Buscar melhorias para a gestão do município e para o atendimento público inclui soluções criativas e a quebra de paradigmas, inovando sem necessariamente envolver tecnologia de ponta
O primeiro passo para tornar uma cidade inteligente é utilizar a tecnologia e o planejamento para melhorar a vida de cidadãos e cidadãs. Aprimorar a qualidade de vida da população passa, sobretudo, por questões primordiais diretamente relacionadas ao atendimento público, como a redução de filas nas unidades básicas de saúde; mais acesso à educação; aumento dos índices de cobertura de saneamento básico e energia elétrica; uma governança em constante melhoria da segurança pública e medidas consistentes de promoção da inclusão digital.
Uma cidade inteligente é capaz de atrair investimento privado e centros de pesquisa, proporcionando mais oportunidades de capacitação e emprego para sua população. Sempre digo que uma cidade inteligente enxerga o uso de tecnologias e inovações não como um fim, mas como um meio para conectar os serviços de atendimento público às necessidades primordiais da população. O crescimento socioeconômico vem em seguida, como consequência de políticas de inclusão.
Por meio da disponibilização de internet gratuita e acesso a serviços públicos de forma online, uma cidade inteligente simplifica a solicitação de demandas e traz mais rapidez aos serviços públicos em diversos setores. Uma administração pública alinhada com o conceito de cidade inteligente inclui ainda a digitalização de processos, fornecendo ferramentas tecnológicas de comunicação que estimulem a participação de cidadãos nos atendimentos públicos.
Uma cidade inteligente interliga sistemas tecnológicos avançados para conectar serviços públicos, organizações do terceiro setor e empresas, disponibilizando diversas informações com o objetivo de transformar o engajamento cidadão. Mas uma cidade inteligente não se restringe a promover a aplicação de tecnologias de informação e comunicação acessadas em smartphones. Buscar melhorias para a gestão do município e para o atendimento público inclui soluções criativas e a quebra de paradigmas, inovando sem necessariamente envolver tecnologia de ponta.
O programa Descomplica SP, por exemplo, é uma praça de atendimento presencial onde o cidadão e a cidadã paulistanos encontram, em um só lugar, cerca de 300 serviços municipais, como a validação da senha web, cadastro para recebimento de benefícios sociais, o requerimento do Seguro Desemprego, entre muitos outros, além de contar também com diferentes serviços estaduais e federais.
Implantado durante minha gestão à frente da Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia (SMIT), entre 2017 e 2019, o Descomplica SP inova ao promover o atendimento lado a lado com o servidor, abolindo a mesa e incentivando a participação proativa do cidadão e da cidadã. Tanto o funcionário, quanto a pessoa que procura o serviço, ficam de frente para a tela do computador, o que propicia total transparência ao que está sendo feito e humaniza o atendimento. O cidadão e a cidadã podem assim acompanhar o serviço, conhecer o sistema e ver o caminho percorrido pelo atendente, acompanhando os resultados. Juntos, servidor com o cidadão ou a cidadã, procuram as respostas, reforçando os conceitos de colaboração e parceria e aumentando a confiança no serviço prestado.
O programa Descomplica SP já realizou mais de 500 mil atendimentos na capital paulistana, com um índice de satisfação de 99% da população. Atualmente, são nove unidades espalhadas pela cidade. É a concretização de uma política municipal de atendimento ao cidadão e à cidadã, estabelecendo padrões de excelência nos serviços municipais, incluindo aqueles prestados por terceiros ou mesmo por empresas contratadas. Além disso, tão ou ainda mais importante e inovador, é o trabalho de letramento digital oferecido pelo programa, para que as pessoas aprendam a navegar pela internet, a acessar e realizar os serviços públicos digitais com autonomia e facilidade.
Uma cidade inteligente tem foco na promoção e no acompanhamento da qualidade dos serviços municipais, assegurando atendimento mais integrado, ágil e eficiente. Uma cidade inteligente utiliza a tecnologia e a inovação para aumentar a acessibilidade, priorizando os canais de atendimento, assim como a capacitação e o treinamento técnico constante de seus servidores públicos.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Daniel Annenberg é formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Foi um dos idealizadores do Poupatempo, e seu superintendente por quase 10 anos; ex-diretor-presidente do Detran-SP, ex-Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia e atualmente é Vereador pela cidade de São Paulo.