Como lidar com “velhas agendas públicas” e esta nova pauta que logo fará parte da gestão pública brasileira.
Não me recordo de quando comecei a ser impactada pelo tema ESG nas redes sociais, mas desde o início de 2021 tenho lido e pesquisado sobre esta pauta e me questionado quando e como estes temas recaíram sobre a gestão pública brasileira.
A Pandemia, mais uma vez ela, trouxe à tona na gestão pública a iminente necessidade da transformação digital, da revisão orçamentária e da atualização das prioridades estratégicas. Com tudo isso, foi revelado o que podemos chamar de não avanços públicos em agendas já discutidas e até de certa forma enraizadas (no que tange ao menos aspectos teóricos) no dia a dia dos governos: inovação e sustentabilidade. As verticais que compõem o ESG, meio ambiente, social e governança já fazem parte da estrutura administrativa de todas as esferas governamentais e são temas extremamente transversais à sustentabilidade e à inovação. Então estamos falando da mesma coisa? Sob o meu ponto de vista, para governos, estamos falando da mesma coisa sob uma ótica estrutural diferente.
Pensemos a sustentabilidade sob os ciclos de relações entre as esferas econômicas (eficiência da economia, transparência e redução de desperdícios), sociais (políticas públicas, direitos humanos, investimentos socialmente responsáveis) e ambientais (reciclagem, emissões, energia, água). Agora partamos para o entendimento de que a inovação pode ser entendida com transformações incrementais ou disruptivas em processos, produtos e/ou serviços que gerem impacto econômico positivo. Neste contexto, entendemos que a inovação pode se comportar como fator propulsor do tripé econômico da sustentabilidade. Como você, de maneira simples, faria o “de-para” desta contextualização para as verticais do ESG? Parece simples. É simples.
Os governos por sua essência já tem a pauta ESG presente em suas competências institucionais com as políticas públicas praticadas nas verticais de meio ambiente, social e governança. Se os resultados são satisfatórios, visíveis ou positivos, esta é uma outra questão. O que é importante de ser dito é que tudo que está dentro da administração pública pode ser enxergado sobre estas verticais que pouco diferem do tripé da sustentabilidade. Acontece que ESG não consiste em apenas enxergar políticas públicas divididas desta forma.
O ESG está presente no campo empresarial como uma vantagem competitiva na atração de investimentos. Pontos que compõe as verticais são levados em consideração na tomada de decisão sobre onde investir e, por isso, empresas cada vez mais investem em processos que se relacionem à diminuição da emissão de gases, às ações de impacto social, às práticas cada vez mais constante de compliance e accountability. E se isso é praticado no mercado privado para atração de investimentos, não demorará para que as ações governamentais nestas verticais e seus impactos sejam avaliados para captação de recursos de fundos internacionais, por exemplo.
Os governos detêm a capacidade regulatória e indutória da difusão das práticas de ESG nas empresas, mas também podem se organizar administrativamente para cumprir esta pauta, baseados no tripé da sustentabilidade e da inovação, utilizando a Agenda 2030 e seus ODS como ferramentas prontas para balizar e medir o avanço das políticas públicas nas verticais ESG. Não é uma questão de esquecer preceitos e conceitos já trabalhados na administração pública, e sim, entender tudo isso como uma evolução constante da forma de gerir o Estado. Uma cidade inteligente deve ter essa ótica e estar preparada para um dia, quem sabe, elaborar um plano ESG de gestão pública.
Nos próximos artigos publicados nesta coluna tentarei destrinchar as verticais de ESG fazendo analogias às políticas públicas praticadas por cidades.
As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as opiniões do Connected Smart Cities
Head de Relações Governamentais do Colab, com ações nas áreas de cidades inteligentes e inovação na gestão pública. Atuou como secretária do Gabinete de Governança da Prefeitura Maceió e presidente do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, além de vice-presidente de Desenvolvimento Regional do Fórum Inova Cidades (Frente Nacional dos Prefeitos) e elaboração da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes.