação em gestão pública pelo CLP em São Paulo, com módulo internacional na Kennedy School da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Atualmente ocupa o cargo de Vice-Presidente de Relações institucionais da SEMOVE. Atuou também como consultor em Mobilidade Urbana através da RT2 Consultoria, empresa que fundou em 2005. Ocupou o cargo de Secretário Extraordinário de Mobilidade Urbana de Porto Alegre entre 2019 e 2020 e foi presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana da ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos por dois mandatos, entre 2018 e 2021.
De 2013 a abril de 2019 atuou como secretário de Transporte e Trânsito de Juiz de Fora (MG), antes de assumir o seu primeiro cargo público fez parte da equipe da Sinergia Estudos e Projetos no Rio de Janeiro nos anos de 2002 a 2012.